Musa consolatrix (1864)

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Que a mão do tempo e o halito dos homens
Murchem a flor das illusões da vida,
        Musa consoladora,
É no teu seio amigo e socegado
Que o poeta respira o suave somno

        Não ha, não ha comtigo,
Nem dor aguda, nem sombrios ermos;
Da tua voz os namorados cantos
        Enchem, povoam tudo
De intima paz, de vida e de conforto.

Ante esta voz que as dores adormece,
E muda o agudo espinho em flor cheirosa,
Que vales tu, desillusão dos homens?
        Tu que pódes, ó tempo?
A alma triste do poeta sobrenada
        Á enchente das angustias;
E, affrontando o rugido da tormenta,
Passa cantando, alcyone divina.

        Musa consoladora,
Quando da minha fronte de mancebo
A ultima illusão cahir, bem como
        Folha amarella e secca
Que ao chão atira a viração do outono,
        Ah! no teu seio amigo
Acolhe-me, — e terá minha alma afflicta,
Em vez de algumas illusões que teve,
A paz, o ultimo bem, ultimo e puro