A Canção de Romeu
Abre a janela... acorda!
Que eu, só por te acordar,
Vou pulsando a guitarra, corda a corda,
Ao luar!
As estrelas surgiram
Todas: e o limpo véu,
Como lírios alvíssimos, cobriram
Do céu.
De todas a mais bela
Não veio inda, porém:
Falta uma estrela... És tu! Abre a janela,
E vem!
A alva cortina ansiosa
Do leito entreabre; e, ao chão
Saltando, o ouvido presta à harmoniosa
Canção.
Solta os cabelos cheios
De aroma: e seminus,
Surjam formosos, trêmulos, teus seios
À luz.
Repousa o espaço mudo;
Nem uma aragem, vês?
Tudo é silêncio, tudo calma, tudo
Mudez.
Abre a janela, acorda!
Que eu, só por te acordar,
Vou pulsando a guitarra corda a corda,
Ao luar!
Que puro céu! que pura
Noite! nem um rumor..
Só a guitarra em minhas mãos murmura:
Amor!...
Não foi o vento brando
Que ouviste soar aqui:
É o choro da guitarra, perguntando
Por ti.
Não foi a ave que ouviste
Chilrando no jardim:
É a guitarra que geme e trila triste
Assim.
Vem, que esta voz secreta
É o canto de Romeu!
Acorda! quem te chama, Julieta,
Sou eu!
Porém... Ó cotovia,
Silêncio! a aurora, em véus
De névoa e rosas, não desdobre o dia
Nos céus...
Silêncio! que ela acorda...
Já fulge o seu olhar...
Adormeça a guitarra, corda a corda,
Ao luar!