Revolução no caminho dos pioneiros

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1924,um ano de combates[editar]

A Revolução de 1924 vai marcar a região, com suas lutas e conseqüências.

O terreno de luta é transferido de São Paulo para a região de Cascavel, envolvendo habilidosos estrategistas militares tanto do lado governista como do revolucionário. Uma das mais importantes conseqüências das lutas de 1924 no Oeste do Paraná é o enfraquecimento das empresas que exploram a erva-mate, fator determinante no encerramento deste ciclo econômico.

Durante quase um ano inteiro as forças em luta asseguram seus suprimentos nos recursos destas empresas.

Os revolucionários tomam gado e mantimentos de sertanejos instalados na região e disto não escapa Antônio José Elias, há dois anos proprietário de uma faixa de terra em cujo perímetro se encontra a Encruzilhada dos Gomes, futura Cascavel.

Entre as muitas famílias prejudicadas pela ofensiva revolucionária no Oeste constam as de Theodorico Rodrigues da Cunha, Demétrio Julio de Amorim, Joaquim Pedro de Alcântara, Euzébio dos Anjos, José Leocádio de Souza, Manoel Persoski, Pedro de Paula Martins e Alípio de Souza Leal, que têm seus pertences seqüestrados e as moradias destruídas pelo fogo.

Fuga desesperada[editar]

Já nas primeiras luzes da Revolução Paulista, muitos sertanejos decidem recolher tudo o que podem carregar, fugindo para outras regiões ante a iminente descida das tropas revolucionárias de São Paulo.

Antônio José Elias, morador do hoje Cascavel Velho, teima em permanecer na sua terra e na sua propriedade junto à família. Não acredita na invasão da área pelas tropas de São Paulo.

Sabe que o governo do Paraná tomou precauções para conter o avanço paulista, fazendo construir o telégrafo até Lopeí e enviando à região o Regimento de Cavalaria Provisório – a primeira unidade militar paranaense motorizada.

O comandante das forças legalistas, coronel Dilermando de Assis, segundo Antônio José Elias está informado, segue rumo a Guaíra com o RCP engrossado também por policiais-militares e voluntários recrutados nos Campos Gerais.

As forças governistas paranaenses, no entanto, serão surpreendidas pelos revolucionários em Guaíra, para desespero de Antônio José Elias.

A luta se aproxima do rio Cascavel e as tropas paulistas, por ironia, instalam-se entre suas propriedades e cercanias da atual Toledo.

O relato de um participante[editar]

“O primeiro combate que nós tivemos foi na Rocinha, perto de Catanduvas. As torças legalistas de São Paulo atacaram a Rocinha mas não deixamos eles entrar.

“Ali foi baleado um soldado da Polícia de São Paulo e aí alguém disse: ‘Olha, vem um batalhão para cortar a retaguarda de vocês, comandado pelo Capitão Sarmento’. Newton Estillac Leal ordenou o recuo a Catanduvas, para não sermos sitiados na Rocinha. Quando estávamos passando num lugar chamado Vinte-e-Quatro, para lá de Catanduvas, saíram o capitão Sarmento e sua tropa atrás de nós” (Eduardo Agostini, voluntário da Revolução Paulista).

Invadido o Oeste, chega a Guarapuava o general Cândido Mariano da Silva Rondon, organizando a frente de luta contra os revolucionários.

Quando enfim os combates chegam a termo, os sertanejos antes prósperos estão em situação de completa miséria. Muitos perderam tudo o que tinham.

Restabelecida a ordem, já em 1925, com a vitória das tropas legais e a fuga dos derrotados revolucionários, que se unem aos homens da Coluna Prestes, os carroções dos colonizadores voltam a transportar erva-mate e a trazer ítalo e teuto-gaúchos, assim como os filhos dos poloneses catarinenses.

