Refutação de todas as heresias/I/II: diferenças entre revisões

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Mas também havia, não muito distante destes tempos, outro filósofo de quem Pitágoras aprendeu (de quem dizem ser nativo de Samos), que era denominado Italiano, porque Pitágoras, fugindo de Polícrates, rei de Samos, construiu residência numa cidade da Itália, e ficou lá durante seus últimos anos. E aquele que receberam em seqüência as suas doutrinas, não diferiram da mesma opinião. E essa pessoa, instituindo uma investigação sobre os fenômenos naturais<ref>Ou “natureza dos”.</ref>, combinando astronomia, geometria, e música<ref>“E aritmética” (adição de Roeper).</ref>. E então ele proclamou que a deidade era uma mônade; e cuidadosamente se familiarizando com a natureza dos números, ele afirmou que as canções do mundo, e que suas correspondentes harmonias, ele resolveu primeiramente o movimento das sete estrelas com ritmo e melodia. E ficando chocado com a conduta da estrutura, ele requeriu silêncio de seus discípulos, e fossem ditos a pessoas sendo inciadas nos (segredos do) universo; após isso, quando parecia que eles estavam suficientemente familiarizados com seu modo de ensinar sua doutrina, então, considerando-os puros, ele os incentiva a falar. Esse homem distribuiu seus alunos em duas ordens, e chamou uma de Esotérica e a outra de Exotérica. E para os primeiros deu doutrinas mais avançadas, e para os últimos uma quantidade mais moderada de instrução.
Mas também havia, não tendo um grande intervalo de tempo, outro filósofo, que ensinou Pitágoras (que provavelmente era nativo de Samos), que era denominado Italiano, porque Pitágoras, fugindo de Polícrates, rei de Samos, construiu uma residência numa cidade da Itália, e ficou lá até seus últimos anos. E aqueles que receberam as suas doutrinas, não ensinaram nada de diferente. E essa pessoa, estabelecendo uma investigação sobre os fenômenos naturais<ref>Ou “natureza dos”.</ref>, combinou astronomia, geometria, e música<ref>“E aritmética” (adição de Roeper).</ref>. E então ele proclamou que a deidade era uma mônade; e cuidadosamente se familiarizando com a natureza dos números, ele afirmou que a música em geral, e suas correspondentes harmonias, ele pode achar uma solução para o movimento das sete estrelas com ritmo e melodia. E ficando chocado com precisão da estrutura, ele ordenou que seus discípulos fizessem um pacto de silêncio, e que ensinassem apenas a pessoas iniciadas (nos segredos) do universo; após isso, quando parecia que eles estavam suficientemente familiarizados com o modo de ensinar sua doutrina, então, considerando-os puros, ele os incentiva a discutirem. Esse homem distribuiu seus alunos em duas ordens, e chamou uma de Esotérica e a outra de Exotérica. E para os primeiros ensinou doutrinas mais avançadas, e para os últimos uma quantidade mais moderada de instrução.


