Página:A illustre Casa de Ramires (1900).djvu/94

Wikisource, a biblioteca livre
86
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

e ao trato das Auctoridades, estendeu largamente a mão ao Fidalgo da Torre, e acceitou, sem embaraço, a cadeira que elle lhe empurrára para a mesa — onde dominavam, com os seus ricos lavores duas altas enfusas de crystal antigo, uma cheia d’açucenas e a outra de vinho verde.

— Então, que bom vento o traz pela Torre, Pereira amigo? Não o vejo desde Abril!

— É verdade, meu Fidalgo, desde o sabbado em que cahiu a grande trovoada, na vespera da eleição! confirmou o Pereira affagando o cabo do guarda-sol que conservára entre os joelhos.

Gonçalo, n’uma esfaimada pressa do almoço, repicou a campainha de prata. Depois rindo:

— E os seus votos, Pereira amigo, segundo o costume, lá foram para o eterno Sanches Lucena, direitinhos, como os rios vão para o mar!

O Pereira tambem riu, com um riso agradado que lhe descobria os máos dentes. Pois o circulo era uma propriedade do Sr. Sanches Lucena! Cavalheiro de fortuna, homem de bem, conhecedor, serviçal... E então, quando lhe calhava como em Abril o apoio do Governo, nem Nosso Senhor Jesus Christo que voltasse á terra e se propuzesse por Villa-Clara desalojava o patrão da Feitosa!

O Bento, vagaroso, de jaqueta de lustrina preta sobre o avental resplandecente, entrava com um