Anais da Ilha Terceira/II/II

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Passaram quase os primeiros três meses do ano de 1641 em que o governador do castelo, e o capitão-mor Francisco de Ornelas, com ânimos inteiramente opostos, pretextavam defender a ilha Terceira dos inimigos externos fazendo para isto grandes preparativos de guerra; porém chegou enfim o tempo de tirar a máscara da dissimulação. Conservava-se com efeito nos ânimos das pessoas principais da ilha, e no povo um ódio entranhável contra os castelhanos, e a cobrança da finta que novamente se fazia na ilha ainda os veio desafiar mais a libertar-se do pesado jugo que haviam mais de 57 anos experimentavam da tirania espanhola. Não era possível sofrer, nem esperar mais tempo, aproximava-se a hora da retribuição.

Contavam-se enfim 20 de Março e não aparecia resposta alguma das cartas que o capitão-mor Ornelas escrevera a el-rei D. João na caravela de Gaspar Martins; e ainda que algum socorro se pudesse esperar, corria grande risco de ser tomado pelas armadas inimigas que andavam nestes mares; ou chegaria mais tarde do que esse esperado pelo governador, em consequência dos seus avisos, mandados à Corunha e a Sevilha: e como a terra se achava por el-rei D. Filipe, saltariam os castelhanos em boa paz, e depois de estarem senhores dela tomariam vingança de todas as pessoas que quisessem, ou lhes fossem suspeitas, como de ordinário costumavam fazer. Discorrendo desta maneira Francisco de Ornelas, houve por certo que com a dilação poderiam crescer alguns destes inconvenientes; e tendo consultado seu pai, Francisco da Câmara Paim, e o religioso Chagas , resolveu-se dar à execução o intento levantando a voz do novo rei, sendo também parte nesta resolução o sargento-mor da Praia Sebastião Cardoso Machado, que naquele tempo tinha o posto de tenente . E advertindo mais Francisco de Ornelas que o dito religioso lhe prometera a aclamação de el-rei na vila de S. Sebastião, pela influência de seu cunhado Manuel Martins Fenais , que servia de vereador mais velho, o enviou para ela no dia 21 de Março.

Tentou segunda vez Francisco de Ornelas reduzir o governador D. Álvaro a entregar-lhe o castelo pacificamente: e para isto enviou o prior do Convento da Graça, da ordem de Santo Agostinho, Frei João da Purificação, que era seu confessor, repetindo-lhe ao governador, em nome de el-rei, a promessa dos títulos e mercês que dantes lhe oferecera, e ao prior por esta boa negociação, o bispado de Angra. E com efeito, no fim da semana de Lázaros, passou o prior ao castelo, onde foi recebido pelo governador com as maiores demonstrações de sinceridade, o que o deixou persuadido de que ele anuiria à proposta, verificando-se a fortuna de ambos eles: e para melhor disfarçar o engano, lhe disse o governador, que pois o seu tenente e o alferes eram pessoas de consideração para um tal negócio, também se lhes haviam de fazer algumas mercês, porque de outra forma lhe não ficava bem o entregar a praça. Facilmente se persuadiu o bom religioso do que ouvia, e parecendo-lhe que tinha negociado, lhe pediu licença para voltar ao seu convento, onde o esperavam os interessados; e que sem perder tempo voltaria ao castelo, trazendo os artigos da capitulação, e mais documentos que lhe diziam respeito. A tudo anuiu o governador, prometendo-lhe escrever uma carta em que se comprometesse a tudo cumprir. No outro dia, 23 de Março, vendo o governador que o religioso lhe tardava, o mandou chamar, ordenando-lhe que levasse consigo todos os mais papéis e documentos de que lhe falara. Assim fez o sincero prior, levando-lhe cartas do capitão-mor Francisco Ornelas da Câmara e de várias pessoas, assim como uma de Estêvão Silveira Borges , nas quais se comprometiam e aprovavam aquela negociação.