E ele também<ref>Ou, “e ele primeiramente”.</ref> tinha em mente a magia – como eles dizem – e ele mesmo descobriu uma arte de fisiogonia<ref>Ou “fisiognomia”.</ref>, formulando como base certos números e medidas, dizendo que eles consistiam do princípio da filosofia aritmética pela composição desta maneira. O primeiro número se tornou um princípio original, o qual é indefinível, incompreensível, tendo em si mesmo todos os números que, de acordo com a pluralidade, pode ir ad infinitum. Mas a mônade primária se tornou um princípio de números, de acordo com a substância<ref>Ou “em conformidade com sua hipótese”.</ref>, “que é a mônade masculina, originando de certa forma como um pai para todo o resto dos números”. Segundo, a dualidade é um número feminino, e o mesmo é também designado pelos aritméticos como “par”. Terceiro, a tríade é um número masculino. Isso também foi classificado pelos aritméticos como “ímpar”. Assim, todos os números que foram derivados do gênero são quatro; mas o número de gênero indefinido, do qual era constituído, de acordo com eles, era o número perfeito<ref>Ou “terceiro”.</ref>, a saber, a década. Por que um, dois, três, quatro se tornam dez, se esta denominação próprio seja preservada essencialmente por cada um dos números. Pitágoras afirmou que esse seja uma quaternidade sagrada, fonte de toda natureza perpétua<ref>Ou “uma natureza perpétua” ou “ tendo as raízes de uma natureza perpétua em si mesmo”, as palavras “tendo assim” foram omitidas de alguns manuscritos.</ref>, tendo assim raízes em si mesmo; e que desse número, todos os outros receberam o princípio original. Para onze, doze e o resto compartilham de sua origem de existência<ref>Ou “produção”.</ref> do dez. Desta década, o número perfeito, há quatro divisões – número, mônade<ref>Deve ser provavelmente, “mônade, número”. A mônade foi com que Pitágoras, e com Leibnitz imitando, a mais alta generalização do número, e um conceito de abstração, proporcional com o que chamamos de essência, que é matéria do espírito.</ref>, quadrado e cubo. E as conexões e combinações destes são efetuadas, de acordo com a natureza, para a geração de crescimento, completando o número produtivo. Porque quando o quadrado é multiplicado<ref>''Kobisqh'' deve ser traduzido no texto como “multiplicado”. A fórmula é auto-evidente: (aX2)2=a4, (aX2)3=a6. (aX3)3=a9.</ref> por si mesmo, um biquadrático é o resultado. Mas quando o quadrado é multiplicado pelo cubo, o produto de dois cubos é o resultado. Então todos os números que são a produção de (números) existentes são sete – número, mônade, quadrado, cubo, biquadrado, cubo quadrático, cubo-cubo.
E ele também<ref>Ou, “e ele primeiramente”.</ref> tinha em mente o estudo da magia – como eles dizem – e ele mesmo descobriu uma arte de fisiogonia<ref>Ou “fisiognomia”.</ref>, formulando como base certos números e medidas, dizendo que eles consistiam do princípio da filosofia aritmética e afins. O primeiro número se tornou um princípio de criação, original, o qual é indefinível, incompreensível, tendo em si mesmo todos os números que, de acordo com a pluralidade, pode ir até o infinito. Mas a mônade primária se tornou o princípio de números, de acordo com a substância<ref>Ou “em conformidade com sua hipótese”.</ref> - que é a mônade masculina, como um pai para todo os números. O segundo número é a dualidade, e é um número feminino, também chamado pelos aritméticos como “par”. O terceiro é a tríade, e é um número masculino. Foi também classificado pelos aritméticos como “ímpar”. Assim, todos os números que foram derivados do gênero são quatro; mas o número de gênero indefinido, do qual era constituído, de acordo com eles, era o número perfeito<ref>Ou “terceiro”.</ref>, a saber, a década. Por que um, dois, três, quatro se tornam dez, se esta forma própria seja preservada por cada um dos números. Pitágoras afirmou que esse seja uma quaternidade sagrada, fonte de toda natureza perpétua<ref>Ou “uma natureza perpétua” ou “ tendo as raízes de uma natureza perpétua em si mesmo”, as palavras “tendo assim” foram omitidas de alguns manuscritos.</ref>, tendo assim raízes em si mesmo; e que desse número, todos os outros receberam o princípio criativo. Porque o onze, o doze e o resto compartilham em sua origem<ref>Ou “produção”.</ref> o dez. Da década, o número perfeito, há quatro divisões – número, mônade<ref>Deve ser provavelmente, “mônade, número”. A mônade foi com que Pitágoras, e com Leibnitz, a mais alta generalização do número, e um conceito de abstração, proporcional com o que chamamos de essência, que é matéria do espírito.</ref>, quadrado e cubo. E as conexões e combinações destes são efetuadas, de acordo com a natureza, para a geração de crescimento, completando o número produtivo. Porque quando o quadrado é multiplicado<ref>Κοβισθῂ deve ser traduzido no texto como “multiplicado”. A fórmula é auto-evidente: (aX2)2=a4, (aX2)3=a6. (aX3)3=a9.</ref> por si mesmo, um biquadrático é o resultado. Mas quando o quadrado é multiplicado pelo cubo, o produto de dois cubos é o resultado. Então todos os números que são a produção de (números) existentes são sete – número, mônade, quadrado, cubo, biquadrado, cubo quadrático, cubo-cubo.


