Horto (1910)/Mater

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MATER



A meus irmãos


O’ santa, ó minha mãe, meu sol primeiro!
Luiz Murat.


Minha mãe! meu amor! Porque voaste, rindo,
Para o paiz azul e santo da chimera?
Minha mãe! minha mãe! Si o Céo é sempre lindo,
Aqui tambem ha sol, tambem ha primavera...

Depois que te partiste e os teus pobres filhinhos
Pequeninos e sós, deixaste na orphandade,
Ficamos a chorar — implumes passarinhos ! —
Que os passaros tambem soluçam de saudade.

Pobres aves sem ninho, andamos á procura
Do ninho de teu seio immaculado e amigo,
Creancinhas sem berço, em busca de um abrigo
No berço de tu’alma alabastrina e pura.

Não nos deixes soffrer. Outr’ora , quando afflicta
Tu nos vias chorar — os risos de tu’alma! —
Soluçavas tambem e a tua mão bemdita
Nos enxugando o pranto, o transformava em calma.

Teu seio, ó minha mãe, era a corrente mansa,
Sempre serena e doce em seu gemer eterno,
Onde boiava, a rir, noss’alma de creança
No mimoso batel do coração materno.

Como era bom dormir na curva de teu braço,
Sonhando adormecer ouvindo-te cantar...
Como era bom dormir, ó mãe, em teu regaço,
Dourando-nos o somno a luz de teu olhar!

Angicos — 1896.