Coleirinho
Assim o escravo agrilhoado canta.
Tibulo.
Canta, canta Colleirinho,
Canta, canta, o mal quebranta;
Canta, afoga magoa tanta
N’essa voz de dôr partida;
Chora, escravo, na gayola
Terna esposa, o teu filhinho,
Que, sem pae, no agreste ninho
Lá ficou sem ti, sem vida.
Quando a roixa aurora vinha
Manso e manso, além dos montes,
De oiro orlando os horisontes,
Matisando as crespas vagas,
—Junto ao filho, á meiga esposa
Docemente descantavas,
E na luz do sol banhavas
Finas penas—n’outras plagas.
Hoje triste já não trinas,
Como outr’ora nos palmares;
Hoje, escravo, nos solares
Não te embala a dulia brisa;
Nem se casa aos teus gorgeyos
O gemer das gotas alvas
—Pelas negras rochas calvas—
Da cascata que deslisa.
Não te beija o filho tenro,
Não te inspira a fonte amena,
Nem da lua a luz serena
Vem teus ferròs pratear.
Só de sombras carregado,
Da gayola no poleiro
Vem o tredo captiveiro,
Magoa e prantos acordar.
Canta, canta Colleirinho,
Canta, canta, o mal quebranta;
Canta, afoga magoa tanta
N’essa voz de dor partida;
Chora, escravo, na gayola
Terna esposa, o teu filhinho,
Que sem pae, no agreste ninho
Lá ficou sem ti, sem vida.