Marília de Dirceu/II/XVIII

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Não molho, Marília,
De pranto a masmorra
Que o terno Cupido
Não voe, não corra,
A i-lo apanhar.
Estende-o nas asas,
Sobre ele suspira,
Por fim se retira,
E vai-lo levar.

Se o moço não mente,
Os tristes gemidos,
Os ais lastimosos
Os guarda unidos,
Marília, c'os teus;
As lágrimas nossas
No seio amontoa,
Forma asas, e voa,
Vai pô-las nos Céus.

A Deusa formosa,
Que amava aos Troianos,
Livrá-los querendo
De riscos, e danos,
A Jove buscou.
As águas, que o rosto
Da Deusa banharam,
A Jove abrandaram,
Assim os salvou.

Confia-te, ó Bela,
Confia-te em Jove,
Ainda se abranda,
Ainda se move
Com ânsias de amor.
O pranto de Vênus,
Que obrou no pai tanto,
Não tem que o teu pranto
Apreço maior.