Eu (Augusto dos Anjos, 1912)/O Corrupião: diferenças entre revisões

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Escaveirado corrupião idiota,

Olha a atmosfera livre, o amplo éter belo,

E a alga criptógama e a úsnea e o cogumelo,

Que do fundo do chão todo o ano brota!

Mas a ânsia de alto voar, de à antiga rota

Voar, não tens mais! E pois, preto e amarelo,

Pões-te a assobiar, bruto, sem cerebelo

A gargalhada da última derrota!

A gaiola aboliu tua vontade.

Tu nunca mais verás a liberdade!...

Ah! Tu somente ainda és igual a mim.

Continua a comer teu milho alpiste.

Foi este mundo que me fez tão triste,

Foi a gaiola que te pôs assim!

(Eu, 42)