Quanto à empresas estrangeiras, com suas propriedades destruídas pelas batalhas e tendo se posicionado francamente ao lado dos revolucionários, declina sua influência e encerra-se o ciclo do mate. Surgem pequenas serrarias e cresce a produção de milho e a criação de suínos.

O ciclo de lutas[editar]

A Revolução de 1924 registra lutas marcantes, tendo por palco a região inteira, de Guaíra a Catanduvas, onde ocorre o combate final, passando por Foz do Iguaçu e pelo rio Cascavel.

Tem início quando Arthur Bernardes inutilmente procura restabelecer a ordem desfeita pela campanha sucessória à presidência da República. Os movimentos de 1922 (São Paulo) e 1923 (Rio Grande do Sul) deságuam nesses dois Estados em uma nova revolução.

É um movimento tenentista liderado por Isidoro Dias Lopes, Miguel Costa, João Cabanas e Joaquim Távora. Os primeiros tiros são disparados na madrugada de 5 de julho de 1924, com a tomada de São Paulo três dias após. Os 3.500 revolucionários, porém, não resistem ao cerco imposto por 14 mil homens das tropas legais e empreendem fuga por Bauru.

Assim, praticamente derrotados, os revolucionários tentam se instalar no Mato Grosso, na intenção de prolongar a luta aguardando as tropas que virão do Sul em apoio, na Coluna Prestes, mas são repelidos pelas forças governistas.

Descendo pelo Rio Paraná até Guaíra, deslocam-se até a região do rio Cascavel e Catanduvas.

A estratégia dos sublevados se tornaria vitoriosa não fosse a fidelidade do governador paranaense Caetano Munhoz da Rocha ao governo Federal.

Ordem: capturar os chefes[editar]

Para combater os revolucionários paulistas as forças araucarianas são reunidas na Coluna de Operações do Sul, que envia o Regimento de Cavalaria Provisório, formado por 150 homens, a marchar rumo ao Oeste. Tem a missão específica de capturar os chefes rebeldes.

O Regimento é comandado pelo coronel Dilermando Cândido de Assis, que depois de reunir voluntários em Ponta Grossa deixa esta cidade no dia 27 de julho.

O RCP passa por Catanduvas e alcança a atual Santa Tereza – na época apenas um depósito da Companhia Domingos Barthe, deslocando-se até a Picada do Benjamim (Céu Azul).

Chegam a Santa Helena a 2 de agosto. Deslocam-se pelos trilhos da estrada de ferro da Companhia Matte Laranjeiras rumo a Guaíra, onde chegam a 4 de agosto.

No povoado de Guaíra, recebem informações de São Paulo segundo as quais os revolucionários ainda não deixaram aquele Estado. O Coronel Dilermando de Assis desloca então a tropa a portos paulistas e a 23 de agosto trava o primeiro combate com os revolucionários naquele território.

Paulistas resistem bravamente[editar]

Os paulistas, comandados pelo general Isidoro Dias Lopes, resistem com seus três mil homens por alguns dias em terras bandeirantes.

Descem finalmente ao Mato Grosso pelas ferrovias paulistas e procuram atingir o Rio Paraná, buscando ligação com os simpatizantes sulistas. Em Mato Grosso, todavia, esbarram na reação das tropas governistas.

Frustrado o objetivo de se instalar em Mato Grosso, resta-lhes somente a via fluvial rumo ao Sul.

Descem por ela 500 homens na linha de vanguarda revolucionária sob o comando do Coronel João Francisco. Apresam cinco navios da Companhia de Navegação São Paulo – Mato Grosso e se apoderam dos portos bandeirantes onde as tropas paranaenses do coronel Dilermando estabeleceram posições defensivas.

Dobram a resistência das forças legalistas do Paraná e dirigem-se a Guaíra, onde se alojam com o respaldo da Companhia Matte Laranjeiras.

A ocupação do Oeste[editar]

Em seguida, um batalhão desce até a encruzilhada, via Lopeí, ocupando toda a região entre os rios Cascavel e Toledo.

