A cidade universitária

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Surge a Unioeste[editar]

Uma crônica das lutas para criar

o ensino superior no Oeste do Paraná

Não se trata de uma história apenas de decepções, pois a luta que se desenvolveu também trouxe ótimos frutos. Eles começaram a ser colhidos a partir de 21 de março de 1964, quando a Associação Comercial e Industrial de Cascavel propôs ao Município de Cascavel a criação de uma Faculdade de Agronomia.

A 31 de março de 1964, a Associação Comercial e Industrial de Cascavel (ACIC) propôs ao Município de Cascavel a criação de uma Faculdade de Agronomia. Entretanto, como podemos verificar na breve história do Oeste do Paraná e mesmo do município, naquele momento histórico, havia muitas necessidades educacionais elementares que absorviam todos os recursos disponíveis. Assim, a idéia foi temporariamente sepultada. Segundo Maryane de Hollanda Jorge, o próximo passo foi dado por estudantes secundaristas da Escola Carola Moreira, de Cascavel, que em 1966 ou 1967 estiveram em Curitiba reivindicando a criação de um Curso Científico para Cascavel, pois na época, dizia-se ser o primeiro passo para se conseguir o Curso Superior. Estariam entre eles Sônia Grezzanna, Domingos Bortolatto, Heitor Othelo Jorge, Joroslava Zedebski, Darlan José Dall’Agnoll, Milton Pires Martins, Amélio dos Reis e Carmem Néia. Entretanto, as iniciativas para a criação do Ensino Superior em Cascavel, não ficariam restritas à atuação dos estudantes, que de fato, conseguiram a criação do Curso Científico em Cascavel, ocorrida em 1969, quando o Ginásio passou a ser Colégio Estadual Wilson Joffre.

   “No final de outubro de 1968, três professores do Colégio Estadual Wilson Joffre, em conversa de recreio, comentavam que Cascavel já comportava Ensino Superior. Todo mundo reconhecia a necessidade, só que ninguém sabia qual era o caminho, como poderiam ser criados cursos superiores. Esse grupo de professores (Marcos Cláudio Schuster, Ivo Oss Emer e Juarez Manoel Pereira Fernandes) começaram a discutir essas idéias, envolvendo outras pessoas da sociedade cascavelense.” [Ivo Oss EMER, Ensino Superior em Cascavel]

Ainda em 1968, a 28 de novembro, o vereador José Marcos Formighieri apresentou à Câmara Municipal de Cascavel o Projeto de Lei nº 101/68, com o objetivo de criar a Fundação de Ensino Superior de Cascavel. “Em 28 de novembro de 1968, a Câmara Municipal de Cascavel aprovou um projeto de lei que levou o nº 101/68, de autoria do Vereador Marcos Formigheri, criando a Fundação de Ensino Superior de Cascavel, que teria como finalidade inicial, criar, instalar e manter na cidade de Cascavel, uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, destinada a ministrar cursos de graduação, especialização, aperfeiçoamento e extensão, além de pesquisas pedagógicas, visando solucionar os problemas educacionais da Região Oeste do Estado. [Maryane de HOLLANDA JORGE, Fecivel - Do surgimento até os dias de hoje, p. 4.]

Houve então pouco entusiasmo em torno do assunto, pois na época havia muitas necessidades educacionais elementares que absorviam a maior parte dos recursos disponíveis. As lideranças empresariais entenderam então como urgente fazer um trabalho político junto às autoridades estaduais.

No entanto, foram os estudantes, no clima das agitações juvenis na França, em maio de 1968, que tomaram a tarefa para si. Era preciso, em primeiro lugar, criar o curso Científico no Colégio Estadual Wilson Joffre, que havia iniciado atividades em 1965.

Os estudantes foram em comissão a Curitiba, onde ouviram um conselho: lutar pela criação de um laboratório para viabilizar a criação do curso Científico. Os vereadores foram praticamente encurralados para aprovar a lei instituindo o laboratório.

Havia também a urgência de fazer um relatório sobre a realidade educacional e econômica da região para encaminhar à Secretaria de Estado da Educação. Nesse ínterim, foram ampliadas as salas do Colégio Wilson Joffre e em novembro a Câmara aprovou projeto do vereador José Marcos Formighieri criando a Fundação de Ensino Superior de Cascavel, que teria como finalidade criar, instalar e manter uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Estudantes e vereadores apertam[editar]

O prefeito Odilon Reinhardt sancionou a lei criando a fundação em dezembro, um de seus últimos atos como chefe do Executivo cascavelense.

