Horto (1910)/Pombos mensageiros

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POMBOS MENSAGEIROS


A Amélia Moura



     Foi hontem, minha santa,
     A′ hora do sol posto:

                 (Quanta saudade, quanta,
                    Chorava no meu rosto!)

Transformados em pombos côr de neve,
Entraram-me a cantar pela janella,
A tua carta delicada e leve
E o beijo amigo que envolveste nella.

O′ que alegria para o coração
Onde a Saudade, sempre em flor, renasce!
A carta leve me pousou na mão
E o beijo amigo acarinhou-me a face.

E então, a rir, ó pomba idolatrada!
Eu transformei meu coração em ninho:
N’elle repousa a tua carta amada
E canta o beijo a aria do carinho.

Alto da Saudade, 31—5—1899