Os Trabalhadores do Mar/Parte I/Livro III/IX: diferenças entre revisões

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Revisão das 02h18min de 19 de junho de 2006

Mess Lethierry governou a Durande enquanto pode navegar, e nunca teve outro piloto nem outro capitão; mas lá chegou um dia em que ele foi obrigado a deixar o mar. Escolheu para substituí-lo o Sr. Clubin, de Torteval, homem silencioso. O Sr. Clubin tinha, em toda a costa, fama de severa probidade. Era o alter ego e o vigário de Mess Lethierry.

O Sr. Clubin, embora desse mais ares de tabelião que de marinheiro, era um marítimo capaz e raro. Tinha todos os talentos que exige o perigo perpetuamente transformado. Era arrumador hábil, gajeiro meticuloso, contramestre desvelado e perito, timoneiro robusto, piloto instruído e atrevido capitão. Era prudente e algumas vezes levava a prudência ao ponto de ousar, o que é uma grande qualidade na vida marítima. Tinha o receio do provável temperado pelo instinto do possível. Era um desses marinheiros que afrontam o perigo em uma proporção conhecida deles, sabendo triunfar em todas as aventuras. Toda a certeza que o mar pode deixar a um homem, ele a tinha. Era, afém. disso, nadador de fama; pertencia a essa raça de homens exercitados na ginástica da vaga, que se conservam na água o tempo que se quer, e que, partindo de Havredes-Pas, dobram a Colette, fazem a volta de Ermitage e a do Castelo Elisabeth e voltam ao cabo de duas horas ao ponto de partida. Era de Torteval e dizia-se que fizera muitas vezes a nado o temível trajeto desde Manois até a ponta de Plaintmont.

Uma das coisas que mais recomendaram o Sr. Clubin a Mess Lethierry foi que, conhecendo ou penetrando Rantaine, assinalou a Mess Lethierry a improbidade daquele homem, e disse-lhe: Rantaine há de roubá-lo. Verificou-se a profecia.

Mais de uma vez, em negócios pouco importantes, é verdade, Mess Lethierry experimentou a escrupulosa honestidade do Sr. Clubin, e descansava nele. Mess Lethierry dizia: Consciência quer confiança.