Este filósofo também disse igualmente que as almas eram imortais, e que subsistem em sucessivos corpos. Por esse motivo ele asseverou que, antes da era troiana, ele era Etálides<ref>Ou Tális, Etálides, um filho de Hermes, foi arauto dos Argonautas, e é dito que nunca se esqueceu de nada. Desta forma sua alma lembrou-se de suas sucessivas migrações nos corpos de Eufórbio, Hermótimo, Pirro e Pitágoras (ver ''Vidas'', de Diógenes, livro VIII, cap. I, séc. IV).</ref> e, durante a era troiana, Eufórbio, e após a era troiana, Hermótimo de Samos, e depois Pirro de Delos, e em quinto, Pitágoras. E Diodoro, o Eritreu<ref>Nenhum nome ocorre mais freqüentemente nos anais da literatura grega do que Diodoro. Um, porém, como o título de “Eritreu”, até onde o tradutor conheça, é mencionado apenas por Hipólito; então é provável que outro Diodoro seja adicionado à longa lista já existente. Pode ser que este Diodoro seja Diodoro Crotiniate, um filósofo pitagoreano. Ver em ''Biblioth. Grac.'', lib ii. cap. iii., lib. iii. cap. xxxi., de Fabrício; também ''Annotations'', p. 20, e ''Chalcidius' Commentary on Plato's Timaeus'' de Meúrsio. O artigo em ''Smith's Dictionary'' é um transcrito destes.</ref> e Aristóxeno, o músico<ref>Aristóxeno é mencionado por Cícero em Tusculan Questions, livro I, cap I.XVIII, como tendo falado sobre psicologia, que muitos sugerem, nos tempos modernos, em David Hartley, e sua hipótese de que a sensação é resultado vibrações nervais. Cícero diz de Aristóxeno “que ele era tão encantado com suas próprias harmonias, que ele procurou transferi-las em investigações a respeito da nossa natureza corpórea e espiritual”.</ref>, declararam que Pitágoras visitou Zaratas<ref>Zaratas é outra forma para [[w:Zoroastro|Zoroastro]]</ref>, o Caldeu, que explicou a ele que haviam duas causas originais de tudo, “pai” e “mãe”, e que “pai” era a luz e “mãe” era trevas; e que as partes da luz eram Quente, Seco, Leve e Rápido; e que as partes das trevas eram Frio, Úmido, Pesado e Lento; e o mundo consiste de todos estes, masculino e feminino. Mas o mundo, diz ele, consiste de uma harmonia musical<ref>Ou “é uma natureza de acordo com a harmonia musical” ou “o sistema cósmico é uma natureza e uma harmonia musical”.</ref>; por isso, também, o sol efetua uma volta de acordo com a harmonia. Enquanto considera que as coisas são produzidas da terra e do sistema cósmico, afirmam que Zaratas<ref>Zaras, ou Zoroastro, é empregado como uma denominação genérica para filósofos orientais, que, para quaisquer porções da Ásia (isto é, o Oriente Próximo) que eles habitem, designam sistemas especulativos parecidos com o de Zoroastro. Não menos do que seis pessoas possuem esse nome e foram registradas. Amóbio (''Contr. Gentes'', I, 52) menciona, um caldeu, um bactriano, um panfiliano e um armênio. Plínio menciona um quinto, da narrativa de Procuneso (''Nat. Hist.'' XXX, 1), enquanto que Apuléio (''Florida'' II, 15), um sexto Zoroastro nativo da Babilônia e contemporâneo de Pitágoras, evidentemente o aludido por Hipólito (ver ''Treatise on Metaphysics'', cap. II). </ref> faz as seguinte afirmações: que há dois demônios, um celestial e outro terrestre; e que o terrestre envia um produto da terra que é a água; e que o celestial é um fogo, compartilhando a natureza do ar, frio<ref>Ou “que era frio e quente” ou “calor de umidade”.