Obras poeticas de Ignacio José de Alvarenga Peixoto (1865)/A saudade

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A SAUDADE
OUVINDO LER NA CADÊA PUBLICA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
A SUA SENTENÇA DE MORTE

Não me afflige do potro a viva quina;
Da ferrea maça o golpe não me offende;
Sobre as chammas a mão se não estende;
Não soffro do agulhete a ponta fina.

Grilhão pesado os passos não domina;
Cruel arroxo a testa me não fende;
A’ força a perna ou braço se não rende;
Longa cadêa o collo não me inclina.

Agua e pomo faminto não procuro;
Grossa pedra não cansa a humanidade;
O passaro voraz eu não aturo.

Estes males não sinto; é bem verdade;
Porém sinto outro mal inda mais duro:
— Sinto da esposa e filhos a saudade!