A partida do tropeiro
Companheiros, toca avante!
Vamos todos a barandar
A corte fica distante
Temos muito que trotar
Vou selar o meu fouveiro
Que está farto de pastar
Com esse burro motroqueiro
Tenho contas que ajustar
(sem mais tardar, sem mais tardar)
Vinte léguas bem puxadas
Temos hoje que fazer
Se há poeira nas estradas
É sinal que vai chover
Então secos os regatos
Está seco o riachão
Mas há cheiro pelos matos
Que faz bem ao coração
(ao coração, ao coração)
toca avante, benedito!
Vai lança o burladês
Esse burro, esse maldito
Não me escapa desta vez
Chama o Zé do Burandaco
E tu monta no Baião
Vai pegar-me esse velhaco
Esse cabra, esse ladrão
(burro ladrão, burro ladrão)
Esse burro tem má copa
Tem talento pra valer
Sabe quando parte a tropa
Vai nos matos se esconder
Tem rabicho pela terra
Esse denga malandrão
E se sobe para a serra
Ninguém hoje põe-lhe a mão
(não põe a mão, não põe a mão)
mas se não for encontrado
há um meio de o bispar
o maroto é cotubado
mas não pode me enganar
vão pedir ao João Toureiro
sua égua de montar
e verão como o matreiro
vem à corda se entregar
(vem se entregar, vem se entregar)
Acho justo Zé Corame
Razoável, natural
Que o bichinho também ame
Esta terra que é natal
Mas sou fero quando cismo
Sou cotuba, sou ferrão
Não há cá patriotismo
Quando chega a precisão
(pois não, patrao! pois não, patrao!)
Eu também falo a verdade
Quando deixo este sertão
Sinto logo uma saudade
Me espinhando o coração
Mas pra falar com franqueza
O burro sabe pensar
Porque ele tem certeza
De nunca mais cá voltar
(não mais voltar, não mais voltar)
vamos, vamos Chico Pia
Murcha a flor do embiruçu
E quando for meio-dia
Devo estar em Pajeú
E tu Florêncio Cachola
Manda o cargueiro a boiar
Põe-me as cordas na viola
Que é tempo de caminhar
(de caminhar, sem mais tardar)
Esta obra entrou em domínio público no contexto da Lei 5988/1973, Art. 42, que esteve vigente até junho de 1998.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.