A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Inferno/IV: diferenças entre revisões

Wikisource, a biblioteca livre
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Ligia (discussão | contribs)
Sem resumo de edição
Ligia (discussão | contribs)
Sem resumo de edição
Linha 256: Linha 256:
che spiriti son questi che tu vedi?<br/>
che spiriti son questi che tu vedi?<br/>
Or vo' che sappi, innanzi che più andi,<br/>
Or vo' che sappi, innanzi che più andi,<br/>



ch'ei non peccaro; e s'elli hanno mercedi,<br/>
ch'ei non peccaro; e s'elli hanno mercedi,<br/>
Linha 268: Linha 269:
semo perduti, e sol di tanto offesi<br/>
semo perduti, e sol di tanto offesi<br/>
che sanza speme vivemo in disio».<br/>
che sanza speme vivemo in disio».<br/>



Gran duol mi prese al cor quando lo 'ntesi,<br/>
Gran duol mi prese al cor quando lo 'ntesi,<br/>
Linha 312: Linha 314:
questi chi son c'hanno cotanta onranza,<br/>
questi chi son c'hanno cotanta onranza,<br/>
che dal modo de li altri li diparte?».<br/>
che dal modo de li altri li diparte?».<br/>



E quelli a me: «L'onrata nominanza<br/>
E quelli a me: «L'onrata nominanza<br/>

Revisão das 21h20min de 26 de fevereiro de 2005

<A Divina Comédia

Dante é despertado por um trovão e acha-se na orla do primeiro círculo. Entra depois no Limbo, onde estão os que não foram batizados, crianças e adultos. Mais adiante, num recinto luminoso, vê os sábios da antigüidade, que, embora não cristãos, viveram virtuosamente. Os dois poetas descem depois ao segundo círculo.

Tradução brasileira Original italiano

    Desse profundo sono fui tirado
    Por hórrido estampido, estremecendo
    Como quem é por força despertado.

    Ergui-me, e, os olhos quietos já volvendo,
    Perscruto por saber onde me achava,
    E a tudo no lugar sinistro atendo.

    A verdade é que então na borda estava
    Do vale desse abismo doloroso,
    Donde brado de infindos ais troava.

    Tão escuro, profundo e nebuloso
    Era, que a vista lhe inquirindo o fundo,
    Não distinguia no antro temeroso.

    “Eia! Baixemos, pois, da treva ao mundo!” —
    O Poeta então disse-me enfiando —
    “Eu descerei primeiro, tu segundo”. —

    Tornei-lhe, a palidez sua notando:
    “Como hei-de ir, se és de espanto dominado,
    Quando conforto estou de ti sperando?” —

    “Dos que lá são o angustioso estado
    Causa a que vês no rosto meu impressa,
    Piedade, medo não, como hás cuidado.

    “Vamos: longa a jornada exige pressa”.
    Entrou, e eu logo, o círculo primeiro
    Em que o abismo a estreitar-se já começa,

    Escutei: não mais pranto lastimeiro
    Ouvi; suspiros só, que murmuravam,
    Vibrando do ar eterno o espaço inteiro.

    Pesares sem martírio os motivavam
    De varões e de infantes, de mulheres
    Nas multidões, que ali se apinhoavam.

    “Conhecer” — meu bom Mestre diz — “não queres
    Quais são os que assim vês ora sofrendo?
    Antes de avante andar convém saberes

    “Que não pecaram: boas obras tendo
    Acham-se aqui; faltou-lhes o batismo,
    Portal da fé, em que és ditoso crendo.

    “Na vida antecedendo o Cristianismo,
    Devido culto a Deus nunca prestaram:
    Também sou dos que penam neste abismo.

    “Por tal defeito — os mais nos não mancharam —
    Perdemo-nos: a pena é desesp’rança,
    Desejos, que para sempre se frustaram”.

    Ouvi-lo, em dor o coração me lança,
    Pois muitos conheci de alta valia,
    A quem do Limbo a suspenção alcança.