Todas estas cartas foi lendo o governador mui sossegadamente, fingindo aprovava deveras o seu conteúdo; e por fim, voltando-se para o religioso, lhe disse que era necessário autuarem-se aqueles papéis, para lhes dar inteira fé e crédito; e em continente mandou chamar o seu escrivão, a quem mostrou tudo o que havia; e falando com o prior perguntou-lhe se eram aquelas cartas e papéis os que ele prior lhe tinha dado, e daquelas pessoas que dizia? E afirmando que sim, logo mandou ao escrivão que autuasse tudo aquilo, e ao prior mandou preso para casa do capelão mor.

Em seguida mandou por um oficial do castelo chamar ao dito fidalgo Estêvão da Silveira, dizendo-lhe: cumpria muito ao serviço real lhe fosse falar; e ainda que alguns amigos lhe fizeram ver a necessidade de se desculpar, e de não aparecer em tal ocasião, como fizerem outros, sem ainda saberem o que acontecera ao prior; ele os não atendeu, antes pelo contrário caminhou prontamente para o castelo, levando consigo Pedro de Carvalhal, por alcunha o Galego: do que resultou ficarem ambos presos, e morrerem na prisão durante o cerco. Tal era a boa fé do governador D. Álvaro!

No dia 24 de Março, domingo de Ramos, vendo Francisco de Ornelas, que não aparecia resolução da embaixada; e que nem o prior, nem Estêvão Silveira voltavam à cidade, suspeitou que o governador só maquinava assegurar-se de suas pessoas, e prender o maior número que lhe fosse possível, de quantos de poderiam obstar: em consequência do que estava o negócio no pior estado possível, sendo necessário não descansar um só instante para deliberar definitivamente sobre ele. Pelo que resolveu romper a voz da aclamação; e para isto, às 10 horas da manhã saiu da igreja matriz de Santa Cruz a Câmara municipal, acompanhada da nobreza e clero secular e regular da mesma vila, e grande quantidade de povo, em solene procissão e com muita festa, e cerimónias usadas em semelhantes actos, aclamou pelas ruas e praças mais notáveis a voz de el-rei D. João IV, enquanto os moradores daquela vila empregavam todas as demonstrações de alegria, e completa satisfação, por ouvirem já pública a voz da sua liberdade por que havia tantos anos suspiravam. Recolhida à igreja esta solene procissão deram-se os vivas, e descargas de mosquetaria, e de tudo se exarou o respectivo auto .

Logo o capitão-mor de Ornelas deprecou à Câmara de Angra, dando-lhe conta do que se acabava de fazer na vila da Praia, e suplicando-lhe da parte de Sua Majestade praticasse o mesmo acto; porém encontrando-se os pareceres dos nobres e plebeus, pelo medo do castelo, apesar do muito que sobre isto trabalhou o presidente João de Ávila, não se tomou semelhante resolução; antes pelo contrário lhe responderam estranhando-lhe muito aquele extraordinário procedimento.

Lavrava entre os angrenses uma grande inquietação, principalmente nas pessoas do povo, por saberem o que se fizera na Praia; e que a Câmara dividida em partidos se demorava em fazer o mesmo. Não faltavam consequentemente ajuntamentos, vozes e murmúrios pela cidade contra os da governança; e ao mesmo tempo desafiavam os castelhanos com dictérios, e palavras picantes, esperando quanto antes, pessoa que empreendesse, contra eles qualquer movimento hostil, que lhes servisse de fundamento à projectada aclamação de el-rei: o que não tardou muito, porque na terça-feira, 26 de Março, à noite, resolveram-se quatro mancebos oficiais de tanoeiro, e todos irmãos — vulgarmente conhecidos pelo alcunha dos Minhas Terras —, e acompanhados pelo valoroso cavalheiro António do Canto de Castro , esperaram a guarda dos castelhanos, e travaram com eles briga, maltratando-os de palavras, e de mãos, a ponto de desarmarem um deles. Sabendo o governador desta pendência no dia imediato, quarta feira santa, mandou recado a António do Canto de Castro para que lhe fosse dar relação do acontecido, e mandou prender os tanoeiros, que já se haviam retirado à Praia. O sargento Resollón, e dez soldados levavam ordem para que duvidando ele obedecer o prendessem.