Mas só em 10 de junho de 1969, com o retorno de Octacílio Mion à Prefeitura, houve um novo passo fundamental no sentido de instituir o ensino superior na região.

O vereador Luiz Picoli propôs ao presidente da Câmara, Horalino Bilibio, a constituição de uma comissão para reivindicar a criação da faculdade ao secretário da Educação, Cândido Martins de Oliveira, que em breve iria visitar a região.

O grupo era formado, além do próprio Picoli, por José de Oliveira e Elisa Vieira Simioni. Eles entregaram o pedido ao secretário Candinho durante o ato de inauguração do Colégio Wilson Joffre, no dia 13 de junho de 1969, anexando os dados sobre a realidade local coligidos previamente pelos vereadores.

“Luiz Picolli era o mais freqüente interlocutor. Foi líder estudantil, depois vereador. O pessoal da ACIC também foi decisivo. A população em geral era quem mais se interessava pela criação de Cursos Superiores, as famílias de classe média e média baixa da época que viam na escolarização de seus filhos uma possível alternativa de ocupação de espaços sociais de trabalho. Lembro bem dos irmãos Galafassi, do Élio Fauth. Na época existia muito oba, oba, (inclusive do Marcos Formighieri) ... é preciso Cursos Superiores em Cascavel, ... Cascavel merece, ... tem que ter curso superior... a turma falava..... falava .... mas quem ia atrás do como se faz, o que era preciso, sobrava para o Schuster, para o Ivo sentar e escrever.” [depoimento - Ivo mos Ivo Oss EMER ]

No dia 23 vinha a resposta: a Secretaria a Educação manifestou interesse na proposta e propunha marcar uma data para iniciar as tratativas em torno do assunto. A comissão parlamentar tratou de elaborar um alentado documento contendo dados completos sobre o potencial da cidade.

Toda a comunidade foi chamada a participar e assim foi composto o quadro dos cidadãos que iriam concretizar, finalmente, a vinda do ensino superior para a região.

Eram eles: Octacílio Mion (prefeito), Horalino Bilibio (presidente da Câmara), Marilis Pirotelli (inspetora de Ensino), Juarez Fernandes (diretor do Colégio Wilson Joffre), Alcides Pereira (advogado), Elci Santos de Oliveira (diretora da Escola Normal Irene Rickli), professora Dalva (Colégio Rio Branco), irmão Amadeus Boscardin (Colégio Marista), professores Luiz Antônio Bruscatto e Luiz Antônio Broetto, F. L. Sefrin Filho (Rádio Colméia) e Heitor Othelo Jorge (representante dos estudantes), além dos três vereadores integrantes da comissão especial pró-ensino superior: Luiz Picoli, José de Oliveira e Elisa Simioni.

Fecivel, embrião da Unioeste[editar]

Em novembro de 1969 já havia a decisão oficial do governo do Estado de instituir o ensino superior no Oeste do Paraná e em dezembro uma equipe da Secretaria da Educação do Estado veio a Cascavel com a missão de definir os passos necessários para dar início às aulas.

Enquanto na esfera administrativa estes fatos iam se desenrolando, Emer afirma que de maneira muito informal, aos sábados e domingos, na medida do possível, aquele grupo de professores do Colégio Estadual Wilson Joffre se reuniam, discutiam diversas questões referentes ao ensino superior e procuravam informações a respeito dos requisitos a serem cumpridos para obter a autorização de implantação de cursos superiores, isto é, que tramitações deveriam ser seguidas para criar faculdades. Ninguém sabia ao certo que tipo de documentos deveriam ser apresentados e a quem. Um dos principais problemas para a implantação de uma faculdade em Cascavel era demonstrar que havia a necessidade e a demanda para tal. Então o grupo de professores conseguiu que fosse feito um levantamento das condições sócio-econômicas de toda a região e após a conclusão daquele levantamento fizeram a tabulação dos dados e produziram uma síntese demonstrando a situação econômica e social de alguns municípios mais próximos de Cascavel. Já estávamos em 1970, quando em uma discussão a respeito da questão dos dados sócio-econômicos, conforme Emer168, foi citado um tradicional Contabilista de Cascavel - Élio Willy Fauth - que teria um bom arquivo de informações sócio-econômicas sobre Cascavel e região. Segundo tais informações, ele costumava recolher dados de Cascavel e região divulgados pelo IBGE, pelos jornais e diversas outras fontes. Com a valiosa ajuda desse profissional foi montado e impresso um Instrumento de Pesquisa.