“Face ao atraso do grosso das forças revolucionárias cerrarem sobre Guaíra, o comando da vanguarda revoltosa retomou a progressão para Leste e Sul. Determinou ao pelotão da cavalaria prosseguir para Catanduvas e ao batalhão comandado pelo capitão Juarez Távora partir de Porto São Francisco para conquistar Foz do Iguaçu. Determinou também ao outro batalhão de vanguarda sob o comando do major Nélson de Meio, deixando apenas pequena guarnição em Guaíra, deslocar-se para Porto São Francisco, de onde devia destacar uma companhia para Cascavel, a fim de apoiar os reconhecimentos lançados pela cavalaria na direção de Catanduvas. Após a chegada do restante da Divisão Revolucionária a Guaíra o coronel João Francisco ordenou o deslocamento para a região de Cascavel e Depósito Central, atual localidade de Santa Tereza, de todo o Batalhão Nélson de Melo, reforçado por duas companhias que vieram de Foz do Iguaçu” (Dias de Luta no Oeste do Paraná, Ney Salles).

Com o dispositivo então montado pelo coronel João Francisco, a vanguarda revolucionária barraria em Catanduvas qualquer investida governista na direção Oeste.

“Lançou também para Leste ao longo da rodovia Guarapuava Foz do Iguaçu destacamentos de segurança a fim de alertar a posição quanto à presença da tropa federal. Estes acabaram por chocar-se com a tropa legalista na Serra do Medeiros.

“Enquanto isto se passava com a vanguarda, o grosso das forças revolucionárias cerrava sobre Catanduvas a coberto da tropa que aí já se encontrava. Agora poderiam os revoltosos paulistas tentarem prosseguir a luta depois de estabelecer a junção com os rebeldes gaúchos que se aproximavam do rio Iguaçu vindos do Sul. (...)

Missão: retardar os rebeldes[editar]

“Após estabelecido o contato na foz do rio Paranapanema, o Regimento Dilermando iniciou o retardamento dos rebeldes. Essa operação permitiria que as tropas federais sediadas no Paraná e que se deslocaram para São Paulo retornassem ao Estado e marchassem ao encontro dos revoltosos. Isso de fato aconteceu no combate de encontro entre as forças adversas que se feriu em Catanduvas.

“Os movimentos dos revoltosos ao longo do Rio Paraná em direção ao Sul não foram realizados sem combates. Entre Porto São José e Porto Mendes, trajeto normalmente feito em dois dias, tiveram os revoltosos inúmeras baixas, deserções e o atraso de uma quinzena.

“Destacam-se nesse trecho o encontro em Porto São José, a defesa de Guaíra e o retraimento até Porto Mendes. A posição de Porto São José contava com dois postos avançados. Um no Porto São João na margem mato-grossense e outro na foz do Rio Paranapanema. Foi este que na noite anterior ao ataque dos revoltosos alertara o Coronel Dilermando quanto à presença do inimigo levando-o a desembarcar em Mato Grosso.

O recuo paranaense[editar]

“Após o desembarque dos revoltosos investiram sobre Porto São João, tendo o destacamento e a guarda da ilha entre Porto São João e Porto São José recebido ordem de retraírem pelo rio para o lado paranaense.

“Conquistado o Porto São José os revoltosos iniciaram com a artilharia o bombardeio de Porto São José, buscando abordá-lo frontalmente. Face as posições vantajosas dos legalistas nesse ponto, os rebeldes subiram o rio Paraná a coberto das ilhas existentes e adentraram o rio Paranapanema. Aí toparam com um posto avançado que ofereceu tenaz resistência mas teve que retrair. Após desembarcarem, iniciaram a marcha por terra sobre Porto São José tentando cercá-lo.

“Determinou o Coronel Dilermando o retraimento para posições mais ao Sul do Porto, dando continuidade aos combates que já duravam mais de cinco horas. Sentindo aumentar a pressão sobre suas posições, decidiu então romper o contato, embarcando nos navios da Companhia Matte Laranjeiras. Nesse primeiro encontro o regimento não ofereceu nenhuma baixa entre seus 92 integrantes.

