Refutação de todas as heresias/I/XVII: diferenças entre revisões

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Aristóteles, que foi discípulo de (Platão), reduziu a filosofia numa arte, e se distinguiu principalmente por sua competência na ciência lógica, supondo que todos os elementos se originem de substância e acidente; e que há apenas uma substância sustentando todas as coisas, e nove acidentes – quantidade, qualidade, relação, onde, quando, possessão, postura, ação e emoção; e que a substância tem uma descrição de Deus, homem, e todas os seres que podem cair numa denominação similar. Mas a respeito dos acidentes podem ser descritos e exemplificados assim: qualidade como preto e branco; quantidade como dois cúbitos, três cúbitos; relação como pai e filho; onde como Atenas e Megara; quando como durante a 10ª olimpíada; possessão como “adquirir”; ação como escrever, e fazer proezas em geral; e paixão como ficar chocado. Ele também supõe que algumas coisas têm médias, e outras não, assim como dizia Platão. E em quase todos os pontos seu pensamento está de acordo com o de Platão, exceto quanto à alma. Platão dizia que a alma era imortal, mas Aristóteles dizia que a alma envolve permanência; e depois de tudo, ela desaparece no quinto corpo<ref>Ou "o quinto corpo, que supostamente é, junto com os outros quatro" ou "o quinto corpo que supostamente seria feito dos outros quatro".</ref>, juntamente com os outros quatro –a saber, fogo, água, ar e terra – para algo de natureza mais misteriosa (do que estes), a natureza do espírito. Platão afirma que as coisas realmente boas são aquelas que pertence à alma, e que elas sozinhas trazem felicidade; enquanto que Aristóteles introduz uma classificação tripla das coisas boas; e afirma que os sábios não são perfeitos a menos que eles tenham as coisas boas do corpo e aquelas que estão extrínsecas a ele<ref>Hipólito expressa-se nas palavras de Stobaeus que diz (''Eclog.'' II, 274)): "E as bênçãos externas são nobreza, riqueza, glória, paz, liberdade, amizade".</ref>. O primeiro é beleza, força, vigor dos sentidos e saúde; enquanto que as extrínsecas (ao corpo) são riqueza, nobreza, glória, poder, paz, amizade<ref>Ou "glória, o poder confirmado dos amigos".</ref>. E as qualidades interiores da alma recebem a mesma classificação de Platão, prudência, temperança, justice e coragem. Este (filósofo) também afirma que o mal cresce de acordo com a oposição a essas coisas boas, e que também existem abaixo de um quarto da distância da Lua, mas não vão além, e que o mundo é eterno em si mesmo, mas que a alma é individual e, como já dissemos, desaparece (no quinto corpo). Este (especulador), tendo discussões no Liceu, formou pouco a pouco sua filosofia; mas Zenão (formou sua escola) no pórtico chamado Pecílio. E os seguidores de Zenão ganharam seu nome do lugar – isto é, de Stoa (pórtico) – sendo chamado de estóicos; enquanto que os seguidores de Aristóteles (foram denominados) pelo modo como se dedicavam enquanto ensinavam. Já que eles ficavam dando voltas no Liceu enquanto raciocinavam, foram chamados de Peripatéticos. Estas são as doutrinas de Aristóteles.
Aristóteles, que foi discípulo de (Platão), reduziu a filosofia em uma arte, e se distinguiu principalmente por sua competência na ciência lógica, supondo que todos os elementos se originem da substância e do acidente; e que há apenas uma substância sustentando todas as coisas, e nove acidentes – quantidade, qualidade, relação, onde, quando, possessão, postura, ação e emoção; e que a substância tem uma descrição parecida com a de Deus, homem, e todos podem ter denominação similar de seres. Mas a respeito dos acidentes podem ser descritos e exemplificados assim: “qualidade” como preto e branco; “quantidade” como dois cúbitos, três cúbitos; “relação” como pai e filho; “onde” como Atenas e Megara; “quando” como durante a 10ª olimpíada; “possessão” como aquisição; “ação” como escrever, e fazer proezas em geral; e “emoção” como ficar chocado. Ele também supõe que algumas coisas têm médias, e outras não, assim como dizia Platão. E em quase todos os pontos seu pensamento está de acordo com o de Platão, exceto quanto à alma. Platão dizia que a alma era imortal, mas Aristóteles dizia que a alma envolve permanência; e depois de tudo, ela desaparece no quinto corpo<ref>Ou "o quinto corpo, que supostamente é, junto com os outros quatro" ou "o quinto corpo que supostamente seria feito dos outros quatro".</ref>, juntamente com os outros quatro –a saber, fogo, água, ar e terra – para algo de natureza mais misteriosa (do que estes), a natureza do espírito. Platão afirma que as coisas realmente boas são aquelas que pertencem à alma, e que elas sozinhas trazem felicidade; enquanto que Aristóteles introduz uma classificação tripla das coisas boas; e afirma que os sábios não são perfeitos a menos que eles tenham as coisas boas do corpo e aquelas que estão extrínsecas a ele<ref>Hipólito expressa-se nas palavras de Stobaeus, que diz (''Eclog.'' II, 274)): "E as bênçãos externas são nobreza, riqueza, glória, paz, liberdade, amizade".</ref> - beleza, força, vigor dos sentidos e saúde; enquanto que as extrínsecas (ao corpo) são riqueza, nobreza, glória, poder, paz, amizade<ref>Ou "glória, o poder confirmado dos amigos".</ref>. E as qualidades interiores da alma recebem a mesma classificação de Platão, prudência, temperança, justice e coragem. Este (filósofo) também afirma que o mal se forma de acordo com a oposição a essas coisas boas, e que também existem abaixo de um quarto da distância da Lua, mas não vão além; e que o mundo é eterno em si mesmo, assim como sua alma, e a alma individual, como já dissemos, desaparece (no quinto corpo). Este (especulador) debatia no Liceu e elaborou pouco a pouco sua filosofia; mas Zenão (formou sua escola) no pórtico chamado Pecílio. E os seguidores de Zenão ganharam seu nome do lugar – isto é, de Stoa (pórtico) – sendo chamado de estóicos; enquanto que os seguidores de Aristóteles (foram denominados) pelo modo como se dedicavam enquanto ensinavam. Já que eles ficavam dando voltas no Liceu enquanto raciocinavam, foram chamados de Peripatéticos. Estas são as doutrinas de Aristóteles.