</ref> e quente. Portanto ele afirma que nenhum destes destrói ou mancha a alma, porque eles constituem a substância de todas as coisas. E Pitágoras comunica a seus discípulos para não comer feijões, porque Zaratas disse que, na origem e concretização de todas as coisas, quando a terra estava em seu processo de solidificação<ref>Ou pode ser traduzido como “processo de arranjamento”. O abade Cruice (em sua edição de Hipólito, 1860, Paris), sugere uma leitura diferente, traduzindo assim: “quanto a Terra era irreconhecível e de massa sólida”.</ref>, e quando a putrefação começou, o feijão foi produzido<ref>Ver [[Refutação de todas as heresias/VI/XXII|Livro VI, cap XXII e notas]]. Mas Clemente dá outra explicação.</ref>. E ele menciona a indicação de que alguém, após mastigar um feijão sem a casca, colocar-se no lado oposto ao sol por um certo período – porque isso certamente ajudará no resultado – ficará com cheiro de sementes humanas. E ele menciona um exemplo mais claro: se, quando o feijão está florescendo, pegarmos o feijão e sua flor e colocar num vaso, cobrir a tampa, enterrar, e após alguns dias desenterrar, veremos a aparência das partes pudendas de uma mulher e, se vir de mais perto, a aparência de cabeça de uma criança crescendo. Esta pessoa, Pitágoras pereceu em Cróton, na Itália, sendo queimada com seus discípulos. Para se tornar um discípulo, o candidato deveria vender suas posses, e depositar o dinheiro selado com Pitágoras e se submeter em silêncio à instrução de Pitágoras de três a cinco anos. E novamente, ao completar a instrução, era-lhe permitido se associar com o resto, e tomar refeições com eles; se, do contrário, ele recebesse seu dinheiro de volta, era rejeitado como discípulo. Essas pessoas, então, eram chamadas de Pitagoreanos Esotéricos, enquanto que o resto, eram Pitagóritas.
Este filósofo também ensinou que as almas eram imortais, e que subsistem em corpos sucessivos. Por esse motivo ele asseverou que, antes da era troiana, ele era Etálides<ref>Ou Tális, Etálides, um filho de Hermes, foi arauto dos Argonautas, e é dito que nunca se esqueceu de nada. Desta forma sua alma lembrou-se de suas sucessivas migrações nos corpos de Eufórbio, Hermótimo, Pirro e Pitágoras (ver ''Vidas'', de Diógenes, livro VIII, cap. I, séc. IV).</ref> e, durante a era troiana, Eufórbio, e após a era troiana, Hermótimo de Samos, e depois Pirro de Delos, e, enfim, Pitágoras. E Diodoro, o Eritreu<ref>Nenhum nome ocorre mais freqüentemente nos anais da literatura grega do que Diodoro. Um, porém, como o título de “Eritreu”, até onde o tradutor conheça, é mencionado apenas por Hipólito; então é provável que outro Diodoro seja adicionado à longa lista já existente. Pode ser que este Diodoro seja Diodoro Crotiniate, um filósofo pitagoreano. Ver em ''Biblioth. Grac.'', lib ii. cap. iii., lib. iii. cap. xxxi., de Fabrício; também ''Annotations'', p. 20, e ''Chalcidius' Commentary on Plato's Timaeus'' de Meúrsio. O artigo em ''Smith's Dictionary'' é um transcrito destes.</ref> e Aristóxeno, o músico<ref>Aristóxeno é mencionado por Cícero em ''Tusculan Questions'', livro I, cap I.XVIII, como tendo falado sobre psicologia, que muitos sugerem, nos tempos modernos, em David Hartley, e sua hipótese de que a sensação é resultado vibrações nervais. Cícero diz de Aristóxeno “que ele era tão encantado com suas próprias harmonias, que ele procurou transferi-las em investigações a respeito da nossa natureza corpórea e espiritual”.