O homem que abriu caminhos

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Pompeu, o desbravador[editar]

Como seu ilustre homônimo, o general Pompeu, que ocupou Jerusalém e obteve inúmeras conquistas para o império romano, Manoel Ludgero Pompeu nunca foi barrado por obstáculos, por mais difíceis que eles se mostrassem. Sua família o apoiou em todas as frentes de pioneirismo e seus descendentes ainda hoje continuam mantendo esse espírito de descortinar novos horizontes e levar outras regiões ao progresso.

Gaúcho de Nonoai, filho de Florêncio e Maria Pompeu da Silva, Manoel Ludgero Pompeu já morava na região desde a década de 20. Saiu de Cantagalo, no interior da imensa extensão territorial de Guarapuava, para Foz do Iguaçu, mais tarde para Maringá, Catanduvas, novamente Foz do Iguaçu e finalmente Cascavel, tendo sido também juiz de paz em Candói (PR)

Casou-se em 1908 em Guarapuava com Idalina Rodrigues Pompeu, com quem teria 14 filhos, todos ativos participantes da epopéia de construção do Oeste paranaense por ele protagonizada. Aos 40 anos, em 1928, depois de desenvolver várias atividades, foi designado para exercer o cargo de subdelegado de Polícia de Distrito de Candói (Guarapuava).

Participou dos recenseamentos de 1940 e 1960, percorrendo cada palmo desta região. A presença de Pompeu nos primórdios do Legislativo cascavelense está em 14 de setembro de 1934, quando, residente em Foz do Iguaçu, foi nomeado pela Interventoria do Estado do Paraná para o cargo de “membro do Conselho Municipal”, que na época equivalia ao atual vereador. Foi assim que iniciou uma carreira política destinada a culminar com o processo de emancipação de Cascavel.


Com recursos próprios[editar]

Em 1949, depois de muitas idas e vindas, Pompeu decidiu fixar residência em Cascavel, sendo designado como “Intendente Distrital”, o equivalente mais tarde a subprefeito. Sua presença desbravadora se revelava na abertura de caminhos. Sem contar com qualquer tipo de máquina, rasgou a atual rua Paraná, dentre outras tantas atividades, em um ano de mandato. Com a emancipação do Município, da qual foi um dos artífices mais destacados, Pompeu voltou a concorrer à vereança, obtendo uma nova suplência.

Um dos seus grandes feitos realizou-se entre 1949 e 1950: em busca de uma ligação direta entre o Oeste e o Norte, fez a exploração, a locação e o desmatamento de toda a estrada que seguia de Cascavel ao Porto 1, passando por Melissa, Central Santa Cruz, Cafelândia, Iguaçuzinho e Nova Aurora, desta forma inaugurando a primeira ligação rodoviária com o Norte, até então inacessível, a não ser via Guarapuava.

Em 1954, utilizando exclusivamente recursos próprios, partiu do prolongamento da Avenida Carlos Gomes em direção ao Sul, abrindo picadas no sertão, encontrando a antiga linha telegráfica (levantada no início do século por Rondon) e chegou às margens do rio Iguaçu, no ponto em que hoje se localiza a sede de Capitão Leônidas Marques. Era a primeira tentativa de ligar a região de Cascavel ao Sul.

Era um destino traçado como os caminhos que abria. Ao fixar residência em Cascavel, em 1949, Manoel Ludgero Pompeu também estava assumindo o cargo de subprefeito do distrito. Sua principal tarefa se deu na abertura de caminhos rodoviários, uma das urgências da colonização.


Vivência política[editar]

O ano de 1951 seria de definições, sobretudo por também incluir no calendário as primeiras eleições municipais depois do longo “jejum” político imposto pela ditadura Vargas. Com a derrota do nazifascismo e o retorno do país a uma democracia limitada, mas que facilitava as pressões políticas das comunidades, a campanha eleitoral para a renovação das prefeituras e câmaras municipais (antes o preenchimento se dava através da nomeação pelas autoridades ditatoriais), esse caldo de cultura motivou a população de Cascavel a se apresentar como força perante o eleitorado, em busca de posições consistentes junto ao poder público de Foz do Iguaçu e na composição de sua Câmara de Vereadores.

Apresentaram-se como candidatos à vereança em nome do Distrito Administrativo de Cascavel os líderes Jacob Munhak, Francisco Stocker, Antônio Rodrigues de Almeida e Manoel Ludgero Pompeu. Todos empunhavam a bandeira da emancipação. Deles, quem não se elegeu ficou na suplência. De resto, o prefeito eleito, Francisco Guaraná de Meneses, havia se comprometido a apoiar a criação do Município de Cascavel e isso de fato ocorreu. Com isso, Manoel Ludgero Pompeu obtinha mais uma vitória comunitária, depois de já haver criado o Tuiuti Esporte Clube ao lado de outros pioneiros, inclusive seus filhos: a criação do Município de Cascavel.

Jornal, educação, biblioteca[editar]

Seus filhos, aliás, tiveram um desempenho extraordinário na conquista de muitos avanços comunitários. Quando, em 6 de maio de 1953, Celso Formighieri Sperança criou o primeiro jornal de Cascavel ─ o Correio d’Oeste –, Paulo Rodrigues Pompeu, o professor Dodô, era um dos integrantes do corpo editorial, ao lado de Lyrio Bertoli e Luiz Guiné e outros jovens da época. Nora de Manoel Ludgero, Aracy Lopes Pompeu foi uma das mais destacadas professoras de Cascavel, tendo dirigido na década de 50 o pioneiro Grupo Escolar que hoje é o Colégio Eleodoro Ébano Pereira, no qual criou a primeira biblioteca cascavelense.

