Ode ao Dous de Julho: diferenças entre revisões

Wikisource, a biblioteca livre
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Sem resumo de edição
 
m ajustes (AWB)
Linha 1: Linha 1:
{{navegar
{{navegar
|obra={{PAGENAME}}
|obra=Ode ao Dous de Julho
|autor=Castro Alves
|autor=Castro Alves
|notas={{integra|poema=[[Espumas Flutuantes]]}}
|notas=Recitada no teatro de São Paulo
|notas=Recitada no teatro de São Paulo
}}
}}<poem>
Era no dous de julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito...
O mundo perguntava erguendo um grito:


"Qual dos gigantes morto rolará?!..."
<BR>Era no dous de julho. A pugna imensa
Debruçados do céu... a noite e os astros
<BR>Travara-se nos cerros da Bahia...
Seguiam da peleja o incerto fado...
<BR>O anjo da morte pálido cosia
Era a tocha &mdash; o fuzil avermelhado!
<BR>Uma vasta mortalha em Pirajá.
Era o Circo de Roma-o vasto chão!
<BR>"Neste lençol tão largo, tão extenso,
Por palmas-o troar da artilharia!
<BR>"Como um pedaço roto do infinito...
<BR>O mundo perguntava erguendo um grito:


Por feras-os canhões negros rugiam!
<BR>"Qual dos gigantes morto rolará?!..."
Por atletas-dous povos se batiam!
<BR>Debruçados do céu... a noite e os astros
Enorme anfiteatro &mdash; era a amplidão!
<BR>Seguiam da peleja o incerto fado...
Não! Não eram dous povos, que abalavam
<BR>Era a tocha -o fuzil avermelhado!
Naquele instante o solo ensangüentado...
<BR>Era o Circo de Roma-o vasto chão!
Era o porvir-em frente do passado,
<BR>Por palmas-o troar da artilharia!


A Liberdade-em frente à Escravidão,
<BR>Por feras-os canhões negros rugiam!
Era a luta das águias &mdash; e do abutre,
<BR>Por atletas-dous povos se batiam!
A revolta do pulso-contra os ferros,
<BR>Enorme anfiteatro - era a amplidão!
O pugilato da razão &mdash; com os erros,
<BR>Não! Não eram dous povos, que abalavam
O duelo da treva-e do clarão!...
<BR>Naquele instante o solo ensangüentado...
No entanto a luta recrescia indômita...
<BR>Era o porvir-em frente do passado,


As bandeiras &mdash; como águias eriçadas &mdash;
<BR>A Liberdade-em frente à Escravidão,
Se abismavam com as asas desdobradas
<BR>Era a luta das águias - e do abutre,
Na selva escura da fumaça atroz...
<BR>A revolta do pulso-contra os ferros,
Tonto de espanto, cego de metralha,
<BR>O pugilato da razão - com os erros,
<BR>O duelo da treva-e do clarão!...
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
<BR>No entanto a luta recrescia indômita...


O cadáver sangrento dos heróis!...
<BR>As bandeiras - como águias eriçadas -
Mas quando a branca estrela matutina
<BR>Se abismavam com as asas desdobradas
Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras
<BR>Na selva escura da fumaça atroz...
No verde leque das gentis palmeiras
<BR>Tonto de espanto, cego de metralha,
<BR>O arcanjo do triunfo vacilava...
Foram cantar os hinos do arrebol,
<BR>E a glória desgrenhada acalentava


Lá do campo deserto da batalha
<BR>O cadáver sangrento dos heróis!...
Uma voz se elevou clara e divina:
<BR>Mas quando a branca estrela matutina
Eras tu&mdash; Liberdade peregrina!
<BR>Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras
Esposa do porvir-noiva do sol!...
<BR>No verde leque das gentis palmeiras
Eras tu que, com os dedos ensopados
<BR>&nbsp;
No sangue dos avós mortos na guerra,
<BR>Foram cantar os hinos do arrebol,
Livre sagravas a Colúmbia terra,


Sagravas livre a nova geração!
<BR>Lá do campo deserto da batalha Uma voz se elevou clara
Tu que erguias, subida na pirâmide,
e divina:
Formada pelos mortos de Cabrito,
<BR>Eras tu- Liberdade peregrina!
Um pedaço de gládio &mdash; no infinito...
<BR>Esposa do porvir-noiva do sol!...
Um trapo de bandeira &mdash; n'amplidão!...
<BR>Eras tu que, com os dedos ensopados
</poem>
<BR>No sangue dos avós mortos na guerra,
<BR>Livre sagravas a Colúmbia terra,


<BR>Sagravas livre a nova geração!
<BR>Tu que erguias, subida na pirâmide,
<BR>Formada pelos mortos de Cabrito,
<BR>Um pedaço de gládio - no infinito...
<BR>Um trapo de bandeira - n'amplidão!...

''([[Espumas Flutuantes]], 34)''
[[Categoria:Castro Alves]]
[[Categoria:Castro Alves]]
[[Categoria:Espumas Flutuantes]]
[[Categoria:Poesia brasileira]]
[[Categoria:Poesia brasileira]]
[[Categoria:Romantismo brasileiro]]

Revisão das 05h39min de 25 de março de 2007

Era no dous de julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito...
O mundo perguntava erguendo um grito:

"Qual dos gigantes morto rolará?!..."
Debruçados do céu... a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era a tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma-o vasto chão!
Por palmas-o troar da artilharia!

Por feras-os canhões negros rugiam!
Por atletas-dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!
Não! Não eram dous povos, que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado...
Era o porvir-em frente do passado,

A Liberdade-em frente à Escravidão,
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso-contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva-e do clarão!...
No entanto a luta recrescia indômita...

As bandeiras — como águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha,
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava

O cadáver sangrento dos heróis!...
Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
 
Foram cantar os hinos do arrebol,

Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina:
Eras tu— Liberdade peregrina!
Esposa do porvir-noiva do sol!...
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,

Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos de Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito...
Um trapo de bandeira — n'amplidão!...