Vigias traíram legalistas[editar]

“Chegando a Porto Dom Carlos e Porto Camargo providenciou entre os habitantes locais vigias que deveriam avisar Guaíra quando os rebeldes passassem pelos dois portos. Estes vigias acabaram por solidarizarem-se aos rebeldes. “Já em Guaíra foram guarnecidas posições anteriormente preparadas no canal do Pacu, na foz do Rio Piquiri, nas alturas que dominam o porto e ao longo dos trilhos da Estrada de Ferro Matte Laranjeiras.

“O canal do Pacu foi minado cabendo essa missão ao tenente Aristóteles Xavier que também comandava a guarnição da ilha do mesmo nome.

“Contando com a colaboração de guias locais, fácil foi aos revoltosos atacarem de surpresa a guarnição da ilha do Pacu. A resistência oferecida pelos seus defensores alertou Guaíra quanto à aproximação dos rebeldes.

“Apesar do nevoeiro matinal aos atacantes foram tomados por fogos a partir do porto, contudo conseguindo desembarcar elementos ao Norte da cidade.

Recurso extremo: danificar a ferrovia[editar]

“A guarnição local retraiu sob pressão do porto para a praça Mendes Gonçalves e ao longo dos trilhos da estrada de ferro. Imediatamente os revoltosos passaram a hostilizar a posição pelos flancos a partir do cemitério e dos armazéns da Companhia Matte Laranjeiras

“Face a iminência do cerco o coronel Dilermando determinou o embarque do restante da tropa na composição ferroviária que havia mandado preparar para o retraimento.

“Pretendia o coronel Dilermando impor um retraimento no arroio Zororó, não sendo possível destruir a ponte dada a perseguição encetada pelos revoltosos.

“Outra tentativa poderia ser feita no arroio Guaçu mas também isto não foi realizado face ao risco da tropa ser aferrada ao terreno. Recorreu então o coronel Dilermando ao recurso supremo mandando desengatar os últimos vagões da composição a fim de obstruir a linha. Graças a este artifício os remanescentes do regimento atingiram Porto Mendes aí embarcando no vapor Iberá com destino a Foz do Iguaçu.

Avanços a Foz e Cascavel[editar]

“Apossando-se de Porto Mendes a vanguarda revolucionária imediatamente avançou com um batalhão sobre Foz do Iguaçu e outro sobre Cascavel através da Colônia Lopeí.

“Não restava ao coronel Dilermando outra solução que a de internar-se com o restante de sua tropa na Argentina. Essa decisão foi tomada face a impossibilidade de ser cortada a retirada na direção de Ponta Grossa caso seguisse por terra ao longo da rodovia estratégica Guarapuava–Foz do Iguaçu.

“Pouco depois Foz do Iguaçu caiu em mãos dos revolucionários. Como represália aí foram fuzilados sob alegação de simpatizantes à causa governista o tabelião local Franklin Sá Ribas, o sargento Hartmann, integrante do regimento do Coronel Dilermando e seis empregados da Companhia Matte Laranjeiras” (Ney Salles).

“Quando eles chegaram aqui todo mundo teve que fugir, toda a cidade foi saqueada e dominada por vários meses. Houve até fuzilamento. Um habitante daqui que fugiu, como todos, para o Paraguai, voltou para apanhar alguns objetos, inclusive uma faca, e uma outra pessoa que tempos atrás tinha uma rixa com ele falou para o chefe dos revolucionários que estava roubando facas para levar até o Paraguai. Este oficial que estava no comando, certamente era um maluco, prendeu-o e mandou fuzilá-lo. Aquilo foi um absurdo. Inclusive o comandante da coluna quando chegou aqui, mandou castigar o oficial que cometeu aquele crime. O fuzilado chamava-se Franklin Sá Ribas. A família dele mais tarde foi indenizada pelo Governo” (Ottilia Schimmelpfeng, depoimento ao jornal Hoje-Foz).