“Eu (Professor Ivo Oss Emer) produzi, com ajuda de Élio Fauth, um instrumento de pesquisa socioeconômico e cultural de Cascavel e municípios próximos. Produzi e rodei em mimeógrafo a tinta esse instrumento de pesquisa. Devia ter 4 ou 5 páginas. Esse instrumento de pesquisa foi distribuído pelo Professor Marcos Cláudio Schuster. Nessas viagens aproveitava para fazer levantamento dos professores graduados existentes nesses municípios e que tinham condições de serem docentes da Faculdade.” [Ivo Oss EMER, Depoimento em meio eletrônico (e-mail).]

Depois de distribuído nos municípios próximos, e recolhido algumas semanas depois, o grupo de professores fez a tabulação dos dados e produziu uma síntese demonstrando a situação econômica e social de alguns municípios mais próximos de Cascavel Em março de 1970, teria sido criada a Comissão de Escolas Superiores do Oeste Paranaense, formada pelo prefeito Octacílio Mion, Juarez Fernandes (Colégio Wilson Joffre), radialista Sefrin Filho, professores Jaime Fabro e Marcos Cláudio Schuster, advogado Alcides Pereira e o estudante José das Graças Araújo, o Astorga. Outro fato ocorreria, ainda em 1970, para incentivar o trabalho daqueles professores envolvidos nas questões referentes à instalação do ensino superior em Cascavel. Chega à Cascavel o Professor Atílio Ortigara que, uns anos antes, tinha participado da criação da Faculdade de Zootecnia de Uruguaiana, RS. O Professor Atílio Ortigara passou a fazer parte do corpo docente do Colégio Estadual Wilson Joffre e como tinha demonstrado muito interesse, foi convidado e passou a fazer parte da equipe. Ele passouimportantes informações sobre as partes que deveriam constar do Projeto e para onde deveria ser encaminhado Desta forma, foi incorporado no grupo que já trabalhava pela criação dos cursos superiores em Cascavel.

Em março de 1970 foi criada a Comissão de Escolas Superiores do Oeste Paranaense, formada pelo prefeito Octacílio Mion, Juarez Fernandes (Colégio Wilson Joffre), radialista Sefrin Filho, professores Jaime Fabro e Marcos Cláudio Schuster, advogado Alcides Pereira e o estudante José das Graças Araújo, o Astorga.

Nesse clima, em maio seria criada a Universidade Estadual de Ponta Grossa. Estimulada pelo apoio que o governo do Estado dava ao ensino superior, que também nesse ano criou a Universidade Estadual de Maringá, a comissão remeteu à Secretaria da Educação o texto integral do processo de criação da Federação das Escolas Superiores do Oeste.

Finalmente, no final de julho de 1971 o Projeto para a implantação do ensino superior em Cascavel encontrava-se satisfatoriamente estruturado, portanto, foi entregue ao Poder Público Municipal - ao prefeito Octacílio Mion - para encaminhamento ao MEC.183A partir desse momento o projeto passa a ser acompanhado por assessorias que causaram alguns dissabores ao Poder Público Municipal e aos interesses da equipe de professores que tinham pensado e elaborado o Projeto de Ensino Superior em Cascavel.

Inicialmente, para facilitar a consecução dos objetivos referentes à implantação de uma faculdade em Cascavel, o prefeito Mion procurou assessoria técnica especializada através da contratação do Dr Guerino Ângelo Anselmi. Ainda buscando implantar a FUOP conforme a Lei nº 866/71, é nomeado o Conselho Diretor e respectivos suplentes, daquela Fundação. Eram eles: Attilio Ortigara (Presidente), Marcos Cláudio Schuster, Otávio Antônio Antoniassi, Juarez M. Pereira Fernandes, Luiz Albino Broeto, Tânia Maria Lancini, Luiz Renato Martins Mattos (Membros), Silvia Gomes Vieira Fabio, José Nicola Vedana, Luiz Antonio Bruscato, Antonio Reis, Joel de Locco e Antonio Ribeiro dos Santos (suplentes); e também o Conselho Fiscal composto por Fernando Ribeiro de Miranda, Luiz Picolli e Dilson Alves Bello.186O prefeito municipal Mion, continuava empenhado em concretizar o sonho da instalação do ensino superior em Cascavel.

