Desta vez acabo a obra

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Desta vez acabo a obra,
porque é este o quarto
tomo das ações de um Sodomita,
dos progressos de um fanchono.
Esta é a dedicatória,
e bem que preverto o modo,
a ordem preposterando
dos prólogos, os prológios.
Não vai esta na dianteira,
antes no traseiro a ponho,
por ser traseiro o Senhor,
a quem dedico os meus tomos.
A vós, meu Antônio Luís,
a vós, meu Nausau ausônio,
assinalado do naso
pela natura do rosto:
A vós, merda dos fidalgos,
a vós, escória dos Godos,
Filho do Espírito Santo,
E bisneto de um caboclo:
A vós, fanchono beato,
Sodomita com bioco,
e finíssimo rabi
sem nascerdes cristão-novo:
A vós, cabra dos colchões,
que estoqueando-lhe os lombos,
sois fisgador de lombrigas
nas alagoas do olho:
A vós, vaca sempiterna
cosida, assada, e de molho,
Boi sempre, Galinha nunca
in secula seculorum:
A vós, ó perfumador
do vosso pagem cheiroso,
para vós algália sempre,
para vós sempre mondongo:
A vós, ó enforcador,
e por testemunhas tomo
os Irmãos da Santa Casa,
que lhes carregam os ossos:
Pois no dia dos Finados,
quando desenterram mortos
também murmuram de vós
pela grã carga dos ombros:
A vós, ilustre Tucano,
mal direito, e bem giboso,
pernas de rolo de pau,
antes de o levar ao torno:
A vós: basta tanto vós,
porque este insensato Povo
vendo, que por vós vos trato,
cuidará, que sois meu moço:
A vós dedico, e consagro
os meus volumes, e tomos,
defendei-os, se quiserdes,
e se não, vai nisso pouco.