A Sciencia do Bom Homem Ricardo
A SCIENCIADO
BOM HOMEM RICARDOOU
MEIOS DE FAZER FORTUNA
POR
BENJAMIN FRANKLIN
BAHIAVENDE-SE
NA LIVRARIA DE CATILINA & C.
Rua Nova do Commercio n. 21. 1863 |
A SCIENCIA
BOM HOMEM RICARDO
BENJAMIN FRANKLIN
BAHIA
Rua Nova do Commercio n. 21.
1863
A SCIENCIA
BOM HOMEM RICARDO
Sempre ouvi dizer que para um author nada era tão agradavel, como ver as suas obras citadas por sabios escriptores. Assim o leitor julgará qual seria o meu prazer, por Occasião do successo que vou referir.
O outro dia passando a cavallo por um lugar onde havia muita gente junta, para uma venda publica, parei ahi. Em quanto não chegava a hora, a sociedade conversava sobre a dureza dos tempos; e um dos circumstantes dirigindo-se á um ancião respeitavel, que lá estava, lhe disse :
« E vós, pai Abraham, que pensaes destes tempos? Não estaes de accordo, em que o peso dos impostos ha de vir a destruir este paiz totalmente? Como é possivel pagal-os. Ou que se ha de fazer neste caso! » O pai Abraham, depois de algum tempo de reflexão, disse: « Se quereis saber o meu modo de pensar, eu o direi em poucas palavras : porque para o bom entendedor basta meia palavra. » Toda a gente se dispoz para ouvir o velho Abraham, e elle fallou nestes termos :
« Meus ricos amigos e visinhos, é certo que os impostos são mui pesados : todavia se não tivessemos de pagar senão aquelles a que nos obriga a lei, poderiamos facilmente occorrer á esta necessidade; mas nós temos outros ainda mais pesados, a saber : o imposto da nossa preguiça que nos custa o dobro da taxa do governo ; o nosso orgulho nos custa tres vezes mais ; e a nossa loucura nos custa quatro vezes mais. Estes impostos são taes, que não é possivel aos exactores fazer a menor diminuição : todavia se quizermos abraçar um bom conselho, ainda ha esperança de melhorarmos; porque diz o bom homem Ricardo, no seu sta Almanak de 1733 : Deos disse ao homem — Ajuda-te á ti mesmo, ou trabalha, e eu te ajudarei. »
1. « Se existisse um governo, que obrigasse os subditos a darem regularmente a decima parte de seu tempo ao serviço publico, havia de achar-se esta condição mui dura, mas nós pela maior parte somos collectados por nossa preguiça de um modo muito mais pesado. Porque, se vós calculardes o tempo que passaes na ociosidade absoluta, isto é, sem fazer nada, ou em dissipações, achareis que eu digo a verdade. A ociosidade traz comsigo incommodos, e encurta sensivelmente a duração da vida.
O bom homem Ricardo diz, que que ella é semelhante á ferrugem, que consome muito mais, do que o uso e o trabalho : a chave de que se usa muito está sempre limpa. Mas se amaes a vida, diz outra vez o bom homem Ricardo, não desperdiceis o tempo, porque elle é o estofo da vida. Quanto tempo não damos nós ao somno além do necessario? Não nos esqueçamos de que a raposa que dorme, não apanha gallinhas. Se o tempo é o mais precioso dos bens, desperdiçal-o é a maior das loucuras, diz o bom homem Ricardo ; pois diz elle em outro lugar, o tempo perdido não se recupera, e o que nós dizemos, tempo bastante, sempre é pouco. Por tanto tenhamos coragem, e trabalhemos em quanto pudermos. Empregando actividade, faremos mais obra, e com menos que trabalho. A preguiça faz tudo difficil, em quanto o trabalho faz tudo facil : aquelle que se levanta tarde, agita-se o resto do dia e apenas começa o seu trabalho chega a noite. A preguiça anda tão devagar , que a pobreza logo a apanha. Deitar e levantar cedo dá saúde, contentamento, e dinheiro. »
