Fausto (traduzido por António Feliciano de Castilho)/Quadro X: diferenças entre revisões

Wikisource, a biblioteca livre
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Ozymandias (discussão | contribs)
nova página: {{navegar |obra=Fausto |autor=Goethe |tradutor=António Feliciano de Castilho |anterior=Fausto (traduzi...
 
m →‎top: clean up utilizando AWB
 
Linha 1: Linha 1:
{{navegar
{{navegar
|obra=[[Fausto (traduzido por António Feliciano de Castilho)|Fausto]]
|obra=[[../|Fausto]]
|autor=Goethe
|autor=Goethe
|tradutor=António Feliciano de Castilho
|tradutor=António Feliciano de Castilho
|anterior=[[Fausto (traduzido por António Feliciano de Castilho)/Quadro IX|Quadro IX]]
|anterior=[[../Quadro IX|Quadro IX]]
|posterior=[[Fausto (traduzido por António Feliciano de Castilho)/Quadro XI|Quadro XI]]
|posterior=[[../Quadro XI|Quadro XI]]
|seção=Quadro X
|seção=Quadro X
}}
}}

Edição atual desde as 02h44min de 20 de maio de 2020

Um arvoredo de passeio.

Cena I[editar]

FAUSTO vai e vem meditabundo. MEFISTÓFELES.

MEFISTÓFELES (acercando-se furioso a Fausto)

Voto ao falsear no amor! Voto às essências
do meu reino infernal!... e votaria
praga maior, se me lembrasse. Voto...

FAUSTO

Que tens? quem te fez mal? Nunca vi cara
de tanto desespero.

MEFISTÓFELES

Hoje ao diabo,
se o eu não fosse, me daria eu próprio.

FAUSTO

Que pancada na mola! Acho pilhéria
nesse teu bravejar.

MEFISTÓFELES

Faça de conta
que o ladrão de um sotaina...

FAUSTO

Um padre?

MEFISTÓFELES

Um padre:
atabafou à pobre Margarida
quanto o Doutor lhe dera. Aí vai a história:
Entra-lhe a mãe no quarto; avista as jóias,
e enche-se de terror. É que a velhusca
tem um faro! Como anda de contínuo
afocinhada no seu livro de Horas,
só por esse fortum distingue à légua
se o cheiro que lhe vem de cada coisa
é santo, ou cá dos meus. Por conseguinte
pronta aventou nas jóias do adereço
cheirarem pouco a céu:
– «Digo-te, filha
– resmoneou – que os bens mal adquiridos
peste são d’alma e corpo. O mais seguro
é darmo-los de oferta à Mãe Santíssima,
e a benção do Senhor será connosco!»
A Margarida, um tanto amuadinha,
pensou consigo, a sós:
«Cavalo dado,
et cœt’ra. E quem nos manda um tal presente,
de um modo tão cortês, não dá motivo
para o crermos perverso.»
A mestra abelha
sempre à cautela foi chamando o bonzo.
Este, apenas ouvida a brincadeira,
quis ver; alvoroçaram-se-lhe os olhos,
e exclamou:
– «Sim senhora, isso é que é honra!
Quem se vence é que vence. A madre igreja
esmoe bem, Deus louvado; engole reinos
sem ter indigestão. Só ela pode,
minhas caras irmãs, tragar sem risco
riquezas mal ganhadas.»

FAUSTO

Quanto a isso
tem companheiros. Um judeu, podendo,
e um Rei lêem pelo mesmo breviário.

MEFISTÓFELES (continuando)

E acto continuo, foi chamando ao bolso
afogador, aneis, pulseiras, tudo
como coisas de nada, um cabazinho
de avelãs chochas. Deu-lhes por seguros
mil prémios na outra vida, e pôs ao fresco,
deixando-as grandemente edificadas.

FAUSTO

E a Margarida? a Margarida?

MEFISTÓFELES

Ai! essa
lá está sentada a malucar sozinha,
sem saber o que deva, ou que resolva.
Não lhe saem da ideia as louçainhas,
e menos quem lhas deu.

FAUSTO

Portanto pena;
e eu por ela também. Corre a buscar-lhe
novo adereço, e vê se melhorado,
que o outro realmente era bem pífio!

MEFISTÓFELES

Com que então, pareceram-lhe as tais jóias
uns bonitos de feira! Agradecido,
magnânimo Doutor!

FAUSTO

Silêncio! Parte,
e arranja as coisas a meu gosto. Ouviste?
Faze-te bem de casa co’a vizinha!
Não sejas papa-assorda, e presto presto
já nova joalharia.

MEFISTÓFELES (com humildade afectada)

Inteiramente
ao seu dispor meu amo.

(Sai Fausto.)

Cena II[editar]

MEFISTÓFELES (só)

Um doido amante
daquela força, iria, se pudesse,
às estrelas, à lua, ao sol pôr lume,
só para regalar a sua amada
de ver nos céus um fogo d’artifício,
em que tudo estoirando esfuzilasse.