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Carta de Euclides da Cunha a João Luís de 14 de março de 1897

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São Paulo, 14 de março de 1897.

João Luís

Saúde e felicidades. Desejamos eu e a Saninha que você, a D. Fernandina e toda a família estejam de perfeita saúde e felizes.

Apesar de um longo silêncio de que não sou culpado porque fui o último a escrever-te, lá vai esta carta dizer-te que não me esqueço do digno correligionário e amigo. Além disto, nesta aterradora quadra de desastres é necessário que procuremos os irmãos de crença, os únicos que nos podem compreender. Creio que como eu estás ainda sob a pressão do deplorável revés de Canudos aonde a nossa República tão heróica e tão forte curvou a cerviz ante uma horda desordenada de fanáticos maltrapilhos...

Que imensa, que dolorosa, que profunda e que esmagadora vergonha, meu caro João Luís!

O nosso belo ideal político — estes fatos o dizem eloqüentemente — continua assim sacrificado pelos políticos tontos e egoístas que nos governam.

O que diz de tudo isto o nosso incorruptível e sincero correligionário, o Dr. Brandão? Eu imagino se não o desalento profundo a tristeza enorme que o assalta.

Felizmente a geração heróica de 15 de novembro está ainda robusta e, ao que parece, pouco disposta a deixar que extingam a sua mais bela criação.

Procurando ser otimista (difícil coisa nestes tempos maus!) vejo nesta situação dolorosa um meio eficaz para ser provada a fé republicana. Não achas que ela resistirá brilhantemente — emergindo amanhã, rediviva dentre um espantoso acervo de perigos? Eu creio sinceramente que sim.

Adeus. Dê por mim um abraço em nossos amigos Dr. Brandão e Bernardo Veiga; um aperto de mão em todos os correligionários — e dispõe de quem é com estima real am° e adm°.

Euclides da Cunha
Rua Santa Isabel, 2 [1]

Notas

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  1. À margem: “Quando vens até cá?”.