Em setembro, a Assembléia Legislativa aprovava em turno único projeto do deputado estadual Roberto Wypych nesse sentido, dando origem à lei 6.160, que autorizava o governo do Paraná a criar três faculdades em Cascavel: Educação, Agronomia e Filosofia, Ciências e Letras.

Mas ficou no papel: inconformado, o professor Marcos Cláudio Schuster propôs em abril de 1971 a imediata criação da Universidade do Oeste, sendo ele o primeiro a propor o nome que veio futuramente a ser consagrado.

A Câmara e a Prefeitura fizeram a sua parte, tanto que em agosto estava criada a Fundação Universidade Oeste do Paraná. Ao mesmo tempo, em outubro, era criada a Universidade Estadual de Londrina e houve a necessidade de, nesse mesmo mês, refazer a lei que criava a FUOP.


Em novembro foi finalmente criada a Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cascavel (Fecivel), tendo o juiz Jamil Lourenço como primeiro diretor.

Muita gente se apresenta como defensor histórico do ensino superior na região, mas há pessoas que nunca são lembradas nos discursos e nas homenagens.

Seus nomes mereciam estar escritos com letras douradas, pois doaram uma importante e valorizadíssima área do perímetro urbano à Prefeitura de Cascavel para que nela fosse construído o campus da Fecivel, hoje Unioeste.

A doação se deu em 27 de março de 1972, em singelo ato no cartório Mion, por Agenor Miotto (1927−1993) e sua esposa Laurentina Laura Zandoná Miotto; Érico Bublitz e sua esposa Antônia; e Idília Xavier − os grandes beneméritos do ensino superior oestino.

Tolentino propôs federalização[editar]

A desunião regional pôs a perder a primeira luta por uma universidade federal

O prédio onde funcionaria a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cascavel foi construído pela Prefeitura no prolongamento da avenida Carlos Gomes e tinha entre 2,8 e 2,9 mil metros quadrados (há documentos oficiais contraditórios a respeito).

A Faculdade, que ainda não era conhecida como Fecivel, já estava criada, contava com vários cursos, possuía campus e prédio. Mas era pouco: além de se limitar apenas a Cascavel, a futura Fecivel era uma instituição estadual às voltas com as dificuldades reinantes na época − ditatorial − em que a União tudo podia e pouco fazia.

No dia 15 de maio de 1972 um decreto federal autorizaria o funcionamento da faculdade. O primeiro Vestibular aconteceu festivamente no final de junho e em 16 de agosto o governador Parigot de Souza, que era professor, proferia no Colégio Auxiliadora a aula inaugural dos quatro primeiros cursos da atual Unioeste, então Fecivel. Estava iniciada a era universitária na região.

No dia 05 de agosto de 1972, através do Edital nº 07/72, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cascavel, eram conhecidos os aprovados para o cargo de professores Auxiliares de Ensino: Pedro João Miotto e José Maria Manso Vieira (Sociologia Geral); Eumir Alves Rutkowski (Psicologia da Educação); Neusa Martins Lombardi (Filosofia da Educação); Leila de Almeida Locco (Biologia Educacional); Maria José Faria (História da Educação); Jamil Lourenço, José Maria Manso Vieira, Alcides Bonatto e Marcos Cláudio Schuster (Estudo de Problemas Brasileiros); Luiz Albino Broetto (Língua Latina); Bertolino Tenfem (Língua Francesa); Attilio Ortigara (Língua Portuguesa); Otávio Antônio Antoniassi (Teoria da Literatura); Maria José Mendes (Literatura Portuguesa); Vitoria Leda B. Formighieri (Lingüística); Elizabete Piccinelli (Física Geral e Experimental); João Carlos Guiotti (Fundamentos de Matemática Elementar); Silvia Gomes Vieira Fabro (Geometria Analítica); Edison Pietrobelli (Cálculo Numérico); Henrique Carrer (Cálculo Integral e Diferencial); Telemaco Ceriolli (Biologia Geral); Orley Cabrini (Zoologia); João Martinho Vieira (Botânica); Antônio Ribeiro dos Santos e Joel de Locco (Educação Física)

A aula inaugural da Fundação Universidade do Oeste do Paraná (FUOP) não seria o final da luta pelo ensino superior no Oeste do Paraná. Na verdade, tratava-se do começo de uma nova etapa.

