Eu (Augusto dos Anjos, 1912)/A um Carneiro Morto

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A um Carneiro Morto

 

Misericordiosissimo carneiro
Esquartejado, a maldição de Pio
Decimo caia em teu algoz sombrio
E em todo aquelle que fôr seu herdeiro!

Maldito seja o mercador vadio
Que te vender as carnes por dinheiro,
Pois, tua lã aquece o mundo inteiro
E guarda as carnes dos que estão com frio!

Quando a faca rangeu no teu pescoço,
Ao monstro que espremeu teu sangue grosso
Teus olhos — fontes de perdão — perdoaram!

Oh! tu que no Perdão eu symboliso,
Si fosses Deus, no Dia de Juizo,
Talvez perdoasses os que te mataram!