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A MÃE


Estava uma mãe muito afflicta, sentada ao pé do berço do seu filho, com medo que lhe morresse. A creancinha pallida tinha os olhos fechados. Respírava com difficuldade, e ás vezes tão profundamente, que parecia gemer; mas a mãe causava ainda mais lastima do que o pequenino moribundo.

N'isto bateram á porta, e entrou um pobre homem muito velho, embuçado n'uma manta d'arrieiro. Era no inverno. Lá fóra estava tudo coberto de neve e de gêlo, e o vento cortava como uma navalha.

O pobre homem tremia de frio; a creança adormecêra por alguns instantes, e a mãe levantou-se a pôr ao lume uma caneca com cerveja. O velho começou a embalar a creança, e a mãe, pegando n'uma cadeira, sentou-se ao lado d'elle. E contemplando o seu filhinho doente, que respirava cada vez com mais difficuldade, pegou-lhe na mãosinha descarnada e disse para o velho:

—Oh! Nosso Senhor não m'o hade levar! não é verdade? —