« Que querem dizer os desejos, e as esperanças de tempos mais felizes? Está na nossa mão tornar o tempo mais feliz, fazendo bom uso delle. O trabalho não tem necessidade de desejos. Quem vive de esperança, expõe-se ao perigo de morrer de fome : não ha proveito sem custo. É mister servir-me das minhas mãos, porque não possuo terras : ou se as possuo, porque estão mui carregadas de impostos : e como diz muito bem o bom homem Ricardo, um officio vale tanto como um fundo em terras ; uma profissão é um emprego, que une honra e proveito. Mas é preciso trabalhar pelo seu officio, e exercer a sua profissão, porque de outro modo, nem o fundo em terras, nem os empregos ou profissões nos ajudarão a pagar os impostos. Quem for laborioso não tem que receiar a penuria: porque a fome olha para a porta do homem laborioso, mas não se atreve a entrar. Os exactores e os officiaes de justiça tambem não tem lá que fazer; porque o trabalho paga as dividas, e a ociosidade as augmenta. Não é necessario achar thesouros, nem herdar os, de parentes ricos. A actividade, como diz o bom homem Ricardo, é a mãe da prosperidade, e Deos ajuito da á quem trabalha. Trabalhai em quanto o preguiçoso dorme; e tereis pão para vender e para guardar. Trabalhai hoje; pois não sabeis se amanhã o podereis fazer [1]. Por isso, diz o bom homem Ricardo: vale mais um hoje, que dous amanhã. Se vós fosseis o criado de um bom amo, não terieis vergonha de que elle vos achasse com as mãos debaixo do braco? Pois bem, vós sois amo de vós mesmos. Envergonhai-vos de vos achardes na ociosidade, quando tendes tanto que fazer em vosso beneficio, da vossa familia, e da vossa patria. Levantai-vos pois de madrugada, para que o sol olhando para a terra não possa dizer : eis ahi um covarde que dorme. Nada de dilações, lançai mão dos instrumentos ou ferramenta, e lembrai-vos que um gato aceimado não caça ratos. Dir-me-heis que ha muito que fazer, e não tendes força para tanto. Isso póde ser; mas com vontade e perseverança faz-se maravilhas [2]. Diz o bom homem Ricardo no seu Almanak: A agoa cahindo gotta a gotta, chega a gastar a pedra. Um pequeno rato com trabalho e paciencia chega a cortar um grosso cabo. Pequenos golpes repetidos derribão grandes arvores.
Parece-me tambem ouvir dizer:
« Mas não se ha de tomar alguns instantes de descanço? « Sim, meus amigos, mas dir-vos-hei com o bom homem Ricardo : Empregai bem o vosso tempo se quereis merecer o descanço, e não desperdiceis uma hora, porque não podeis dispor de um minuto. »
O descanço mesmo se póde empregar em alguma cousa util. Só o homem vigilante póde gozar d՚esse puro descanço, que o preguiçoso chega a desfructar. Vida tranquilla, e vida aciosa, são cousas mui differentes, diz o bom homem Ricardo. Julgaes vós, que a ociosidade vos offerecerá mais agrados, do que o trabalho? Pois não tendes razão. Porque, como diz o bom homem Ricardo : a preguiça géra cuidados, e o descanço sem necessidade produz desgosto. Muita gente quizera viver sem trabalhar; mas não o consegue por falta de fundos. Pelo contrario, o trabalho traz comsigo contentamento, abundancia e consideração. O prazer corre atraz d՚aquelles, que fogem delle. Nunca falto camisa á fiadeira cuidadosa. Depois que tenho vaccas e ovellas, todos me fazem comprimentos, diz muito bem o bom homem Ricardo.