Era, por exemplo, preciso construir uma sede para FUOP. Já havia uma área destinada ao funcionamento do campus: compunha-se de partes das chácaras 23, 24 e 33 do perímetro urbano, a primeira compondo a “cabeça” do Jardim Universitário. Foram 51 mil m² da primeira, quase 25 mil m² da segunda e 48,5 mil m² da terceira.

Em abril de 1973, o então vereador Fidelcino Tolentino propôs a federalização da Faculdade (que jamais foi, popularmente, chamada como FUOP, Fundação Universidade Oeste do Paraná).

Houve algum entusiasmo em torno do assunto, mas a proposta foi abandonada pela falta de união regional: o bairrismo carcomia qualquer esforço tendente a dar peso político ao Oeste.

A proposta seria retomada mais tarde e mesmo malsucedida representou o início da união regional.

Um decreto municipal de 1974, firmado pelo prefeito Pedro Muffato, aprovava os estatutos da Faculdade e trazia a comunidade de volta à reflexão sobre o destino de seu ensino superior.

O Município dava um novo passo, mas desta vez para trás, ao consagrar em lei, a 20 de junho daquele mesmo ano, a transformação da FUOP em Fundação Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel (Fecivel). O Município abandonava, com essa lei, o projeto original de criar a Universidade do Oeste.

Mas novos atos viriam. A colação de grau da primeira turma da Fecivel, em 16 de agosto de 1975, trouxe à discussão a existência de muitas limitações no ensino superior de Cascavel e sua inexistência em termos regionais.

A começar pelo fato de que os cursos sequer estavam reconhecidos.

Como o ano de 1976 era eleitoral, os reconhecimentos, via decretos federais, começaram a pipocar: em 13 de fevereiro foi o curso de Letras; em 17 de março, Pedagogia; 11 de maio, Ciências do Primeiro Grau.

Em meados de junho foi proposta, em parecer, a autorização aos cursos de Ciências Contábeis e Administração de Empresas. A autorização para estes últimos cursos não demorou: saiu em 6 de julho.

Foi, aliás, em 1976 que surgiu talvez o primeiro grande momento da retomada do projeto de regionalização do ensino superior. Coincidiu com a fundação da Coordenadoria das Associações Comerciais e Industriais do Oeste do Paraná (Caciopar), no dia 3 de abril.

O representante da Associação Comercial e Industrial de Toledo (Acit), então presidida pelo empresário Walmir Grande, propôs que as entidades empresariais da região defendessem a criação, instalação e funcionamento de uma “Universidade do Oeste do Paraná, velha aspiração e justa reivindicação de dezenas de municípios que congregaram a vasta e rica região Oeste”, como reza na ata de fundação da Caciopar.

As estruturas locais[editar]

Em 22 de setembro de 1977 a lei municipal 986/77 criava a Fundação Educacional de Foz do Iguaçu, um dos elementos constituintes da Universidade do Oeste. Em agosto de 1978 viria a Fundação Educacional de Marechal Cândido Rondon. Por essa época, em que se criavam as bases locais dos quatro campi originais da Unioeste, em novembro de 1978 era autorizado o curso de Enfermagem da Fecivel.

Novas autorizações vieram em abril de 1979 para o curso de Ciências Contábeis e Administração de Empresas e em julho para o de Engenharia Agrícola. Também em 1979 foi autorizado o funcionamento da Faculdade de Foz do Iguaçu, dirigida pela professora Hildegard Litzinger.

A Fundação Municipal de Ensino Superior de Toledo (Fumest), também uma das fontes originais da Universidade do Oeste, surge em janeiro de 1980. Em agosto, a Facitol, criada pela Fumest, já recebia autorização para funcionar e na Fecivel era implantado o curso de Ciências Econômicas, autorizado em setembro, mês em que também se realizou o primeiro exame vestibular da Facitol, cuja aula inaugural se deu em outubro.

Uma reunião do Conselho Estadual de Educação com a direção da Fecivel e Diretórios Acadêmicos em fevereiro de 1982 definiu a criação da Universidade do Oeste (Unioeste) enquanto algumas lideranças bairristas locais de Cascavel reagiam ao projeto multicampi com a proposta de transformar a Fecivel, de estadual, em “Universidade Municipal de Cascavel”.

