O Beija-Flor (1830)/Número 1/1
Todo aquelle, que usando da authorisação do pacto social de publicar por via da imprensa suas opiniões, sem dar conta previa, sobe affoutamente sobie hum tribunal de sua propria creação , aonde elle julga a conducta do governo , ou dos concidadões , e assome o papel d՚orador , castigando , ou avisando a communidade , e os individuos, tem de certo por restricto dever fazer a sua profissão de fé , tanto para dar as suas palavras o peso da consciencia , e da probidade , como fornecer ao publico que elle admoesta , huma medida co m a qual este o possa a seu torno avaliar , e sentenciar. Conhecer-se ha então , se motivos mais nobres do que a vil sede do ganho , ou do interesse particular o lançarão sobre o mar tempestuoso da publicidade. Alias não queremos dizer que se não deva tirar hum lucro honroso do talento , e das fadigas consumidas n՚este emprego. Todo trabalho merece salario; o mesmo sacerdote vive do altar. Mas a lembrança d՚este lucro deve vir sómente em segunda linha, ficando apoz a esperança de contribuir á emenda da ordem social, e illustração dos contemporaneos.
Atrevemo-nos a declarar que semelhantes sentimentos nos guiarão, quando nos julgamos capazes de remediar ao vão que existe entre as publicações d՚esta cidade, que cada dia se multiplicão , mas nenhuma das quaes se incumbió de resumir as outras, de analysar os artigos que fossem de interesse mais transcendente , e de apresentar em hum só facho as opiniões , algumas vezes em opposição diametral , que conforme a sua direcção , elles publicão sobre o mesmo assunto de interesse actual , ou por ser objecto de discussão nas Camaras , ou porque a curiosidade publica o encarou. Este cuidado pois ficará a cargo de nosso periodico, o qual ao mesmo tempo se occupará com maior especialidade de muitos ramos de prosperidade publica, taes como a litteratura, a economia politica, e urbana, e outros assaz negligidos pelas folhas actualmente existentes, envoltas que são na politica, e nas suas disputas.
Raras vezes , quando reunirmos os extractos das folhas da quinzena , expressaremos nossa opinião , porém queremos que se saiba que o symbolo politico que adoptamos de coração , e para sempre, he o do constitucionalismo monarchico representativo , tal qual felismente nos rege.
O genio da nossa publicação , e intervallos da sua apparição , não permittem que entremos em polemica com as folhas diarias. O Beija-Flor , que tomamos por emblema , he ave innocente, e sociavel , que não fere , ou macula as flores de que tira o sustento, e vive amigavelmente com os outros entes, se bem que, apesar da sua mimosa pequenhez, elle tenha grande animo, e hum bico assaz agudo, quando o gavião se chega com sinistras tenções ao querido ninho.
Todas as obras publicadas antes de 1.º de janeiro de 1930, independentemente do país de origem, se encontram em domínio público.
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