2. « Mas, além do amor ao trabalho, é mister resolução e cuidadado; cumpre ver com os proprios olhos as cousas que interessão, e não confiar demasiado nos outros. Porque como diz o bom homem Ricardo, nunca vi que as familias e as arvores que se mudão e transplantão muitas vezes, prosperem tanto como as que são estaveis. Em outra parte diz elle: tres mudanças de casa fazem tanto damno a uma familia como um incendio. Conservai a vossa loja, e ella vos conservará. Se quereis que o vosso negocio tenha bom exito, tratai-o vós mesmos. Se quereis que não se faça, encommendai-o á outro [3]. Para que a lavoura prospere, é preciso que o mesmo lavrador dirija a charrua. Os olhos do dono fazem mais que ambas as suas mãos. A falta de cuidado é mais nociva, do que a do saber. Não vigiar os operarios, é pôr a bolça á sua disposição. A demasiada confiança nos outros é a ruina de muita gente. Os cuidados que toma cada um em si mesmo, são sempre proveitosos, porque o saber é util para o homem estudioso, e as riquezas para o homem vigilante, assim como o poder para a coragem, e o céo para a virtude. Se quereis ter um servo fiel e amigo, servi-vos á vós mesmos, dizia o bom homem Ricardo. Elle aconselhava tambem o cuidado e a circumspectação, até nos objectos de menor importancia, porque muitas vezes acontece que um leve descuido produz grande damno. »
3. « Basta o que vos tenho dito, meus amigos, acerca do trabalho, e attenção que se deve dar aos proprios negocios; mas além disso é preciso tambem ter economia para segurarmos o fructo de nosso trabalho. Se um homem não sabe poupar á medida que elle ganha, vem a morrer sem real depois de haver passado toda a sua vida em continua fadiga. Quanto mais gorda é a cosinha, mais magro é o testamento, diz o bom homem Ricardo. Muitos cabedaes se dissipão apenas se adquirem, desde que as mulheres deixárão a roca, e a meia, pela hava mesa do chá. Para ser rico não basta aprender como se adquire ; mas é preciso além disso saber poupar, e conservar. Se as Indias não enriquerecerão os hespanhoes, é porque as suas despezas forão mais fortes do que os seus lucros. Renunciai portanto as vossas loucuras dispendiozas, e tereis menos que vos queixar da dureza dos tempos, do peso dos impostos, e dos encargos das familias. Porque, como diz o bom homem Ricardo, o vinho, as mulheres, o jogo, e a má fé diminuem os haveres, e augmentão as necessidades. Custa mais sustentar um vicio, do que educar dous filhos. Vós pensaes talvez, que um pouco de chá, prato de mais, e algum vestido, ou uma partida de divertimento, uma ou outra vez, não podem ser de grande consequencia; más lembrai-vos do que diz o bom homem Ricardo: um pouco repetido faz muito. Acautelai-vos das pequenas despezas [4]. Basta um leve rombo para fazer sossobrar um navio. A mesa lauta muitas vezes conduz a pobreza. Os loucos dão os banquetes, e os sabios os aceitão.
Eis-vos ahi todos juntos para uma venda de vas curiosidades, e custosas ninharias. A isso chamais bens; porém se não tomardes cautela, hão de converter-se em verdadeiros males. Talvez espereis comprar barato, porque muitas cousas serão vendidas por muito menos do que custárão; mas se não tiverdes verdadeira necessidade dellas, sempre comprareis caro; porque diz o bom homem Ricardo: se hoje compras o superfluo, amanhã terás de vender o necessario. Quando se offerece á vender um objecto com apparencia de barato, então é preciso reflexão, porque abarateza póde ser enganosa, ou póde causar-vos mais damno do que proveito nas circunstancias em que vos achaes. Eu lembro-me que o bom homem diz em outro lugar: tenho visto muita gente arruinada por fazer compras baratas. É loucura empregar o seu dinheiro para comprar um arrependimento. Todavia é uma loucura que se commette todos os dias nos mercados, por não se recordar o que diz o bom homem Ricardo. Os sabios, diz elle, aprendem nas desgraças alheias: os insensatos raras vezes aprendem na propria desgraça.
