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da mudança, que principiava a operar-se na língua vulgar do novo Estado fundado pelo conde D. Henrique.

O primeiro monumento incontestável que possuímos de língua portuguesa é o Cancioneiro, do rei D. Dinis, que começou a reinar em 1279. A linguagem desse documento, de fins do século XIII, é sim rude e tosca, como o pode ser um misto de latim bárbaro com termos godos, árabes e catalães, mas já é portuguesa em sua forma e índole a ponto de não poder ser desconhecida, e bem distinta do Espanhol que então se falava; do que nós podemos convencer, comparando-a com a do primeiro monumento de língua espanhola do mesmo século, ou romance do Cid por mim citado no precedente discurso.

D. Dinis, rei poeta e versado no conhecimento da língua e dos autores latinos, mereceu o nome de sábio aos seus contemporâneos e o foi de certo, porque tanta ciência em um rei era um verdadeiro prodígio naqueles tempos de crassa ignorância. D. Dinis não só cultivou, mas também animou as letras, fundando, em 1290, a Universidade de Lisboa, que pouco depois passou a ser de Coimbra, e ordenando que alguma obras estrangeiras fossem traduzidas em língua vulgar. Foi ele, talvez, o primeiro que previu o que podia vir a ser o português, compondo o seu Cancioneiro em vulgar, e convidando com o seu exemplo outros a imitá-lo. Quando apareceu o Cancioneiro desse sábio rei, o Latim era ainda a língua em que geralmente se escrevia.