Achava-se então António do Canto passeando na praça, mas entendendo que os castelhanos o procuravam para o prender, entrou para dentro do corpo da guarda, fronteiro à mesma praça, em quanto dois soldados dos mais resolutos foram ao capitão Jerónimo da Fonseca, pedindo-lhe licença para levar consigo o dito António do Canto.

Recusou o capitão esta licença, sem autoridade do capitão-mor, e dispondo-se o sargento para ultimar a diligência à força, tirou António do Canto a espada para se defender; opuseram-se de sua parte os soldados da guarda, e disparando os castelhanos os arcabuzes ficaram gravemente feridos dois portugueses. A isto acudiu quantidade de gente do povo, e indo já os castelhanos retirando da praça, e crescendo o tumulto das armas, gritou o povo em altas vozes: — Liberdade! Viva el-rei D. João IV! Morram os castelhanos!

Logo se travou uma renhida luta, de tal forma que em pouco tempo ficou morto um castelhano, e todos os outros gravemente feridos; mas, porque logo veio reforço, puderam ir retirando até o seu primeiro corpo de guarda, que ocupavam fora do castelo . Neste encontro ficaram gravemente feridos o alferes Manuel Gonçalves Carvão, em um braço por um tiro de pistola, e Mateus Cardoso de Azevedo, a quem atravessaram uma espada pelo pescoço.

Tocou-se com toda a pressa a rebate, e os castelhanos que estavam de guarda à porta do cais foram retirando ao mesmo posto da Boa Nova, a incorporar-se com os seus; ao mesmo tempo que logo se ajuntaram as companhias da cidade , sendo a primeira do capitão Jerónimo Fernandes Coelho, que na melhor ordem possível, no meio da praça, entoou os vivas a el-rei. Acudiu também ao rebate o capitão-mor João de Bettencourt de Vasconcelos, acompanhado de todos os que eram capazes de pegar em armas.

Aproximou-se a noite, parecendo que poria termo a esta renhida pendência; mas não foi assim, porque o governador julgou que com o estrondo da artilharia poderia dissipar o tumulto; e por isso começou a bombardear a cidade, disparando as três peças que de antemão havia mandado assestar contra ela. Felizmente foi a ruína menor que o perigo imaginado, porque somente mataram um soldado e uma mulher, enquanto os portugueses foram apertando os castelhanos de todas as partes, tomando-lhes as bocas das ruas, até que, acolhidos de todo, se fizeram fortes no referido quartel da Boa Nova.

Haviam neste tempo dentro do castelo quinhentas praças de soldo, e mais de quinhentos vizinhos, ainda que só quatrocentos capazes de pelejar, excepto os mais que lá tinham ofícios. Havia mais ali todo o género de armas em abundância; muita pólvora, e 160 peças de artilharia, quase todas de bronze, mais delas de calibre de 36; quarenta e oito artilheiros pagos; e finalmente grande cópia de mantimentos de boca. Tinha além disto o castelo presídio castelhano na fortaleza de S. Sebastião, com 11 peças de bronze; e com toda esta artilharia dominava o porto da cidade, a qual pelo contrário não tinha soldadesca alguma paga, e somente conservava a sua gente da ordenança, nem ainda o corpo da guarda, que de novo se fizera, estava regulado em forma e expedito .

Vendo o mestre de campo D. Álvaro quão pouco era o dano que as suas balas causavam à cidade, afrouxou por algum tempo de atirar contra ela, esperando no entretanto que algumas pessoas se fossem reunir a ele; e desenganado que ninguém o procurava, e que não podia continuar a meter guarda na porta do mar e alfândega, como pediu: julgando outrossim perdida a gente que tinha na fortaleza de S. Sebastião, fechou-se com todos os seus dentro no Castelo de S. Filipe.