O projeto foi abortado tanto em nível federal quanto estadual, pois era a época em que a criação de universidades estava fora de cogitação no aparelho educacional da ditadura. No final de 82, menos mal, foram reconhecidos os cursos de Enfermagem, Engenharia Agrícola e Ciências Econômicas.

Só em 1984 Cascavel começaria a perceber para onde o vento soprava: a proposta hegemônica era então a de federalizar a Fecivel e uma caravana foi a Brasília para reclamar a providência, mas voltou de mãos vazias.

Foi obrigada novamente a recorrer ao governo do Estado, desta vez para pedir a estadualização das quatro faculdades municipais que se esfalfavam para dar conta dos encargos cada vez mais altos da manutenção do ensino superior, quando o dever das prefeituras seria melhorar o ensino básico. A saída era, definitivamente, a união regional.

Em 30 de novembro de 1984 houve uma reunião em Toledo para definir uma nova tentativa de criar a Universidade Federal do Oeste: a entrega de documento ao então candidato à Presidência da República, Tancredo Neves mostrando a necessidade da instituição. O pedido foi entregue efetivamente a Tancredo em dezembro, quando o então candidato presidencial visitou o Paraná, mas o assunto morreu aí.

Aliás, o próprio Tancredo adoeceria e acabaria morrendo às vésperas da posse. Mesmo assim foi homenageado: a avenida Foz do Iguaçu foi rebatizada com seu nome pelo mesmo Fidelcino Tolentino que propôs a federalização. Uma injustiça com a cidade-mãe de Cascavel.


Região vence o bairrismo[editar]

As limitadas escolinhas municipais deram lugar a uma grande instituição

A Amop e a Assoeste, num encontro histórico em Guaraniaçu, em 1984, deram o tom que iria seguir afinado até a conclusão do processo de criação da Unioeste.

Se hoje o equívoco do bairrismo municipal se tornou símbolo de atraso e ignorância, foi em torno da Unioeste que a região conseguiu vencê-lo. Primeiro, com uma derrota: a luta pela federalização da Fecivel foi um fracasso em todas as ocasiões em que foi empreendida.

Restava como opção apenas pressionar o governo do Estado, sobretudo porque o governador José Richa havia sido eleito em 1982 pelo voto popular e tinha compromissos com a região.

E essa pressão cresceu, envolvendo a comunidade oestina e desaguando na Assembléia Legislativa, onde o deputado estadual Edgard Ribeiro Pimentel apresentou projeto para estadualizar a instituição em 1984.

Em agosto, mobilizada pela aprovação do projeto, a comunidade oestina provocou um tumulto na Assembléia quando, perplexa, assistiu à rejeição da matéria em plenário. Havia ainda margem para atuação, mas foi um golpe que abalou o ânimo até dos mais entusiasmados.

Aconteceram novas reuniões em fevereiro e março de 1985 para definir a abrangência regional do projeto. Se as iniciativas isoladas falharam, uma ação coletiva contaria com maiores chances de sucesso.

Em abril o projeto tomou corpo, sobretudo porque o Departamento de Assuntos Universitários e a Secretaria de Estado da Educação do governo Richa aderiram à proposta.


A essa altura, prevaleceu o espírito da histórica reunião de Guaraniaçu, unificando os esforços dos municípios, em torno da Amop, e da Assoeste para a verificação dos aspectos técnicos. O ingresso da Amop na luta e a adesão dos organismos de ensino superior do governo do Estado, contudo, ainda não haviam representado o fim da tendência federalizante.

Richa, na verdade, hesitava em criar uma instituição estadual. Sua estratégia foi apoiar a luta pela universidade federal e deixar na manga uma carta: em último caso, o Estado bancaria a Unioeste.

Foi assim que, apoiando o movimento oestino e a proposta da federalização, o ardiloso governador paranaense estimulou uma caravana de 500 integrantes da região a ir a Brasília exigir a Universidade Federal do Oeste.

Richa pretendia ter guardado a coisa em segredo, para que ninguém fizesse corpo mole na pressão ao governo federal. Mas ao ver que a mobilização havia conquistado maciçamente as lideranças oestinas, entusiasmou-se e acabou garantindo: se a federalização não passasse, ele garantiria a estadualização.