</ref>, afirmam que Pitágoras visitou Zaratas<ref>Zaratas é outra forma para Zoroastro.</ref>, o Caldeu, que explicou a ele que existiam duas causas originais de tudo, Pai e Mãe, e que Pai era a luz e Mãe eram as trevas; e que os componentes da luz eram Quente, Seco, Leve e Rápido; e os das trevas eram Frio, Úmido, Pesado e Lento; e o mundo consiste de todos estes, masculino e feminino. Mas o mundo, diz ele, consiste de uma harmonia musical<ref>Ou “é uma natureza de acordo com a harmonia musical” ou “o sistema cósmico é uma natureza e uma harmonia musical”.</ref>; por isso, também, o sol efetua uma volta de acordo com a harmonia. Enquanto consideram que as coisas são criadas da terra e do sistema cósmico, afirmam que Zaratas<ref>Zaras, ou Zoroastro, é empregado como uma denominação genérica para filósofos orientais, que, para quaisquer porções da Ásia (isto é, o Oriente Próximo) que eles habitem, designam sistemas especulativos parecidos com o de Zoroastro. Não menos do que seis pessoas possuem esse nome e foram registradas. Amóbio (''Contr. Gentes'', I, 52) menciona, um caldeu, um bactriano, um panfiliano e um armênio. Plínio menciona um quinto, da narrativa de Procuneso (''Nat. Hist.'' XXX, 1), enquanto que Apuléio (''Florida'' II, 15), um sexto Zoroastro nativo da Babilônia e contemporâneo de Pitágoras, evidentemente o aludido por Hipólito (ver ''Treatise on Metaphysics'', cap. II).</ref> faz as seguintes afirmações: que há dois demônios, um celestial e outro terrestre; e que o terrestre envia um produto da terra que é a água; e que o celestial é um fogo, compartilhando a natureza do ar, frio<ref>Ou “que era frio e quente” ou “calor de umidade”.</ref> e quente. Portanto ele afirma que nenhum destes destrói ou dan a alma, porque eles constituem a substância de todas as coisas. E Pitágoras ensinou a seus discípulos para não comer feijões, porque Zaratas disse que, na origem e formação de todas as coisas, quando a terra estava em seu processo de solidificação<ref>Ou pode ser traduzido como “processo de arranjamento”. O abade Cruice (em sua edição de Hipólito, 1860, Paris), sugere uma leitura diferente, traduzindo assim: “quanto a Terra era irreconhecível e de massa sólida”.</ref>, e quando a putrefação começou, o feijão foi criado. E ele menciona o seguinte motivo, que se alguém, após mastigar um feijão sem a casca, colocar no lado oposto ao sol por um certo período – porque isso certamente ajudará no resultado – ficará com cheiro de sementes humanas. E ele menciona outro exemplo mais claro: se, quando o feijão está florescendo, se pegarmos o feijão e sua flor e colocar num vaso, cobrir a tampa, enterrar, e após alguns dias desenterrar, veremos a aparência das partes pudendas de uma mulher e, se ver mais perto, a aparência de cabeça de uma criança crescendo. Pitágoras pereceu em Cróton, na Itália, num incêndio, junto com seus discípulos. Era habitual que, para se tornar um discípulo, o candidato vendesse suas posses, e depositasse o dinheiro selado com Pitágoras e se submeter em silêncio à instrução de Pitágoras de três a cinco anos. E, ao completar a instrução, era-lhe permitido se associar com os outros, e tomar refeições com eles; se, do contrário, ele recebesse seu dinheiro de volta, era rejeitado como discípulo. Essas pessoas, então, eram chamadas de Pitagoreanos Esotéricos, enquanto que o resto, eram Pitagóritas.


