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}}<poem>
{{d|A Regueira Costa}}
[[Categoria:Castro Alves]]
[[Categoria:Poesia francesa]]


A águia é o gênio... Da tormenta o pássaro,
<BR>A Regueira Costa
Que do monte arremete altivo píncaro,
<BR>A águia é o gênio... Da tormenta o pássaro,
Qu'ergue um grito aos fulgores do arrebol,
<BR>Que do monte arremete altivo píncaro,
<BR>Qu'ergue um grito aos fulgores do arrebol,


<BR>Cuja garra jamais se pela em lodo,
Cuja garra jamais se pela em lodo,
<BR>E cujo olhar de fogo troca raios
E cujo olhar de fogo troca raios
<BR>- Contra os raios do sol.
&mdash; Contra os raios do sol.
<BR>Não tem ninho de palhas... tem um antro
Não tem ninho de palhas... tem um antro
<BR>-Rocha talhada ao martelar do raio,
&mdash; Rocha talhada ao martelar do raio,
<BR>-Brecha em serra, ant'a qual o olhar tremeu...
&mdash; Brecha em serra, ant'a qual o olhar tremeu...


<BR>No flanco da montanha-asilo trêmulo,
No flanco da montanha-asilo trêmulo,
<BR>Que sacode o tufão entre os abismos
Que sacode o tufão entre os abismos
<BR>- O precipício e o céu.
&mdash; O precipício e o céu.
<BR>Nem pobre verme, nem dourada abelha
Nem pobre verme, nem dourada abelha
<BR>Nem azul borboleta... sua prole
Nem azul borboleta... sua prole
<BR>Faminta, boquiaberta espera ter...
Faminta, boquiaberta espera ter...


<BR>Não! São aves da noite, são serpentes,
Não! São aves da noite, são serpentes,
<BR>São lagartos imundos, que ela arroja
São lagartos imundos, que ela arroja
<BR>Aos filhos p'ra viver.
Aos filhos p'ra viver.
<BR>Ninho de rei!... palácio tenebroso,
Ninho de rei!... palácio tenebroso,
<BR>&nbsp;
<BR>Que a avalanche a saltar cerca tombando!...
Que a avalanche a saltar cerca tombando!...


<BR>O gênio aí enseiba a geração...
O gênio aí enseiba a geração...
<BR>E ao céu lhe erguendo os olhos flamejantes
E ao céu lhe erguendo os olhos flamejantes
<BR>Sob as asas de fogo aquenta as almas
Sob as asas de fogo aquenta as almas
<BR>Que um dia voarão.
Que um dia voarão.
<BR>Por que espantas-te, amigo, se tua fronte
Por que espantas-te, amigo, se tua fronte
<BR>Já de raios pejada, choca a nuvem?...
Já de raios pejada, choca a nuvem?...


<BR>Se o réptil em seu ninho se debate?...
Se o réptil em seu ninho se debate?...
<BR>É teu folgar primeiro... é tua festa!...
É teu folgar primeiro... é tua festa!...
<BR>Águias! P'ra vós cad'hora é uma tormenta,
Águias! P'ra vós cad'hora é uma tormenta,
<BR>Cada festa um combate!...
Cada festa um combate!...
<BR>Radia!... É tempo!... E se a lufada erguer-se
Radia!... É tempo!... E se a lufada erguer-se
<BR>Muda a noite feral em prisma fúlgido!
Muda a noite feral em prisma fúlgido!


<BR>De teu alto pensar completa a lei!...
De teu alto pensar completa a lei!...
<BR>Irmão!-Prende esta mão de irmão na minha!...
Irmão!-Prende esta mão de irmão na minha!...
<BR>Toma a lira-Poeta! Águia!-esvoaça!
Toma a lira-Poeta! Águia!-esvoaça!
<BR>Sobe, sobe, astro rei!...
Sobe, sobe, astro rei!...
<BR>De tua aurora a bruma vai fundir-se
De tua aurora a bruma vai fundir-se
<BR>Águia! faz-te mirar do sol, do raio;
Águia! faz-te mirar do sol, do raio;


<BR>Arranca um nome no febril cantar.
Arranca um nome no febril cantar.
<BR>Vem! A glória, que é o alvo de vis setas,
Vem! A glória, que é o alvo de vis setas,
<BR>É bandeira arrogante, que o combate
É bandeira arrogante, que o combate
<BR>Embeleza ao rasgar.
Embeleza ao rasgar.
<BR>O meteoro real - de coma fúlgida -
O meteoro real &mdash; de coma fúlgida &mdash;
<BR>Rola e se engrossa ao devorar dos mundos...
Rola e se engrossa ao devorar dos mundos...


<BR>Gigante! Cresces todo o dia assim!...
Gigante! Cresces todo o dia assim!...
<BR>Tal teu gênio, arrastando em novos trilhos
Tal teu gênio, arrastando em novos trilhos
<BR>No curso audaz constelações de idéias,
No curso audaz constelações de idéias,
<BR>Marcha e recresce no marchar sem fim!...
Marcha e recresce no marchar sem fim!...
</poem>


[[Categoria:Castro Alves]]
''([[Espumas Flutuantes]], 30)''
[[Categoria:Poesia francesa]]

Revisão das 05h55min de 25 de março de 2007

A Regueira Costa



A águia é o gênio... Da tormenta o pássaro,
Que do monte arremete altivo píncaro,
Qu'ergue um grito aos fulgores do arrebol,

Cuja garra jamais se pela em lodo,
E cujo olhar de fogo troca raios
— Contra os raios do sol.
Não tem ninho de palhas... tem um antro
— Rocha talhada ao martelar do raio,
— Brecha em serra, ant'a qual o olhar tremeu...

No flanco da montanha-asilo trêmulo,
Que sacode o tufão entre os abismos
— O precipício e o céu.
Nem pobre verme, nem dourada abelha
Nem azul borboleta... sua prole
Faminta, boquiaberta espera ter...

Não! São aves da noite, são serpentes,
São lagartos imundos, que ela arroja
Aos filhos p'ra viver.
Ninho de rei!... palácio tenebroso,
 
Que a avalanche a saltar cerca tombando!...

O gênio aí enseiba a geração...
E ao céu lhe erguendo os olhos flamejantes
Sob as asas de fogo aquenta as almas
Que um dia voarão.
Por que espantas-te, amigo, se tua fronte
Já de raios pejada, choca a nuvem?...

Se o réptil em seu ninho se debate?...
É teu folgar primeiro... é tua festa!...
Águias! P'ra vós cad'hora é uma tormenta,
Cada festa um combate!...
Radia!... É tempo!... E se a lufada erguer-se
Muda a noite feral em prisma fúlgido!

De teu alto pensar completa a lei!...
Irmão!-Prende esta mão de irmão na minha!...
Toma a lira-Poeta! Águia!-esvoaça!
Sobe, sobe, astro rei!...
De tua aurora a bruma vai fundir-se
Águia! faz-te mirar do sol, do raio;

Arranca um nome no febril cantar.
Vem! A glória, que é o alvo de vis setas,
É bandeira arrogante, que o combate
Embeleza ao rasgar.
O meteoro real — de coma fúlgida —
Rola e se engrossa ao devorar dos mundos...

Gigante! Cresces todo o dia assim!...
Tal teu gênio, arrastando em novos trilhos
No curso audaz constelações de idéias,
Marcha e recresce no marchar sem fim!...