O reduto de Catanduvas[editar]

“Com a chegada das tropas rebeldes, Catanduvas tornou-se o baluarte da revolução. Sua localização, a cavaleiro da única via de penetração que de Guarapuava conduzia a Foz do Iguaçu, fechada a porta do Oeste paranaense. A posição defensiva estava apoiada no Rio Adelaide e guarnecida pelas brigadas Bernardo Padilha e João Francisco.

“Contava com destacamentos de segurança no flanco direito em Cajati e no flanco esquerdo em Centenário e Fazenda Floresta. Além dessa segurança aproximada, foram lançados conhecimentos para o Norte na direção de Colônia Santa Cruz e para Leste ao longo da Rodovia estratégica.

“Na região de Rio do Salto localizava-se o Quartel General e a Brigada Miguel Costa, reserva da Divisão Revolucionária. O encontro entre os revoltosos e legalistas ocorreu às margens do rio Bormann, quando o destacamento de reconhecimento que partira de Belarmino vasculhava a Serra do Medeiros. Aí já se encontrava instalado o 13˚ RI.

Meses de cerco[editar]

“O comandante revoltoso major Nélson de Melo teve dificuldades para desengajar sua tropa. Mesmo assim conduziu uma ação retardadora ocupando posições sucessivas no Rio Medeiros e Alto do Polaco até chegar em Belarmino. Isto permitiu alertar a posição defensiva quanto à presença da tropa federal e ocupar postos avançados em Belarmino.

“Os governistas iniciaram então os reconhecimentos para o assalto às posições de Belarmino. Atacaram-nas em três frentes, depois de fortíssimo bombardeio de artilharia. Após três dias de lutas os revoltosos retornavam para Catanduvas” (Ney Salles).

“Aí nós nos entrincheiramos em Catanduvas. Ali ficamos seis meses, debaixo de balas. Naquele tempo havia duas ou três casas lá. E nós vivíamos em barracas. Lembro-me que nesse tempo houve um combate duro, quando tropas policiais da Bahia atacaram a Fazenda do Gomes, onde estava a tropa do João Cabanas. Ele saiu e tomou a localidade de Formiga, à frente de uns 200 homens. Lá o combate também foi duro, tanto que morreram uns 25 oficiais e sargentos. Durante o cerco a Catanduvas também morreu muita gente” (Eduardo Agostini).

O cerco de Catanduvas dura meses. Para os revolucionários, é preciso retardar ao máximo a luta, à espera da coluna gaúcha que lentamente se aproxima do Rio Iguaçu. Apesar do longo assédio dos governistas à posição bombardeada constantemente pela artilharia, resistia a todas as investidas, desde novembro de 1924.

Entrando no segundo ano[editar]

Vive-se já o mês de março de 1 925. Ao Oeste paranaense continuamente chegam tropas governistas agora sob o comando do general Rondon. O ardor combativo dos rebeldes perde ímpeto.

“Em fins de março as tropas governistas investiram Catanduvas de frente e pelo flanco sul. Embora impossibilitados de barrar a progressão nesse flanco com um contra-ataque, trataram os rebeldes de dificultá-la metralhando os elementos que despontavam nas orlas da mata. Não foi possível, contudo, apoiar a retirada dos defensores de Catanduvas, os quais renderam-se na noite do dia 29 de março. Escaparam apenas o QG e os elementos que se encontravam na região de Rio do Salto e no flanco Norte em Campanário.