Logo a cidade tocou caixas de guerra em todo o seu termo, enviando Mateus de Távora Valadão, um dos cidadãos de Angra, e o vigário da freguesia das Fontinhas, que fossem avisar o capitão-mor da Praia, para que acudisse com toda a gente que lhe fosse possível a sitiar o castelo. Porém, já Francisco de Ornelas tinha aviso por António Cardoso da Ribeirinha, que primeiro saiu nesta diligência pela vila de S. Sebastião adiante.

No dia 27 de Março, quarta-feira santa, pela manhã, chegou à dita vila de S Sebastião o padre António Mendes de Vasconcelos, com um precatório do capitão-mor Ornelas para o entregar ao mestre Frei Diogo das Chagas, e este aos oficiais da Câmara, com os quais devia tratar o negócio da aclamação do novo rei. E com efeito, pouco tempo depois, por intervenção daquele religioso, se ajuntaram em Câmara os da governança da vila, e pessoas principais do termo, verificando a aclamação com as vozes, e cerimónias do estilo, presidindo neste acto o vereador mais velho, e juiz dos órfãos Manuel Martins Fenais .

Mais alegre e brilhante se tornou o acto por entrar ao mesmo tempo na vila António Cardoso da Ribeirinha, dando muitos vivas ao novo rei, e contando o que se passara em Angra, onde também se achava já feita a aclamação, apesar da resistência dos castelhanos, que não cessavam de bombardear a cidade. O mesmo António Cardoso vinha encarregado de correr a ilha em roda, avisando a gente de guerra para que marchasse a sitiar o castelo. Quanto ao auto desta aclamação, por andarem os vereadores entretidos na milícia, reservou-se para o dia 14 de Abril, em que se fez com toda a solenidade constante do Documento E — cuja leitura se faz recomendável pelas antigas fórmulas que nele se guardaram, já praticadas na aclamação de Filipe II, na vila da Praia, no dia 11 de Agosto de 1583.

Se na revolta do dia 27 de Março se viu o capitão-mor da cidade, João de Bettencourt, tão só e desamparado das pessoas da nobreza que mal se poderia contar o seu número, por diminuto; não foi assim a respeito dos religiosos, pregadores e confessores e outros da Ordem Seráfica e da Companhia de Jesus, que em grande número concorreram, acudindo às estâncias e pontos onde se achavam os capitães, prestando todos aqueles serviços compatíveis com suas profissões, animando e confessando a gente que se lhes oferecia. E para em tudo ser admirável e maravilhoso este santo dia, Quarta-Feira de Trevas, achavam-se ainda os portugueses sem pólvora e bala, por estarem fechados os armazéns, e as chaves em poder de Cristóvão de Lemos, que se acolhera ao castelo; e impaciente o povo arremeteu às portas com machados para as arrombar: e achando a terceira porta com maior firmeza, veio o padre António de Abreu, da Companhia de Jesus, com a chave da vizinha ermida de nossa Senhora da Saúde, e sendo esta chave totalmente diversa, logo a brio a porta, o que o povo atribuiu a milagre da santíssima Virgem , e assim o proclamou por toda a cidade.

Notas[editar]