Entre os seus seguidores que escaparam da conflagração, estavam Lísias e Arquipo, e o seu servo, Zaniolxis<ref>Ou "Zametus".</ref>, que dizem ter ensinado os druidas celtas a cultivar a filosofia de Pitágoras. E eles asseveram que Pitágoras aprendeu dos egípcios seu sistema de números e medidas; e eu estando chocado pela sabedoria plausível, fantástica, e não facilmente revelada dos sacerdotes, ele mesmo, Pitágoras, imitando os sacerdotes, gostava de silêncio e fez seus discípulos viverem solitariamente em santuários<ref>Ou “levando-os a viver em celas” , etc., ou “fez seus discípulos observarem em silêncio”, etc.</ref> subterrâneos.
Entre os seus seguidores que escaparam da conflagração, estavam Lísias e Arquipo, e o seu servo, Zalmoxis<ref>Ou "Zametus".</ref>, que pode ter ensinado os druidas celtas a preservar a filosofia de Pitágoras. E eles asseveram que Pitágoras aprendeu dos egípcios seu sistema de números e medidas; e ao ficar chocado com a sabedoria razoável, fantástica, e dificultosa ensinada pelos sacerdotes, ele mesmo imitava os sacerdotes, gostava de silêncio e fez seus discípulos viverem solitariamente em santuários<ref>Ou “levando-os a viver em celas” , etc., ou “fez seus discípulos observarem em silêncio”, etc.</ref> subterrâneos.


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Revisão das 20h14min de 9 de agosto de 2008

Mas também havia, não tendo um grande intervalo de tempo, outro filósofo, que ensinou Pitágoras (que provavelmente era nativo de Samos), que era denominado Italiano, porque Pitágoras, fugindo de Polícrates, rei de Samos, construiu uma residência numa cidade da Itália, e ficou lá até seus últimos anos. E aqueles que receberam as suas doutrinas, não ensinaram nada de diferente. E essa pessoa, estabelecendo uma investigação sobre os fenômenos naturais[1], combinou astronomia, geometria, e música[2]. E então ele proclamou que a deidade era uma mônade; e cuidadosamente se familiarizando com a natureza dos números, ele afirmou que a música em geral, e suas correspondentes harmonias, ele pode achar uma solução para o movimento das sete estrelas com ritmo e melodia. E ficando chocado com precisão da estrutura, ele ordenou que seus discípulos fizessem um pacto de silêncio, e que ensinassem apenas a pessoas iniciadas (nos segredos) do universo; após isso, quando parecia que eles estavam suficientemente familiarizados com o modo de ensinar sua doutrina, então, considerando-os puros, ele os incentiva a discutirem. Esse homem distribuiu seus alunos em duas ordens, e chamou uma de Esotérica e a outra de Exotérica. E para os primeiros ensinou doutrinas mais avançadas, e para os últimos uma quantidade mais moderada de instrução.

E ele também[3] tinha em mente o estudo da magia – como eles dizem – e ele mesmo descobriu uma arte de fisiogonia[4], formulando como base certos números e medidas, dizendo que eles consistiam do princípio da filosofia aritmética e afins. O primeiro número se tornou um princípio de criação, original, o qual é indefinível, incompreensível, tendo em si mesmo todos os números que, de acordo com a pluralidade, pode ir até o infinito. Mas a mônade primária se tornou o princípio de números, de acordo com a substância[5] - que é a mônade masculina, como um pai para todo os números. O segundo número é a dualidade, e é um número feminino, também chamado pelos aritméticos como “par”. O terceiro é a tríade, e é um número masculino. Foi também classificado pelos aritméticos como “ímpar”. Assim, todos os números que foram derivados do gênero são quatro; mas o número de gênero indefinido, do qual era constituído, de acordo com eles, era o número perfeito[6], a saber, a década. Por que um, dois, três, quatro se tornam dez, se esta forma própria seja preservada por cada um dos números. Pitágoras afirmou que esse seja uma quaternidade sagrada, fonte de toda natureza perpétua[7], tendo assim raízes em si mesmo; e que desse número, todos os outros receberam o princípio criativo. Porque o onze, o doze e o resto compartilham em sua origem[8] o dez. Da década, o número perfeito, há quatro divisões – número, mônade[9], quadrado e cubo. E as conexões e combinações destes são efetuadas, de acordo com a natureza, para a geração de crescimento, completando o número produtivo. Porque quando o quadrado é multiplicado[10] por si mesmo, um biquadrático é o resultado. Mas quando o quadrado é multiplicado pelo cubo, o produto de dois cubos é o resultado. Então todos os números que são a produção de (números) existentes são sete – número, mônade, quadrado, cubo, biquadrado, cubo quadrático, cubo-cubo.