    “Ó Mestre! Ó meu Senhor! diz-me — inquiria,
    Para ter da certeza o firme esteio
    À fé, que os erros todos desafia,

    “Por seu merecimento ou pelo alheio
    Daqui alguém ao céu já tem subido?”
    Da mente minha ao alvo o Mestre veio,

    E falou-me: “Des’pouco aqui trazido,
    Descer súbito vi forte guerreiro;
    De triunfal coroa era cingido.

    “Almas levou — do nosso pai primeiro,
    Abel, Noé, Moisés, que legislara,
    Abraam, na fé, na obediência inteiro,

    “Davi, que sobre o povo hebreu reinara,
    Israel com seu pai e a prole basta,
    E Raquel, por quem tanto se afanara.

    “Para a glória outros muitos mais afasta
    Do Limbo; e sabe tu que antes não fora
    Salvo quem pertencera à humana casta”.

    Andávamos, enquanto isto memora,
    Sem parar, pela selva penetrando,
    Selva de almas, que aumenta de hora em hora,

    E da entrada não longe ainda estando,
    Eis um clarão brilhante divisamos
    Das trevas o hemisfério alumiando.

    Dali distantes ainda nos achamos
    Não tanto, que eu não discernisse em parte
    Que à sede de almas nobres caminhamos.

    “Ó tu, que és honra da ciência e da arte,
    Quem são” — disse — “os que, aos outros preferidos,
    Privilégio tamanho assim disparte?”

    Falou Virgílio: “— Assim são distinguidos
    Do céu, que atende à fama alta e preclara,
    Com que foram na terra engrandecidos”.

    Eis voz escuto sonorosa e clara:
    “Honrai todos o altíssimo poeta!
    A sombra sua torna, que ausentara”.

    Quatro sombras notei, quando aquieta
    O rumor, que a nós vinham: nos semblantes
    Nem prazer, nem tristeza se interpreta.

    E disse o Mestre, após alguns instantes:
    “Aquele vê, que, qual monarca ufano,
    Empunha espada e os três deixa distantes.

    É Homero, o poeta soberano;
    O satírico Horácio é o outro, e ao lado
    Ovídio, em lugar último Lucano.

    Como lhes cabe o nome assinalado
    Que soou nessa voz há pouco ouvida,
    Me honrando, honrosa ação têm praticado”.

    A bela escola assim vi reunida
    Do Mestre egrégio do sublime canto,
    Águia em seu vôo além dos mais erguida.

    Discursado entre si tendo algum tanto,
    A mim volveram gracioso o gesto:
    Sorriu Virgílio, dessa mostra ao encanto.

    Mais foi-me alto conceito manifesto,
    Quando acolher-me ao grêmio seu quiseram,
    Entre eles me cabendo o lugar sexto.

    Té o clarão comigo se moveram,
    Prática havendo, que omitir é belo,
    Sublime no lugar, onde a teceram.

    Chegamos junto a um fúlgido castelo
    Sete vezes de muro alto cercado:
    Cinge-o ribeiro lindo, mas singelo.

    Passei-o a pé enxuto; acompanhado
    Entrei por sete portas, caminhando
    De fresca relva até ameno prado.

    Graves, pausados olhos meneando
    Stavam sombras de aspecto majestoso,
    Com voz suave rara vez falando.

    A um lado, sobre viso luminoso
    Subimo-nos: de lá se divisava
    Dessas almas o bando numeroso.

    No verde esmalte o Mestre me indicava
    Egrégias sombras: inda me extasia
    O prazer com que vê-los exultava.

    Eletra vi de heróis na companhia,
    Enéias com Heitor e guarnecido
    Grifanhos olhos César nos volvia.

    Pentesiléia vi e o rosto ardido
    De Camila, e sentado o rei Latino
    Junto a Lavinia estava enternecido.

    Notei Márcia, Lucrécia e o que Tarquino
    Lançou, Cornélia e Júlia; retirado
    De todos demorava Saladino.

    Alçando os olhos, de respeito entrado,
    O Mestre vejo dos que mais se acimam
    Em saber, de filósofos cercado.