  • Os reis de Castela, principalmente Filipe IV, afligiram o reino de Portugal e seus domínios com excessivos tributos, sem que fossem votados em cortes; tais foram aquele que se pôs na extracção do sal, do qual não se pagando mais de 17 réis por moio, veio a ser mais de 1$000 réis: os que se puseram nas caixas de açúcar, além dos direitos da alfândega; os da carne e vinho; pagando-se um tanto que vulgarmente se chamava real de água, por ser em princípio imposto pela Câmara de Lisboa para se encanar água da cidade; a quarta parte no encabeçamento das sisas, mais do que pagavam as cidades e vilas do Reino; as meias anatas das provisões dos ofícios, por mais insignificantes que fossem, despachados pelos desembargadores. Fizeram-se depósitos e estancos de muitas mercadorias, com que se encareceram os respectivos preços; e finalmente tributou-se o estado eclesiástico, que em todos os tempos fora isento, alcançando-se para este fim breves de subsídio, contra o Capítulo 10 das mercês oferecidas pelo embaixador duque de Ossuna, e confirmadas nas cortes de Tomar.
  • Diz no capítulo 5 de sua Relação que fora ele a quem se deveram estas observações todas, que mui deliberadamente fizera ao capitão-mor Ornelas, e que assim o convencera a verificar a aclamação.
  • Este homem dotado de tão excelentes qualidades que, conforme diz o nosso dr. Cabral no seu manuscrito, só por si era capaz de fazer a honra e a glória da sua pátria, foi filho de Manuel de Barcelos Machado, o da Calheta, e de sua mulher Iria Cota da Malha, bem conhecidos nas genealogias desta ilha. No 1.º de Junho de 1618 os capitães da ordenança da Praia o pediram a el-rei para seu sargento-mor, cargo este que lhe foi conferido, e que serviu com honra por muitos anos.
  • Casou na freguesia de S. Bento com Maria Coelho em 21 de Abril de 1610; era a contraente irmã do dito padre, como filhos de Mateus Coelho de Fraga, capitão-mor da ilha das Flores, etc. etc.
  • Era filho de João Dias de Carvalhal e de sua mulher Maria de Abraça, dos quais tratei quando dos sucessos desta ilha na invasão de Filipe II. Foi casado com D. Bárbara Machado, instituidores do morgadio da casa da Salga, na vila de S. Sebastião.
  • Não existe livro de acórdãos, nem registo algum desta aclamação: e só se sabe que se praticaram estas solenidades pela referida Relação, capítulo 5, no que foi conforme o historiador insulano.
  • Sabendo o governador o que se passava em Câmara, escreveu uma carta ao presidente, no dia 25 de Março, para que lhe fosse falar ao castelo, naquela tarde, para tratar negócio de Sua Majestade; mas ele não foi.
  • Eram filhos de Melchior Fernandes, e o mais velho chamava-se Pedro Fernandes: habitavam na rua chamada dos tanoeiros, hoje das Frigideiras, nas casas vinculadas pelo genovês Lucas de Cassena.
  • Segundo o padre Cordeiro, foi filho de Manuel do Canto de Castro, provedor das armadas, e de sua mulher D. Antónia da Silva. Foi capitão de cavalaria na batalha de Montijo, e depois sargento-mor da nobreza de Lisboa e do hábito de Cristo; sargento-mor de toda esta ilha Terceira, com grande tença, e finalmente governador do castelo de S. João Baptista. Casou em Angra com D. Maria de Mendonça, dos quais ficou descendência.
  • Vide Portugal Restaurado, 1.ª Parte, Livro 3.º, e a citada Relação no capítulo 6.
  • No fim da mencionada Relação acha-se o mapa de todos os capitães que serviram nesta guerra, e diz que os da cidade eram: Diogo do Canto de Castro, Constantino Machado, Galaor Borges da Costa, Henrique Moniz da Silva Merens, João Pacheco de Vasconcelos, Vital de Bettencourt, Jerónimo Fernandes, Francisco do Canto de Vasconcelos, e João de Ávila.
  • Vide Cordeiro, Livro 6.º, capítulo 31, §345.
  • Pelo modo com que se explica o autor da citada Relação, houve bastante dúvida sobre este negócio, com o fundamento de que ainda se não tinha feito a aclamação em Angra, e por servirem na Câmara, a esse mesmo tempo, os capitães André Gato Coelho, Henrique Fernandes Pacheco e o alferes Henrique Fernandes Fróis, que todos eram sujeitos ao capitão-mor da cidade, de forma que, já sobre a tarde do dito dia, saiu ao balcão da casa da Câmara o dito juiz Manuel Martins Fenais, e com a bandeira na mão, em altas vozes entoou os vivas ao novo rei; e “os moços grandes e pequenos (diz a Relação) começaram com folias pelas ruas a aclamar os vivas de el-rei nosso senhor D. João IV, que Deus guarde, o que todos os homens que pelas ruas estavam, e mulheres pelas janelas repetiam com a maior alegria”.
  • Cordeiro, Livro 6.º, capítulo 32, 4346 e §347; citada Relação, capítulo 7, §3.