Ha tal que para se vestir, ou ornar os hombros, faz jejuar o ventre, e quasi expõe a sua familia a passar sem pão. Diz o bom homem Ricardo, que as sedas e os velludos as vezes apagão o lume na cosinha. Estas cousas, longe de serem necessarias á vida, não são mais que commodidades; mas agradão á imaginação, e tentão. Assim as necessidades artificiaes do genero humano tornárão-se mais numerosas do que as naturaes. Diz o bom homem Ricardo, que de cem pessoas indigentes apenas ha uma que seja verdadeiramente necessitada. Por despezas superfluas e extravagantes muita gente de qualidade tem sido reduzida á pobreza e dependencia d՚aquelles que antes despresava, mas que souberão melhor governar-se pelo trabalho e economia. Isto prova o que diz o bom homem Ricardo, que um aldeão em pé é mais alto do que um fidalgo de joelhos. Talvez aquelles que mais se queixão, herdassem um cabedal sufficiente; mas por lhe não conhecerem o valor, disserão comsigo mesmos: « Agora é dia, é á noite nunca chegará: uma tão pequena despeza, deduzida de uma receita tão consideravel como a minha, não merece attenção. » As crianças e as pessoas de pouco juizo entendem que vinte moedas e vinte annos nunca podem acabar. Mas a força de tirar pão da arca sem nada The metter, vé-se-lhe o fundo [5]; e então, como diz o bom homem Ricardo: quando o poço está secco, é que se conhece o valor da agua que lhe falta. Isto poderião ter prevenido se consultassem o Almanak do bom homem. Mas, meus, amigos, quereis vós conhecer o que vale o dinheiro? Ide tentar um emprestimo; quem toma emprestado, procura uma mortificação. O mesmo acontece áquelles, que emprestão a certa gente, quando tem de lhe pedir a sua divida. Mas esta não é agora a nossa questão.
« Quanto ao que eu vos dizia á pouco, o bom homem Ricardo nos adverte, que a vaidade do enfeite é uma verdadeira maldição. Antes de consultar a vossa fantazia, consultai a vossa bolsa. O orgulho é um mendigo que grita tão alto como a necessidade, e é ainda mais insaciavel. Se comprastes uma cousa bonita, logo tereis necessidade de mais dez, que são dependencia d՚aquella; por isso diz o bom homem Ricardo, é mais facil reprimir a primeira fantazia, do que satisfazer á todas as que vem depois. É tão pouco aviso querer o pobre arremedar o rico, como seria a rã querer inchar para parecer tão grossa como um boi : Os grandes navios podem tentar o mar alto, mas os pequenos barcos não devem afastar-se muito da praia. Taes loucuras não se fazem impunemente, porque, como diz o bom homem Ricardo, o orgulho almoça com a abundancia, janta com a pobreza, e ceia com a vergonha. E com effeito, que fructo se colhe de tantos perigos e trabalhos, que nos custa a vaidade de representação? Ella não nos conserva a saude, não augmenta o merecimento pessoal, nem suavisa os nossos males; antes pelo contrario excita a inveja, e apressa a nossa ruina. Que é uma borbeleta? Não é mais do que uma lagarta vestida. Eis aqui a imagem de um casquilho.
« Que loucura não é individar-se por taes superfluidades! Nesta venda, meus amigos, nos offerecem a espera ou credito de seis mezes; e talvez este engodo attrahisse alguns dos nossos amigos a virem ao mercado; porque não podendo comprar a dinheiro de contado, satisfazemos a nossa fantazia sem immediato desembolso. Mas ah! pensaes vós no que é comprar a credito, ou contrahir uma divida? Vós concedeis direitos ao credor sobre vossos bens, e sobre vossa pessoa. Não pagando no prazo ajustado, não podereis encarar o vosso credor, nem fallar-lhe sem pejo e sem receio: chegareis até a desculpar-vos com elle de um modo menos briozo, pouco a pouco perdereis a vossa franqueza, e cahireis na deshonora de mentir vergonhosamente, pois, como diz o bom homem Ricardo, o primeiro erro é individar-a se, e o segundo faltar á verdade. Ae quelle que se costuma a contrahir dividas, anda com a mentira á garupa. Um homem livre nunca deveria envergonhar-se de fallar á outro homem, nem de olhar para elle cara á cara; mas muitas vezes a pobreza apaga a coragem, e o brio. Diz o bom homem Ricardo, que um sacco vasio difficilmente