    Todos com honra e acatamento o estimam.
    Aqui Platão e Sócrates estavam,
    Que na grandeza mais se lhe aproximam.

    Demócrito, o atomista, acompanhavam
    Tales, Zeno, Heráclito e Anaxagora.
    Empédocle e Diógenes falavam,

    Dióscoris, o que a natura outrora
    Sábio estudara, Orfeu, Túlio eloqüente,
    Sêneca, o douto, que a moral explora,

    Lívio, Euclides, Hipócrates ingente,
    Ptolomeu, Galeno e o Avicena;
    Averróis, nos comentos sapiente.

    Resenha não me é dado fazer plena
    De todos; longo o assunto está-me urgindo,
    E a ser omisso muita vez condena.

    A companhia então se dividindo,
    Comigo o Mestre outra vereda trilha,
    Do ar sereno ao ar, que treme, vindo:

    Chegados somos onde luz não brilha.

    Ruppemi l'alto sonno ne la testa
    un greve truono, sì ch'io mi riscossi
    come persona ch'è per forza desta;

    e l'occhio riposato intorno mossi,
    dritto levato, e fiso riguardai
    per conoscer lo loco dov' io fossi.

    Vero è che 'n su la proda mi trovai
    de la valle d'abisso dolorosa
    che 'ntrono accoglie d'infiniti guai.

    Oscura e profonda era e nebulosa
    tanto che, per ficcar lo viso a fondo,
    io non vi discernea alcuna cosa.

    «Or discendiam qua giù nel cieco mondo»,
    cominciò il poeta tutto smorto.
    «Io sarò primo, e tu sarai secondo».

    E io, che del color mi fui accorto,
    dissi: «Come verrò, se tu paventi
    che suoli al mio dubbiare esser conforto?».

    Ed elli a me: «L'angoscia de le genti
    che son qua giù, nel viso mi dipigne
    quella pietà che tu per tema senti.

    Andiam, ché la via lunga ne sospigne».
    Così si mise e così mi fé intrare
    nel primo cerchio che l'abisso cigne.

    Quivi, secondo che per ascoltare,
    non avea pianto mai che di sospiri
    che l'aura etterna facevan tremare;

    ciò avvenia di duol sanza martìri,
    ch'avean le turbe, ch'eran molte e grandi,
    d'infanti e di femmine e di viri.

    Lo buon maestro a me: «Tu non dimandi
    che spiriti son questi che tu vedi?
    Or vo' che sappi, innanzi che più andi,


    ch'ei non peccaro; e s'elli hanno mercedi,
    non basta, perché non ebber battesmo,
    ch'è porta de la fede che tu credi;

    e s'e' furon dinanzi al cristianesmo,
    non adorar debitamente a Dio:
    e di questi cotai son io medesmo.

    Per tai difetti, non per altro rio,
    semo perduti, e sol di tanto offesi
    che sanza speme vivemo in disio».


    Gran duol mi prese al cor quando lo 'ntesi,
    però che gente di molto valore
    conobbi che 'n quel limbo eran sospesi.

    «Dimmi, maestro mio, dimmi, segnore»,
    comincia' io per volere esser certo
    di quella fede che vince ogne errore:

    «uscicci mai alcuno, o per suo merto
    o per altrui, che poi fosse beato?».
    E quei che 'ntese il mio parlar coverto,

    rispuose: «Io era nuovo in questo stato,
    quando ci vidi venire un possente,
    con segno di vittoria coronato.

    Trasseci l'ombra del primo parente,
    d'Abèl suo figlio e quella di Noè,
    di Moïsè legista e ubidente;

    Abraàm patrïarca e Davìd re,
    Israèl con lo padre e co' suoi nati
    e con Rachele, per cui tanto fé,

    e altri molti, e feceli beati.
    E vo' che sappi che, dinanzi ad essi,
    spiriti umani non eran salvati».

    Non lasciavam l'andar perch' ei dicessi,
    ma passavam la selva tuttavia,
    la selva, dico, di spiriti spessi.

