Auto de prisão e clausura que se fez aos presos da Vila da Praia

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Em os dois dias do mês de Agosto de 1823 anos, nesta vila da Praia, ilha Terceira, e casa da Câmara, onde estava o ministro dr. juiz de fora António José Machado, presidente do mesmo senado, e os vereadores e procurador do concelho abaixo assinados, a tratarem do bem e sossego público. Em firmeza do que assinam perante mim Francisco Inácio Ferraz, escrivão do judicial o escrevi, por impedimento do respectivo.

Acordaram e determinaram todos os abaixo assinados sobre as medidas a que se devia proceder nas actuais circunstâncias em que o povo desta vila, e sua jurisdição, se achava de tal sorte por ter procedido espontaneamente à prisão de muitas pessoas com receio de uma explosão contra o sistema actual do governo do Sua Majestade Fidelíssima; e estes receios procedidos da comunicação que um cadete chamado Manuel Pamplona, do Batalhão de Artilharia que guarnece o Castelo de S. João Baptista da cidade de Angra comunicando-se com certas pessoas, que se dizia terem sido adidas ao sistema constitucional, que felizmente acabou, aumentando-se mais a desconfiança do mesmo povo pelo dito cadete ter vindo a esta Vila, e de ter comunicado com algumas pessoas, dizendo-se que queriam largar fogo ao polvorinho, e matar várias pessoas desta vila por se dizer que tinham comunicações sinistras com a cidade de Angra; e deliberando os abaixo assinados sobre as medidas que se deviam tomar para tranquilizar o povo, que assim se achava exaltado, acordaram em se remeter aquelas pessoas assim presas para a cidade de Angra, remetendo-se às autoridades competentes, paro as livrar dos insultos que lhe poderiam acontecer do povo; e por serem estas medidas as mais próprias e adequadas para tranquilizar os povos assim enfurecidos e irritados, e não tornarem aqui as mesmas ressoas sem que o povo se ache tranquilizado em consequência da representação que nesta vereação fizeram o Ilustríssimo comandante do regimento de milícias desta Vila e o major do mesmo regimento, o Ilustríssimo António Moniz Barreto do Couto, e o ilustríssimo capitão do estado do regimento José Borges Escoto Saraiva Gusmão, que todos assim acordaram, e assinaram perante mim Francisco Inácio Ferraz, escrivão do judicial; o escrevi por impedimento do respectivo.

Declaram mais que as sobreditas prisões foram feitas não só pelo povo, mas também por alguns soldados do regimento de milícias desta vila os quais pretendendo ainda fazer mais prisões lhes obstou o dito ilustríssimo senhor no acto da sua chegada a esta Vila, ao que obedeceram logo obstando o dito ilustríssimo coronel.

Em firmeza do que, assinaram perante mim, o sobredito Francisco Inácio Ferraz, escrivão do judicial, o escrevi e declarei por impedimento do respectivo. — Machado — Ramires — Fonseca — Barcelos — Borba — Cândido de Menezes Lemos e Carvalho, coronel comandante da Vila da Praia. — António Moniz Barreto, major — José Borges Escoto e Gusmão, capitão do estado-maior.