Este filósofo também ensinou que as almas eram imortais, e que subsistem em corpos sucessivos. Por esse motivo ele asseverou que, antes da era troiana, ele era Etálides[11] e, durante a era troiana, Eufórbio, e após a era troiana, Hermótimo de Samos, e depois Pirro de Delos, e, enfim, Pitágoras. E Diodoro, o Eritreu[12] e Aristóxeno, o músico[13], afirmam que Pitágoras visitou Zaratas[14], o Caldeu, que explicou a ele que existiam duas causas originais de tudo, Pai e Mãe, e que Pai era a luz e Mãe eram as trevas; e que os componentes da luz eram Quente, Seco, Leve e Rápido; e os das trevas eram Frio, Úmido, Pesado e Lento; e o mundo consiste de todos estes, masculino e feminino. Mas o mundo, diz ele, consiste de uma harmonia musical[15]; por isso, também, o sol efetua uma volta de acordo com a harmonia. Enquanto consideram que as coisas são criadas da terra e do sistema cósmico, afirmam que Zaratas[16] faz as seguintes afirmações: que há dois demônios, um celestial e outro terrestre; e que o terrestre envia um produto da terra que é a água; e que o celestial é um fogo, compartilhando a natureza do ar, frio[17] e quente. Portanto ele afirma que nenhum destes destrói ou dan a alma, porque eles constituem a substância de todas as coisas. E Pitágoras ensinou a seus discípulos para não comer feijões, porque Zaratas disse que, na origem e formação de todas as coisas, quando a terra estava em seu processo de solidificação[18], e quando a putrefação começou, o feijão foi criado. E ele menciona o seguinte motivo, que se alguém, após mastigar um feijão sem a casca, colocar no lado oposto ao sol por um certo período – porque isso certamente ajudará no resultado – ficará com cheiro de sementes humanas. E ele menciona outro exemplo mais claro: se, quando o feijão está florescendo, se pegarmos o feijão e sua flor e colocar num vaso, cobrir a tampa, enterrar, e após alguns dias desenterrar, veremos a aparência das partes pudendas de uma mulher e, se ver mais perto, a aparência de cabeça de uma criança crescendo. Pitágoras pereceu em Cróton, na Itália, num incêndio, junto com seus discípulos. Era habitual que, para se tornar um discípulo, o candidato vendesse suas posses, e depositasse o dinheiro selado com Pitágoras e se submeter em silêncio à instrução de Pitágoras de três a cinco anos. E, ao completar a instrução, era-lhe permitido se associar com os outros, e tomar refeições com eles; se, do contrário, ele recebesse seu dinheiro de volta, era rejeitado como discípulo. Essas pessoas, então, eram chamadas de Pitagoreanos Esotéricos, enquanto que o resto, eram Pitagóritas.

Entre os seus seguidores que escaparam da conflagração, estavam Lísias e Arquipo, e o seu servo, Zalmoxis[19], que pode ter ensinado os druidas celtas a preservar a filosofia de Pitágoras. E eles asseveram que Pitágoras aprendeu dos egípcios seu sistema de números e medidas; e ao ficar chocado com a sabedoria razoável, fantástica, e dificultosa ensinada pelos sacerdotes, ele mesmo imitava os sacerdotes, gostava de silêncio e fez seus discípulos viverem solitariamente em santuários[20] subterrâneos.