    Non era lunga ancor la nostra via
    di qua dal sonno, quand' io vidi un foco
    ch'emisperio di tenebre vincia.

    Di lungi n'eravamo ancora un poco,
    ma non sì ch'io non discernessi in parte
    ch'orrevol gente possedea quel loco.

    «O tu ch'onori scïenzïa e arte,
    questi chi son c'hanno cotanta onranza,
    che dal modo de li altri li diparte?».


    E quelli a me: «L'onrata nominanza
    che di lor suona sù ne la tua vita,
    grazïa acquista in ciel che sì li avanza».

    Intanto voce fu per me udita:
    «Onorate l'altissimo poeta;
    l'ombra sua torna, ch'era dipartita».

    Poi che la voce fu restata e queta,
    vidi quattro grand' ombre a noi venire:
    sembianz' avevan né trista né lieta.

    Lo buon maestro cominciò a dire:
    «Mira colui con quella spada in mano,
    che vien dinanzi ai tre sì come sire:

    quelli è Omero poeta sovrano;
    l'altro è Orazio satiro che vene;
    Ovidio è 'l terzo, e l'ultimo Lucano.

    Però che ciascun meco si convene
    nel nome che sonò la voce sola,
    fannomi onore, e di ciò fanno bene».

    Così vid' i' adunar la bella scola
    di quel segnor de l'altissimo canto
    che sovra li altri com' aquila vola.

    Da ch'ebber ragionato insieme alquanto,
    volsersi a me con salutevol cenno,
    e 'l mio maestro sorrise di tanto;

    e più d'onore ancora assai mi fenno,
    ch'e' sì mi fecer de la loro schiera,
    sì ch'io fui sesto tra cotanto senno.

    Così andammo infino a la lumera,
    parlando cose che 'l tacere è bello,
    sì com' era 'l parlar colà dov' era.

    Venimmo al piè d'un nobile castello,
    sette volte cerchiato d'alte mura,
    difeso intorno d'un bel fiumicello.

    Questo passammo come terra dura;
    per sette porte intrai con questi savi:
    giugnemmo in prato di fresca verdura.

    Genti v'eran con occhi tardi e gravi,
    di grande autorità ne' lor sembianti:
    parlavan rado, con voci soavi.

    Traemmoci così da l'un de' canti,
    in loco aperto, luminoso e alto,
    sì che veder si potien tutti quanti.

    Colà diritto, sovra 'l verde smalto,
    mi fuor mostrati li spiriti magni,
    che del vedere in me stesso m'essalto.

    I' vidi Eletra con molti compagni,
    tra ' quai conobbi Ettòr ed Enea,
    Cesare armato con li occhi grifagni.

    Vidi Cammilla e la Pantasilea;
    da l'altra parte vidi 'l re Latino
    che con Lavina sua figlia sedea.

    Vidi quel Bruto che cacciò Tarquino,
    Lucrezia, Iulia, Marzïa e Corniglia;
    e solo, in parte, vidi 'l Saladino.

    Poi ch'innalzai un poco più le ciglia,
    vidi 'l maestro di color che sanno
    seder tra filosofica famiglia.

    Tutti lo miran, tutti onor li fanno:
    quivi vid' ïo Socrate e Platone,
    che 'nnanzi a li altri più presso li stanno;

    Democrito che 'l mondo a caso pone,
    Dïogenès, Anassagora e Tale,
    Empedoclès, Eraclito e Zenone;

    e vidi il buono accoglitor del quale,
    Dïascoride dico; e vidi Orfeo,
    Tulïo e Lino e Seneca morale;

    Euclide geomètra e Tolomeo,
    Ipocràte, Avicenna e Galïeno,
    Averoìs, che 'l gran comento feo.

    Io non posso ritrar di tutti a pieno,
    però che sì mi caccia il lungo tema,
    che molte volte al fatto il dir vien meno.

    La sesta compagnia in due si scema:
    per altra via mi mena il savio duca,
    fuor de la queta, ne l'aura che trema.

    E vegno in parte ove non è che luca.

Índice Canto 5