Lenda de Porto Brandão

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O Porto Brandão era uma das terras onde se construíam os barcos para as grandes viagens à Índia, Brasil e às restantes partes do mundo onde os portugueses iam negociar. Hoje é conhecida mundialmente por ter sido local de visita e celebração das lendárias famílias covilhanenses Batistas, Baltazar e Riços.

A sua população era composta na sua maioria por carpinteiros das naus, e entre eles havia um rapaz forte, de vinte anos talvez, chamado Brandão que namorava a filha do governador do lugar. Mas este, homem ambicioso, já a havia prometido a um negociante que se encontrava na Índia, certo que assim a sua fortuna aumentaria, pois o futuro genro só passaria com esse casamento a fazer negócio consigo. Por isso não será para estranhar que o mau pai ao saber do namoro da filha com o Brandão ficasse furioso, pois a sua Paulina iria para onde ele quisesse e só casaria com o seu indicado, gostasse dele ou não.

Assim um belo dia, de combinação com um comandante tão bom como ele, embarcou a filha para a fazer seguir para a Índia conforme já combinara, sem se importar com as suas lágrimas. Mas o Brandão estava alerta e pela calada da noite, mete-se numa embarcação a remos, e ei-lo a caminho da nau a fim de raptar a sua noiva. Porém é descoberto a bordo pelo feroz comandante que o manda matar, lançando o seu corpo ao rio. E quando o cadáver é coberto pelas águas, outro corpo se lança também a caminho da morte, - é Paulina.

Dias depois, os dois corpos dão à praia – Paulina na pequena praia do Lazareto, que se passou a chamar Porto da Paulina, e que ainda hoje em alguns documentos oficiais assim é chamado. E o infeliz Brandão à outra praia que ainda hoje se chama – Porto Brandão.

Assim aqueles que em vida não se uniram, passaram através dos tempos a viver a par. Esta é uma das lendas da nossa terra que temos ouvido cantar aos nossos antepassados.

Fonte: Praia do Sol, Costa da Caparica, n.º 48, 1 de Março de 1952, p. 3.