Crônica Política

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Aos que, unidades políticas deste trecho da federação desfibrinaram, pouco a pouco, na indiferença e desmandos e postergações de autocracia podres, um tônico há, de certo, que os transfigura e lhes tinge, como agora, a confiança que parecera morta.

São, nem mais, nem menos, de tal poder criativo esses momentos em que, por uma atitude invariável, uma frase, um gesto de cima exprime a ansiedade em síntese de um período alongado, a expectativa cansada do melhor.

O governo que finda foi um romper de hábitos político-administrativos que iam entrando de petrificar a vontade do povo, para a ironia de sua perfeita direção, sem um protesto, um gemido, uma voz da alma sofredora.

A atitude prevenida, sem desfalecimentos que se coroou de lume eloqüente da “política da Bahia se há de fazer na Bahia” já é vitalização, do mesmo passo que consciência desperta do que, entre nós, só se compreenderá adiado por delito consciente, à clássica.

E o momentoso aplauso dessa atitude sem meças, de todos os homens e todos os partidos, significa que de uma só frase curta se soubera dizer uma necessidade longa, encanecida.

Dr. Seabra não trabalhou na fogosa imaginativa, convenhamos, uma flor da retórica; surpreendeu o mal e, visionando-lhe as conseqüências, agiu, subitâneo, oportuno, com a limitação requerida, mas, em boa hora, a romper com as veleidades ambientes.

Por isso aí está seu substituto dr. Antônio Ferrão Muniz de Aragão, com a lei e a vontade geral, a dar fisionomia, personalidade à larga esperança coletiva.

À borda do quadriênio que vai derivar não nos assombra ou comove o mistério negro.

Se todo o futuro é misterioso, porque não há passado predeterminante, não nos atemoriza o mistério que se doura do olhar da nossa confiança.

E seja bendita ela, universalidade, porquanto se há de fazer numa das causas mesmas de bom rumo à chefia do Estado.

A descrença afiliada, a desesperança blasfêmia com que, as mais das vezes, desiludidos, vencidos, incapazes saturam o meio social, são causadoras, não raro, do afrouxamento de energias diretivas.

Não cremos no só poder sugestivo da confiança do povo simultânea embora, da de políticos militantes, mas, ainda, nas qualidades do governo, se as tem para a determinar.

No homem que ora, o assumem, elas são uma firme experiência de nosso meio político, de seus elementos moral e intelectualmente prestados, respeito à lei ser a superstição irrisória da lei, moderação, inteligência, visão clara das necessidades primordiais de nossos rincões, em que pese a simuladores de prestígio e capacidade.

Esperar o bem que venha desse governo, com fundamentos que tais, reconhecidamente positivos, têm seus matizes de certeza expectativa.

Nenhuns vapores alucinatórios, a subirem da terra que pisamos e amamos tanto, nos dão a voz das Pythias à predição do que haja de ser ou sair das dobras do futuro, mas se aqui como em “Sartor Resartus”, o fato é divino, ele mesmo nos cria o que verbalizamos somente.

Conhecendo que nada é impossível a quem pode querer, entretanto amador antes das voas que das grandes, pomposas reputações como homem particular de que não há destoado o político, o atual chefe de nosso Estado não sofismará sua vida preterida no retorcimento de uma ética menos admirável, pouco admirável.

A bel-prazer estamos ao lado de Prada, peruano ilustre; – o homem público é corolário do homem particular, de certo. E longe estamos de Buckle pensando na impossibilidade quem, perfeito político, não seja criminoso.

Alongamo-nos, mais que nunca, da sabedoria insular do velho inglês nesta hora fecunda em promessas ao povo baiano, e basta, para isso, o suponhamos curado da abolia que o prostrou até aos inícios do quadriênio extinto, e o creiamos certo de que o vindouro terá as benções de sua alegria sagrada.