O Beija-Flor (1830)/Número 2/1.2
HUMA PALAVRA SOBRE A POLITICA.
Nossa situação politica he tão complicada que seria preciso ter maiores forças do que as nossas, e outro vôo do que o do nosso beija-flor para podermos nos lançar n՚esta Atsmosphera tão prenhe de tormentas futuras, e tão agitada pelos sopros de ventos contrarios; contentar-nos hemos com notar de longe as variações que tão rapidamente se succedem nestas arduasregiões da politica O que ha de mais notavel n՚esta mutabilidade he a renovação quasi periodical dos Ministerios, e Ministros, que se rendem hums a outros, á epocas mui proximas , e felismente com a maior mansidão, e satisfação, de forma que em menos de hum mez a mesma pasta tem passado em trez mãos differentes ; e que pasta? A das finanças, a mais importante de todas, sem contradicção ; porque n՚ella está depositada a chave do Thesouro, que tudo paga , e portanto tudo move. Aliás está prontidão dos nossos Ministros á largarem o leme do estado, he bem edificante á vista da conducta dos Ministerios das outros nações, e particularmente da França, que se apegão ao poder com unhas, e bico, e antés que- rem ver a sociedade convulsa, e a dynastia tombada, do sahir de bom grado de tão pingues lugares. O Ministerio Polignac rematou a série destes egoistas visiralos, e não se satisfez senão com a total ruina do seu Rey , e , valhão me a más liugoas , de seu Pai.
Verdadeiramente está catastrophe do Polignac he tão especial, e unica no seu genero, e o acto naçional. a que deu origem, tão milagroso, que hoje he o que monopolisa a atténção dos povos em ambos os hemispherios, e em ambos elles os Periodicos, orgãos ou ventiladores da opinião, recheião suas columnas com as narrações dos factos, ou discussões de direito que estes levantão.
Duas opiniões promovem estas discussões. A primeira sustenta a Legitimidade do Duque de Bordeaux, e a outra do Duque d՚Orléans, ou do Povo. N՚está Corte estamos bem ao facto das razões por e contrá , poisque os jornaes amigos do Governo tem sido os interpretes da primeira opinião, e os da opposição da segunda. O Diario Fluminense, Moderador, e Imparcial Brasileiro, copião longos extractos da Gazeta, e da Quotidienne, e os eloquentes discursos do pequeno numero de veteranos realistas, que emprehenderão com coragem defender a brecha ; aliás em quanto se ventilava está questão da legitimidade, pouco faltou que hum terceiro partido não surripiasse o poder em litigio. Os partidistas do do systeme Monarchico Codstitucional, á saber da boa ordem, e segurança social, não tiverão que escolher; se no dia 10 d՚Agosto Philippe d՚Orléans não tivesse sido eleito Rey, no dia 11 havia republica. Os estimaveis jornaes que citamos sabem isto perfeitamente, mas quando traduzem as razões d՚hum partido já vencido, tem outro fim em vista, e promovem outra guerra, se bem que se possa dizer que semelhantes manobras preparatorias, não servem na occasião em que o inimigo com redobrada furia ataca a posição central.
Nossa questão financeira, e famosa lei do orçamento, obrigarão á nova prorogação das Camaras por mais hum mez. O problema á resolver he com effeito dos mais arduos; restaurar o credito á quem abusou d՚elle quantó lhe foi possivel, e cujas despezas passarão, e ainda passão do rendimento, não se pode effectuar senão por arte magica. Verdade he que já se obrou hum prodigio obrigando a Camarr Vitalicia a se reunir á dos Deputados, em virtude d՚hum artigo da Constituição, que a nosso ver mereceria grande exame. Entretanto como o tal artigo existe, he preciso executal-o e a adhesão do Senado era razoavel, e legal de mais, para que se considerasse como Victoria.
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