Brasília negou o pedido da comunidade oestina, como sempre fez em relação à Estrada do Colono e à extensão da ferrovia a Foz do Iguaçu e Guaíra. Com a frustração do sonho de criar a Universidade Federal do Oeste, a comunidade regional começou já em abril a preparar a documentação para a estadualização.

Com a palavra empenhada pelo governador José Richa no sentido de que se a luta pela federalização fosse frustrada ele defenderia a estadualização da Universidade do Oeste, o dia 8 de maio de 1986 iria marcar o primeiro grande passo nesse rumo.

Nessa data foi celebrado convênio entre o governo do Estado e os municípios-sedes das instituições superiores − Cascavel, Toledo, Foz do Iguaçu e Marechal Cândido Rondon − estabelecendo os mecanismos e compromissos mútuos para viabilizar a estadualização.

A primeira providência era a doação dos patrimônios ao Estado, condição prévia para a criação e implantação da nova instituição, pois na década de 70 já haviam surgido as universidades estaduais de Londrina, Ponta Grossa e Maringá.

Os passos finais[editar]

A estadualização da Unioeste reunia a Fecivel (Cascavel), Facisa (Foz do Iguaçu), Facitol (Toledo) e Facimar (Marechal Cândido Rondon). Com a celebração dessa união, que na prática era a união de esforços de toda uma região, seria imediatamente criada a Fundação Federação de Escolas do Ensino Superior do Oeste.

Os próximos passos foram rápidos e seguros, pois dependiam apenas da região: os quatro municípios-sede fizeram ainda antes do fim do ano a doação ao Estado de seus patrimônios ligados ao ensino superior.

No entanto, o governo Richa terminou em março e uma nova luta, desta vez diplomática, teve início no governo Álvaro Dias. Tudo já estava decidido e as providências elementares haviam sido tomadas: só restava a Assembléia Legislativa aprovar e o governador sancionar a lei criando a Unioeste.

A 4 de agosto de 1986 a Assembléia Legislativa cumpria sua parte no combinado, aprovando projeto de resolução que viabilizava a estadualização da Universidade do Oeste. A região também fazia sua parte: em novembro, Cascavel era institucionalizada como a cidade-sede da Universidade do Oeste, com o apoio dos campi de Foz do Iguaçu, Toledo e Marechal Cândido Rondon.

Tudo perfeitamente resolvido, ainda assim só em 25 de abril de 1987 o governador Álvaro Dias assinou o decreto criando a Universidade do Oeste. Que, aliás, criava formalmente mas não instituía na prática, providência decisiva que ainda demorou, vindo só a 16 de novembro de 1987.

Não era ainda a Unioeste pronta e acabada, pois havia decreto criando, medidas viabilizando, mas tudo ainda limitado ao papel.

Só começou a se tornar prática em fins de janeiro de 1988, como sempre um ano eleitoral. O decreto estadual nº 2.352 criava de vez a Fundação Universidade Estadual do Oeste do Paraná, pois regulamentava a lei específica de dezembro do ano anterior. O fato é que a partir daí a partir daí a instituição já existia.

Era preciso ainda estruturá-la, o que demorou mais um ano, até a posse da primeira diretoria da Funioeste, a instituição mantenedora da Universidade, em outubro.

Aí começava a última etapa das lutas históricas que deram origem à Unioeste: viabilizar recursos para o funcionamento da instituição em seus primeiros passos, ampliar o número de cursos, obter autorizações e reconhecimentos, consolidar a instituição, vencer os resquícios de bairrismo e encaminhar as obras de ampliação.

Finalmente, a 9 de fevereiro de 1992, também ano eleitoral, o decreto-lei estadual nº 9.896 transformava a Funioeste em autarquia. Estava definitivamente criada, implantada e em ação a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).

O último grande momento histórico da instituição foi a transformação do Hospital Regional Anita Canet em Hospital Universitário, em dezembro de 1994, cujas deficiências já sinalizavam para um rumo: novas lutas viriam e, aliás, continuam em curso ainda neste momento.

(Fonte: Alceu A. Sperança, jornal O Paraná, seção dominical Máquina do Tempo)

MARTIN, Edison - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ (UNIOESTE)ÉDISON MARTIN A GÊNESE DA FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE CASCAVEL (1968-1974) - 2006 - Cascavel.

Maryane de HOLLANDA JORGE, Fecivel - Do surgimento até os dias de hoje.