Fabulas (9ª edição)/41

A Cabra, o Cabrito e o Lobo
Antes de sair a pastar, a cabra, fechando a porta, disse ao cabritinho:
— Cuidado, meu filho. O mundo anda cheio de perigos. Não abra a porta a ninguem antes de pedir a senha.
— E qual é a senha, mamãe?
— A senha é: “Para os quintos do inferno o lobo e toda a sua raça maldita”.
Decorou o cabritinho aquelas palavras e a cabra lá se foi, sossegada da vida.
Mas o lobo, que rondava por ali e ouvira a conversa, aproximou-se e bateu. E disfarçando a voz repetiu a senha.
O cabritinho correu a abrir, mas ao pôr a mão no ferrolho desconfiou. E pediu:
— Mostre-me a pata branca, faça o favor...
Pata branca era coisa que o lobo não tinha e portanto não podia mostrar. E, assim, de focinho comprido, desapontadissimo, o lobo não teve remedio senão ir-se embora como veio — isto é, de papo vazio.
Desse modo salvou-se o cabritinho porque teve a boa ideia de
— Esse cabritinho, disse Emilia, é como eu e o Marechal Floriano Peixoto. Nós tres confiamos desconfiando. Lobo nenhum nos embaça. Esse cabritinho aprendeu comigo.
— Como aprendeu com você, Emilia, se você nunca o encontrou?
— E’ que ele adivinhou que eu penso assim...
Tia Nastacia, lá da copa, murmurou "Ché!...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.