As diversas tarefas de Manoel Ludgero Pompeu na abertura de caminhos mostram também que o primeiro prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, não se limitava às funções municipais, mas tratava de criar uma boa infra-estrutura para a região. Neves, aliás, sempre acompanhou o pai, Virgílio Formighieri, que foi um dos grandes responsáveis pela construção de diversos trechos da atual BR-277.

O Município de Cascavel era enorme, indo da margem Sul do rio Piquiri à margem Norte do Iguaçu. A construção da estrada Cascavel–Nova Aurora para Porto Um, por exemplo, foi feita por determinação de Neves aproveitando trechos de uma velha estrada estadual. O encarregado da obra foi um primo do prefeito, Mário Thomasi, de grande destaque na comunidade regional, especialmente como presidente do Tuiuti Esporte Clube.

A estrada estava completamente abandonada e Neves decidiu reaproveitá-la fazendo a reabertura. O primeiro empreiteiro foi Theófilo Wakin, que logo foi deslocado para outras tarefas e a obra em toda a sua extensão ficou ao encargo de Manoel Ludgero Pompeu, que não só aceitou a empreitada como deu conta dela da maneira mais rápida e completa possível.


“Senhor pontual”[editar]

Manoel Ludgero Pompeu era um homem afável, que encantava as pessoas com quem tratava dos mais diversos assuntos, desde administrativos até policiais. Miguel Silvino dos Santos, antigo serventuário da Justiça em Cascavel, conta que certa vez, quando acabava de ingressar nos quadros da Polícia Militar, os novos soldados foram postos em forma e ouviram um oficial dizendo: “Quem quer ir para Cascavel?” Miguel diz que imediatamente levantou a mão, “lembrando de um senhor muito pontual em seus negócios, a quem tive a honra de encontrar, o sr. Pompeu”.

A decisão imediata de Miguel de vir a Cascavel, mesmo sabendo que na época era uma região perigosa, uma condenação a se envolver com brigas entre jagunços e posseiros, deu-se porque ele conhecera um cascavelense inigualável: Manoel Ludgero Pompeu, com quem Miguel já havia trabalhado como “picadeiro”, abrindo caminhos pelo Paraná.

A família também cooperou de forma decisiva para que Cascavel conquistasse seu primeiro hospital. O médico Wilson Joffre não conseguia dar o atendimento que desejava a toda a população regional e propôs em assembléia no Tuiuti Esporte Clube que se a comunidade se organizasse, seria possível criar um hospital na cidade.

Quem lembra é Amadeu Pompeu, filho de Manoel Ludgero: “No princípio eu acreditava que comprando as ações, estava perdendo dinheiro. Com o passar do tempo verifiquei que aquele foi o melhor negócio de minha vida”. O hospital saiu e se tornou o pontapé inicial para a vastíssima estrutura de saúde de que Cascavel dispõe na atualidade.

Em meados da década de 50, Manoel Ludgero Pompeu, já designado pelo município de Cascavel para abrir suas estradas, na condição de empreiteiro, partiu, com recursos próprios, do prolongamento da atual Avenida Carlos Gomes, em Cascavel, em direção ao Sul, abrindo picadas no sertão. Encontrando a antiga linha telegráfica, Pompeu chegou ao rio Iguaçu, onde hoje se localiza o Município de Capitão Leônidas Marques. Foi a primeira tentativa conhecida de ligar diretamente esta região ao Sul, de onde se origina a maioria dos colonizadores da região.


Fundando a primeira cooperativa[editar]

Pioneiros que chegaram na década de 50 na região e viram as cooperativas de Missal e Cafelândia sendo criadas em 1963/64, pensaram que estas haviam sido as primeiras da região, mas estavam enganados. O pioneirismo do cooperativismo regional, como, aliás, em todas as áreas, coube a Foz do Iguaçu.

O passo inicial do cooperativismo regional foi dado, de fato, em 29 de maio de 1932 em Foz do Iguaçu, onde Manoel Ludgero Pompeu e outros 31 agricultores criaram a Sociedade Cooperativista Agrícola Ltda, tendo no Conselho de Administração Antônio Dotto (presidente), Sílvio Roratto, Antônio Alves Amaral, Martin Nieuwenhoff, Cristiano Waudscher, Carlos Kapfenberger, Balduíno Welter (diretor gerente) e Manoel Ludgero Pompeu (diretor tesoureiro). No Conselho Fiscal figuravam Júlio Pasa, Carlos Welter, Gregório Dotto, José Fritzen, Francisco Essich e Manoel Krahn.

Em 23 de outubro de 1963, depois de intensos arranca-rabos com intermediários que o acusavam de “padre comunista”, o padre Luiz Luíse reuniu os colonos e fundou a Cooperativa Consolata (Copacol) no distrito cascavelense de Cafelândia d’Oeste, hoje Município autônomo. Alguns meses depois, a 19 de março de 1964, foi criada a Cooperativa Comasil (depois, Cotrefal e finalmente Lar), em Missal, obra de 56 colonos.

A família de Manoel Ludgero Pompeu participou – e ainda participa – dos principais acontecimentos de Cascavel. Em 1960, por exemplo, Amadeu Pompeu fazia parte do primeiro Conselho Deliberativo da diretoria que fundou a Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Acic), ao lado de Wilson Joffre, Edo Peixoto, Ayrton Gérson de Camargo, Altivir Bragagnolo, Alceu Ivo Zanardo, Waldemar Bomm, Hermes Vezzaro, Jorge Pereira do Vale, Agenor Miotto, Antônio Damian e João Batista Leme Jr.

(Fonte: Alceu A. Sperança, jornal O Paraná, seção dominical Máquina do Tempo)