“O 6˚ Regimento Provisório do Rio Grande do Sul veio de lá e atacou Cajati, enquanto a força baiana atacava a Fazenda dos Gomes. Foi aí que eu tirei Estillac Leal, Filinto Müller, Nélson de Meio e o Távora e levei para o Paraguai. (...) As forças do governo estavam na Fazenda Gomes e no rio Tormenta brigando com a tropa de João Cabanas e numa noite eu e o tenente Domingos viemos de Catanduvas, a pé, até o rio Tormentinha, para ver se havia inimigos ali. Não tinha ninguém. Paralelamente ao rio Tormenta havia uma picada que saía na Linha Velha. Quando constatamos que não havia ninguém voltamos ligeiro e avisamos o pessoal: ‘Vamos embora, que dá pra gente sair’. E foi isto que aconteceu: quando clareou o dia, nós saímos na linha Velha. De lá, varamos até Foz do Iguaçu” (Eduardo Agostini)

“Após a rendição de Catanduvas trataram os revoltosos paulistas de retardar o avanço governista sobre o eixo Catanduvas–Cascavel–Benjamin–Foz do Iguaçu, a fim de permitir a junção com a coluna gaúcha que tendo transposto o Rio Iguaçu marchava para o entroncamento de Benjamin.

A rendição e a Coluna Prestes[editar]

“A missão impunha a organização de resistências sucessivas. Comandava a força de cobertura o capitão Juarez Távora. A primeira dessas resistências foi organizada na região de Rio do Salto, a fim de garantir o escoamento dos elementos que se retiravam de Centenário.

“A 5 de abril era atingida Cascavel e dois dias depois estava organizada nova posição defensiva a sudeste do Deposito Central, atual Santa Tereza. Era guarnecida por um batalhão de infantaria, um pelotão de cavalaria e uma seção de artilharia. Essa posição devia cobrir o escoamento da coluna gaúcha pela estrada de Santa Helena.

“Após a junção dos remanescentes paulistas com a coluna gaúcha, os governistas abordaram Santa Tereza havendo daí se retirado os rebeldes nas direções de Santa Helena e Foz do Iguaçu “(Ney Salles).

“Entre todos, os homens da Coluna Prestes e revolucionários de São Paulo eram 1.200 homens” (Eduardo Agostini).

Os movimentos finais[editar]

“A tropa legalista seguia os revoltosos nas direções Cascavel–Lopeí, Cascavel–Benjamin e ao longo da rodovia estratégica. Nessa ocasião ocorreu em condições misteriosas a morte do capitão Leônidas Marques no acampamento governista estabelecido entre Cascavel e Benjamin mais ou menos região que hoje leva seu nome.

“A partir do entroncamento de Benjamin o grosso da coluna revolucionaria retirou-se para Porto Artaza–Porto Mentes, enquanto um esquadrão da cavalaria procurava atrair a tropa legalista na direção de Foz do Iguaçu. Este acabaria por internar-se no Paraguai através de Porto Franco, não conseguindo iludir o adversário.

“Concentrada agora entre Porto Artaza e Porto Mendes a divisão revolucionária fez duas desesperadas tentativas, uma para conquistar Guaíra não sendo bem sucedida, a outra para diminuir a pressão sobre Porto Artaza, o que foi conseguido. Logo após, dispondo de dois navios, um de cada porto, os revoltosos transpuseram o rio Paraná e internaram-se no Paraguai em Porto Adela.

“Durante dois dias atravessaram o rio cerca de mil homens, seiscentos animais, todo o material bélico e mantimentos para a marcha através do território paraguaio. Terminavam desta forma as operações contra-revolucionárias no Oeste paranaense e que duraram dez meses consecutivos.” (Ney Salles).

A Coluna Sul, que ao se juntar com a Paulista se tornaria a Coluna Prestes, não chegou ao Paraná a tempo de levar os revolucionários paulistas à vitória, e em sua marcha apressada pelas terras do Oeste foi obstaculizada pelo exército particular da empresa argentina Julio T. Allica, mas conseguiu evitá-lo e depois de uma longa marcha pelo interior do Brasil internou-se na Bolívia e se dispersou.

(Fonte: Alceu A. Sperança, jornal O Paraná, seção dominical Máquina do Tempo)