Eu (Augusto dos Anjos, 1912)/Barcarola: diferenças entre revisões
Sem resumo de edição |
m Foram revertidas as edições de 179.189.243.242 (disc) para a última revisão de Lucia Bot |
||
Linha 11: | Linha 11: | ||
Vela o Destino dos nautas. |
Vela o Destino dos nautas. |
||
Espelham-se os esplendores |
Espelham-se os esplendores |
||
Linha 20: | Linha 19: | ||
Das mais deslumbrantes cores. |
Das mais deslumbrantes cores. |
||
Em fulvos filões doirados |
Em fulvos filões doirados |
||
Linha 29: | Linha 27: | ||
Como globos estrelados. |
Como globos estrelados. |
||
Lá onde as rochas se assentam |
Lá onde as rochas se assentam |
||
Linha 38: | Linha 35: | ||
Que os navegantes orientam. |
Que os navegantes orientam. |
||
Vai uma onda, vem outra onda |
Vai uma onda, vem outra onda |
||
Linha 47: | Linha 43: | ||
Quem as esconda, as esconda... |
Quem as esconda, as esconda... |
||
Alegoria tristonha |
Alegoria tristonha |
||
Linha 56: | Linha 51: | ||
Se um cai, outro se ergue e sonha. |
Se um cai, outro se ergue e sonha. |
||
Mas desgraçado do pobre |
Mas desgraçado do pobre |
||
Linha 65: | Linha 59: | ||
Para o túmulo que o cobre. |
Para o túmulo que o cobre. |
||
Vagueia um poeta num barco. |
Vagueia um poeta num barco. |
||
Linha 74: | Linha 67: | ||
Imita a curva de um arco. |
Imita a curva de um arco. |
||
A Lua - globo de louça - |
A Lua - globo de louça - |
||
Linha 83: | Linha 75: | ||
Ouçam e a Lua Cheia ouça! |
Ouçam e a Lua Cheia ouça! |
||
Ouça do alto a Lua Cheia |
Ouça do alto a Lua Cheia |
||
Linha 92: | Linha 83: | ||
Para se ouvir a sereia. |
Para se ouvir a sereia. |
||
Que é que ela diz?! Será uma |
Que é que ela diz?! Será uma |
||
Linha 101: | Linha 91: | ||
Não é história nenhuma. |
Não é história nenhuma. |
||
E como um requiem profundo |
E como um requiem profundo |
||
Linha 110: | Linha 99: | ||
Das dores todas do mundo. |
Das dores todas do mundo. |
||
"Fecha-te nesse medonho |
"Fecha-te nesse medonho |
||
Linha 119: | Linha 107: | ||
"Sonhador do último sonho! |
"Sonhador do último sonho! |
||
"Numa redoma ilusória |
"Numa redoma ilusória |
||
Linha 128: | Linha 115: | ||
"Há de cercar-te essa glória! |
"Há de cercar-te essa glória! |
||
"Nunca mais! Sê, porém, forte. |
"Nunca mais! Sê, porém, forte. |
||
Linha 137: | Linha 123: | ||
"E morre, poeta da Morte!" |
"E morre, poeta da Morte!" |
||
- E disse e porque isto disse |
- E disse e porque isto disse |
||
Linha 146: | Linha 131: | ||
Sem que o poeta o pressentisse! |
Sem que o poeta o pressentisse! |
||
Vista de luto o Universo |
Vista de luto o Universo |
||
Linha 156: | Linha 140: | ||
Mais um coveiro do Verso! |
Mais um coveiro do Verso! |
||
⚫ | |||
⚫ | |||
Pelo mar e pelo mar |
Pelo mar e pelo mar |
Revisão das 00h38min de 30 de dezembro de 2016
Cantam nautas, choram flautas
Pelo mar e pelo mar
Uma sereia a cantar
Vela o Destino dos nautas.
Espelham-se os esplendores
Do céu, em reflexos, nas
Águas, fingindo cristais
Das mais deslumbrantes cores.
Em fulvos filões doirados
Cai a luz dos astros por
Sobre o marítimo horror
Como globos estrelados.
Lá onde as rochas se assentam
Fulguram como outros sóis
Os flamívomos faróis
Que os navegantes orientam.
Vai uma onda, vem outra onda
E nesse eterno vaivém
Coitadas! não acham quem,
Quem as esconda, as esconda...
Alegoria tristonha
Do que pelo Mundo vai!
Se um sonha e se ergue, outro cai;
Se um cai, outro se ergue e sonha.
Mas desgraçado do pobre
Que em meio da Vida cai!
Esse não volta, esse vai
Para o túmulo que o cobre.
Vagueia um poeta num barco.
O Céu, de cima, a luzir
Como um diamante de Ofir
Imita a curva de um arco.
A Lua - globo de louça -
Surgiu, em lúcido véu.
Cantam! Os astros do Céu
Ouçam e a Lua Cheia ouça!
Ouça do alto a Lua Cheia
Que a sereia vai falar...
Haja silêncio no mar
Para se ouvir a sereia.
Que é que ela diz?! Será uma
História de amor feliz?
Não! O que a sereia diz
Não é história nenhuma.
E como um requiem profundo
De tristíssimos bemóis...
Sua voz é igual à voz
Das dores todas do mundo.
"Fecha-te nesse medonho
"Reduto de Maldição,
"Viajeiro da Extrema-Unção,
"Sonhador do último sonho!
"Numa redoma ilusória
"Cercou-te a glória falaz,
"Mas nunca mais, nunca mais
"Há de cercar-te essa glória!
"Nunca mais! Sê, porém, forte.
"O poeta é como Jesus!
"Abraça-te á tua Cruz
"E morre, poeta da Morte!"
- E disse e porque isto disse
O luar no Céu se apagou...
Súbito o barco tombou
Sem que o poeta o pressentisse!
Vista de luto o Universo
E Deus se enlute no Céu!
Mais um poeta que morreu,
Mais um coveiro do Verso!
Cantam flautas, choram flautas
Pelo mar e pelo mar
Uma sereia a cantar
Vela o Destino dos nautas!
(Eu, 54)