Notas

  1. Ou “natureza dos”.
  2. “E aritmética” (adição de Roeper).
  3. Ou, “e ele primeiramente”.
  4. Ou “fisiognomia”.
  5. Ou “em conformidade com sua hipótese”.
  6. Ou “terceiro”.
  7. Ou “uma natureza perpétua” ou “ tendo as raízes de uma natureza perpétua em si mesmo”, as palavras “tendo assim” foram omitidas de alguns manuscritos.
  8. Ou “produção”.
  9. Deve ser provavelmente, “mônade, número”. A mônade foi com que Pitágoras, e com Leibnitz, a mais alta generalização do número, e um conceito de abstração, proporcional com o que chamamos de essência, que é matéria do espírito.
  10. Κοβισθῂ deve ser traduzido no texto como “multiplicado”. A fórmula é auto-evidente: (aX2)2=a4, (aX2)3=a6. (aX3)3=a9.
  11. Ou Tális, Etálides, um filho de Hermes, foi arauto dos Argonautas, e é dito que nunca se esqueceu de nada. Desta forma sua alma lembrou-se de suas sucessivas migrações nos corpos de Eufórbio, Hermótimo, Pirro e Pitágoras (ver Vidas, de Diógenes, livro VIII, cap. I, séc. IV).
  12. Nenhum nome ocorre mais freqüentemente nos anais da literatura grega do que Diodoro. Um, porém, como o título de “Eritreu”, até onde o tradutor conheça, é mencionado apenas por Hipólito; então é provável que outro Diodoro seja adicionado à longa lista já existente. Pode ser que este Diodoro seja Diodoro Crotiniate, um filósofo pitagoreano. Ver em Biblioth. Grac., lib ii. cap. iii., lib. iii. cap. xxxi., de Fabrício; também Annotations, p. 20, e Chalcidius' Commentary on Plato's Timaeus de Meúrsio. O artigo em Smith's Dictionary é um transcrito destes.
  13. Aristóxeno é mencionado por Cícero em Tusculan Questions, livro I, cap I.XVIII, como tendo falado sobre psicologia, que muitos sugerem, nos tempos modernos, em David Hartley, e sua hipótese de que a sensação é resultado vibrações nervais. Cícero diz de Aristóxeno “que ele era tão encantado com suas próprias harmonias, que ele procurou transferi-las em investigações a respeito da nossa natureza corpórea e espiritual”.
  14. Zaratas é outra forma para Zoroastro.
  15. Ou “é uma natureza de acordo com a harmonia musical” ou “o sistema cósmico é uma natureza e uma harmonia musical”.
  16. Zaras, ou Zoroastro, é empregado como uma denominação genérica para filósofos orientais, que, para quaisquer porções da Ásia (isto é, o Oriente Próximo) que eles habitem, designam sistemas especulativos parecidos com o de Zoroastro. Não menos do que seis pessoas possuem esse nome e foram registradas. Amóbio (Contr. Gentes, I, 52) menciona, um caldeu, um bactriano, um panfiliano e um armênio. Plínio menciona um quinto, da narrativa de Procuneso (Nat. Hist. XXX, 1), enquanto que Apuléio (Florida II, 15), um sexto Zoroastro nativo da Babilônia e contemporâneo de Pitágoras, evidentemente o aludido por Hipólito (ver Treatise on Metaphysics, cap. II).
  17. Ou “que era frio e quente” ou “calor de umidade”.
  18. Ou pode ser traduzido como “processo de arranjamento”. O abade Cruice (em sua edição de Hipólito, 1860, Paris), sugere uma leitura diferente, traduzindo assim: “quanto a Terra era irreconhecível e de massa sólida”.
  19. Ou "Zametus".
  20. Ou “levando-os a viver em celas” , etc., ou “fez seus discípulos observarem em silêncio”, etc.