se tem em pé [6]. Que pensareis vós de um principe ou de um governo, que por um edital vos prohibisse vertir-vos como as pessoas de distincção, e isso com pena de prisão? Não dirieis que havendo nascido livres, tendes direito para vos vestirdes á vossa vontade. e que uma tal ordem é um attentado contra os vossos direitos, e uma verdadeira tyrannia! Pois a uma semelhante tyrannia vos sujeitaes quando contrahis dividas para vos vestirdes com luxo, ou fazerdes qualquer outra despeza excessiva. O vosso credor se quizer, póde privar-vos da vossa liberdade, e talvez toda a vida [7]. Quando se compra a credito, é facil esquecer o pagamento; mas os credores, como diz o bom homem Ricardo, tem melhor memoria do que os devedores, e são uma especie de seita supersticiosa, que observa com o maior escrupulo todas as épochas do calendario. O dia do pagamento chega quando menos o cuidaes; e se cuidaes nisso, o prazo vos parecerá extremamamente breve, e direis que o tempo não só tem azas nos hombros, mas tambem nos pés. A quaresma é muito pequena para quem tem de pagar pela paschoa, diz o bom homem Ricardo. No emprestimo o devedor e o credor são escravos e dependentes um do outro : tende horror á esta cadeia, conservai a vossa liberdade e independencia; 🖙 séde laboriosos e economicos, e sereis livres. Talvez vos pareça que neste momento podeis satisfazer alguma pequena fantazia; mas é preciso poupar para o tempo da velhice e da necessidades extraordinaria. O ganho é incerto e passageiro; mas a despeza em toda a vossa vida será sempre certa e continua. O sol da manhã não dura todo o dia. E mais facil construir duas chaminés, do que conservar uma quente, como diz o bom homem Ricardo; assim é melhor deitar sem ceia, do que levantar com dividas. Adquirir e poupar, eis o verdadeiro segredo para converter o chumbo em ouro. Esta é a verdadeira pedra philosophal; quando vós a possuirdes, não tereis de vos queixar nem do rigor dos tempos, nem da difficuldade de pagar os impostos. »
4. « Esta doutrina, meus amigos é conforme á razão e á prudencia; mas é preciso não confiar, unicamente no vosso trabalho, e na vossa economia e prudencia. Tudo será inutil sem a benção do céo. Cumassa pre pois merecel-a, e pedil-a humildemente. Não sejais sem caridade para aquelles que parecem necessitados! mas dai-lhes consolações e soccorros. Lembrai-vos que Job foi miseravel, e depois veio a ser venturoso. »
« Eu não vos direi mais nada sobre este assumpto. A experiencia tem uma escola onde as lições custão caro; mas é a unica em que os idiotas podem instruir-se, como diz o bom homem Ricardo; e ainda assim elles não se aproveitão muito, porque, como elle diz com razão, póde dar-se um bom parecer, mas não o bom comportamento. Todavia lembrai-vos, que quem não é docil ao conselho, não pode ser soccorrido; porque, como diz o bom homem Ricardo, ainda que não queiraes escutar a razão , ella tarde ou cedo ha fazer-se ouvir. »
Assim acabou o velho Abrahão a sua pratica. Os circunstantes a ouvirão com attenção, e até mesmo approvárão as suas maximas; mas, assim como acontece nos sermões, fez-se precisamente o contrario do que se aconselhava; pois logo que as vendas começárão, cada um comprou segundo a sua fantazia extravagante.
Eu observei que o velho Abrahão tinha estudado bem o meu Almanak, e posto em ordem tudo o que eu tinha dito por espaço de 25 annos sobre a necessidade do trabalho e economia. As frequentes citações que elle fez do bom homem Ricardo serião enfadonhas para outro qualquer; mas a minha vaidade lisonjeou-se com isso, ainda que eu estivesse bem convencido que de toda a sabedoria que se me atribuio, não me pertence nem a decicima parte, e que pouco mais fiz do que colher o respigo no bom juizo de todos os seculos e de todas as nações. Seja porém o que fòr, resolvi aproveitar-me deste echo para me emendar, e posto que tivesse tenção, e meios de comprar um vestido novo, retirei-me com o firme proposito de fazer durar o velho ainda mais algum tempo.
Leitor se vos for possivel fazer o mesmo, ganhareis tanto como eu.
RICARDO SAUNDERS.
FIM.
