Deus, que é vosso amigo d'alma

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Mote
Deus, que é vosso amigo d'alma,
na palma se vos vem pôr,
para mostrar, que de amor
só vós levastes a palma



1Quando o livrinho perdestes
lá na mata do botão,
Antônio, grande aflição
dentro em vossa alma tivestes:
e se da dor, que vencestes
levastes vitória, e palma,
bem se colhe, que em tal calma
tal dor, e tal agonia
só aliviar-vos podia
Deus, que é vosso amigo d'alma.

2Fez-vos Deus nessa ocasião
visita bem lisonjeira,
e por não puxar cadeira,
se sentou na vossa mão:
foi larga a conversação,
que o assunto foi de amor,
e porque um Frade menor,
(sendo menor que o Menino)
era de tal palma digno,
Na palma se vos vem pôr.

3Convosco o Menino então
um jogo, Antônio, jogou:
ele a palma vos ganhou,
mas vós ganhastes por mão:
não jogou entonces não
com o seu Servo o Senhor
para mostrar, que o favor
nasceu da ociosidade,
senão por mais majestade
Para mostrar, que de amor.

4Mostrou, que em quererdes bem
a um Deus, a quem imitastes,
não só premissas pagastes,
mas os dízimos também:
e por deixar em refém
deste amor a mais pura alma,
pois todas deixais em calma,
cantam os coros celestes,
que porque a palma a Deus destes
Só vos levastes a palma.