== Notas ==
== Notas ==
<references />
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[[Categoria:Refutação de todas as heresias]]
[[Categoria:Refutação de todas as heresias]]
[[en:Ante-Nicene Fathers/Volume V/Hippolytus/The Refutation of All Heresies/Book I/Part 19]]

Revisão das 13h04min de 10 de agosto de 2008

Aristóteles, que foi discípulo de (Platão), reduziu a filosofia em uma arte, e se distinguiu principalmente por sua competência na ciência lógica, supondo que todos os elementos se originem da substância e do acidente; e que há apenas uma substância sustentando todas as coisas, e nove acidentes – quantidade, qualidade, relação, onde, quando, possessão, postura, ação e emoção; e que a substância tem uma descrição parecida com a de Deus, homem, e todos podem ter denominação similar de seres. Mas a respeito dos acidentes podem ser descritos e exemplificados assim: “qualidade” como preto e branco; “quantidade” como dois cúbitos, três cúbitos; “relação” como pai e filho; “onde” como Atenas e Megara; “quando” como durante a 10ª olimpíada; “possessão” como aquisição; “ação” como escrever, e fazer proezas em geral; e “emoção” como ficar chocado. Ele também supõe que algumas coisas têm médias, e outras não, assim como dizia Platão. E em quase todos os pontos seu pensamento está de acordo com o de Platão, exceto quanto à alma. Platão dizia que a alma era imortal, mas Aristóteles dizia que a alma envolve permanência; e depois de tudo, ela desaparece no quinto corpo[1], juntamente com os outros quatro –a saber, fogo, água, ar e terra – para algo de natureza mais misteriosa (do que estes), a natureza do espírito. Platão afirma que as coisas realmente boas são aquelas que pertencem à alma, e que elas sozinhas trazem felicidade; enquanto que Aristóteles introduz uma classificação tripla das coisas boas; e afirma que os sábios não são perfeitos a menos que eles tenham as coisas boas do corpo e aquelas que estão extrínsecas a ele[2] - beleza, força, vigor dos sentidos e saúde; enquanto que as extrínsecas (ao corpo) são riqueza, nobreza, glória, poder, paz, amizade[3]. E as qualidades interiores da alma recebem a mesma classificação de Platão, prudência, temperança, justice e coragem. Este (filósofo) também afirma que o mal se forma de acordo com a oposição a essas coisas boas, e que também existem abaixo de um quarto da distância da Lua, mas não vão além; e que o mundo é eterno em si mesmo, assim como sua alma, e a alma individual, como já dissemos, desaparece (no quinto corpo). Este (especulador) debatia no Liceu e elaborou pouco a pouco sua filosofia; mas Zenão (formou sua escola) no pórtico chamado Pecílio. E os seguidores de Zenão ganharam seu nome do lugar – isto é, de Stoa (pórtico) – sendo chamado de estóicos; enquanto que os seguidores de Aristóteles (foram denominados) pelo modo como se dedicavam enquanto ensinavam. Já que eles ficavam dando voltas no Liceu enquanto raciocinavam, foram chamados de Peripatéticos. Estas são as doutrinas de Aristóteles.

Notas

  1. Ou "o quinto corpo, que supostamente é, junto com os outros quatro" ou "o quinto corpo que supostamente seria feito dos outros quatro".
  2. Hipólito expressa-se nas palavras de Stobaeus, que diz (Eclog. II, 274)): "E as bênçãos externas são nobreza, riqueza, glória, paz, liberdade, amizade".
  3. Ou "glória, o poder confirmado dos amigos".