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ENEIDA. — LIVRO I.
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Em vivo terno agrado os olhos bellos:
Qual, pela indústria, com entalhos de ouro
Pário marmore, ou prata, ou marfim brilha.

De improviso á raínha e a todos clama:
625«Eis quem buscais, dos libyos vaos escapo,
Enéas sou. Ó tu que só tens mágoa
De tanto horror, que a nós de Troia restos,
Da Grecia escarneo, em terra e mar batidos,
Falhos de tudo, exhaustos, em teu reino,
630Em casa, nos recolhes e associas!
Nem pagar-te as finezas dignamente
Podêmos, Dido, nem os Phrygios todos
Quantos pelo universo peregrinam.
Se para os bons ha numes, he justiça,
635Pague-te o céo e a propria consciencia.
Que seculo feliz, que paes ditosos
Te houveram filha? Em quanto os vagos rios
Forem-se ao mar, em quanto em gyro a sombra
Vier do monte ao valle, em quanto o pólo
640Pascer os astros, onde quer que eu viva
Vivirá com louvor teu nome e fama.»

Dice; a dextra offerece ao velho amigo,
A sinistra a Seresto, e uns após outros,
A Gyas, a Cloantho, e aos mais guerreiros.

645Da presença do heroe pasma a Phenissa,
Tal successo a commove, e assim se exprime:
«Que fado te urge, ó filho da alma Venus,
A arduos perigos e a bravias plagas?
Es o Enéas que a deusa ao nobre Anchises
650Gerou de Simoente ás phrygias margens?
Bem me lembra que Teucro, expatriado,
Veio a Sidonia, para um novo assento,
Pedir a Belo ajuda: a opima Chypre
Já vencedor meu pae vastara e tinha.
655De Troia os casos desde então conheço,