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« Ha muitos resumos grammaticaes de nossa formosa linguagem mas uns são deficientes, outros nimiamente difusos; muitos não combinão com os principios de ideologia, e alguns forão redigidos segundo um methodo philosophico, em cuja exposição demasiadamente se dilatarão seus authores, que deixão por isso de ser prearios para discipulos noviços. O author da grammatica que temos à vista soube evitar estes inconvenientes, e compondo uma synopse dos rudimentos do idioma portuguez, offereceu ás escolas primarias o compendio mais util, manual e barato que existe. »
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« A obrinha que aqui se offerece á mocidade estudiosa e á todas as pessoas que desejão adquirir idéas sãs obre a geographia elementar, se distingue por sua exactidão e clareza, e se póde recommendar particularmente, por tratar com especialidade do Brasil, dando a descripção de todas as Provincias, sua população, principaes cidades, estabelecimentos, productos nos treis reinos da natureza; e póde por tanto ser util aos pais de familia que desejão instruir aos seus filhos, como tambem servir de compendio aos professores de collegios e aulas.
« Os Editores da precedente edição brasileira se esmerarão em tornar esta obrinha cada vez mais digna dos seus jovens leitores, emendando e completando as noções de Geographia, principalmente no que diz respeito ao Brasil, e ajuntando-lhes finalmente estampas novamente desenhadas que sem duvida serão devidamente apreciadas á vista das anteriores edições do Thesouros dos Meninos. »
« É esta a primeira edição do Cathecismo de Montpellier impressa com todo o cuidado no Brasil, e na qual se introduzirão importantes melhoramentos, como v. g., de substituir e em todas as orações a Familia Imperial á Familia Real, como se usa erradamente em outras edições, o que torna esta nossa edição tambem por este motivo preferivel á qualquer outra. »
« Esta excellente e util publicação, uma das mais interessantes para educação dos meninos de ambos os sexos, foi escripta pelo celebre Miss Edgevorth; ella é destinada a inspirar o amor á Religião e ao estudo das sciencias, e preparar-los assim aos estudos mais profundos a que se deveráõ applicar mais tarde. Nós recommendamos com confiança esta obra ás mais de familia e aos directores das casas d՚educação. De todos os livros publicados pára leitura de meninos, não ha nenhum que tenha tido mais aceitação do que este que annunciamos. »
« Uma carta serve muitas vezes para se avaliar a intelligencia, e as qualidades de seu author, e um livro portanto que nos encina o estilo, ceremonial, uso, emfim a arte completa da correspondencia, é uma publicação prestante e por isso altamente recommendavel.
« A perfeição dos livros elementares consiste no complemento e exactidão dos doutrinas rasoavelmente necessarias, e n՚este intuito procurou o author n՚esta tão conhecida e bem aceita Obrinha tratar de todas e dar a cada uma d՚ellas a extensão conveniente ao fim proposto. »
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- ↑ Guarda que comer, não guardes que fazer, diz o proverbio.
- ↑ Mais faz quem quer, do que quem póde, diz outro proverbio.
- ↑ Quem quer vai, e quem não quer manda; é tambem proverbio antigo.
- ↑ O tracto successivo da despeza é o que mais importa attender; porque quanto mais modica é a despeza, menos se sente, e por isso menos se evita.
- ↑ Donde se tira, e não se põe, mingoa faz, diz o proverbio.
- ↑ Se a extrema riqueza póde conduzir á vaidade, e ao orgulho, tambem a extrema pobreza faz perder o brio, e conduz á vileza. Cumpre evitar os extremos em tudo. Não depende só de nós haver grande riqueza; mas depende só de nós evitarmos a extrema miseria, por meio de trabalho e economia : e na boa, como na má fortuna, é mister gozar com moderação, e soffrer com dignidade.
- ↑ Nos Estados-Unidos, em Inglaterra, França e outros paizes, o credor póde, não só fazer executar, mas prender o seu devedor. No Brazil não tem lugar esta legislação; mas se o tivesse, talvez houvesse menos facilidade em contrahir dividas, ou mais cuidado em as pagar.
Todas as obras publicadas antes de 1.º de janeiro de 1930, independentemente do país de origem, se encontram em domínio público.
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