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O Livro de Esopo/A bugia que pede á raposa um pedaço da cauda

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XLII. [A bugia que pede á raposa um pedaço da cauda]

[Fl. 30-v.][C]omta este poeta este emxemplo e diz que hũa bugia fazia gram queixume aas outras animalias, porque nom tijnha rrabo pera cobrir ssua vergonça; e foy-sse aa rraposa e disse-lhe:

— Amigua, uós teemdes muy grando rrabo, e uay-sse-uos rrojando pello chãao e luxa-sse muyto; outrossy dá-uos muyto trabalho, ca vos peja muyto e empacha-uos o amdar: porem vos rroguo, comadre amjgua, que me dees hũu pequeno d’elle pera cobrir estas mynhas nadeguas, que me metem em gramde vergonça. A uós nom fará myngua, e a mym fará proueito.

A rraposa lhe disse:

— Comadre bugia[1], a mym[2] pareçe que este meu rrabo he muy fremoso e muj leue, e pareçe-me muy pequeno: pero toma de cuydado de nós, e nom o tomedes do meu rrabo. A mym[3] praz mays que elle jhore[4] pelo chãao, que uós cobrirdes d’ele as vossas velhacas nadeguas.

E assy sse partio ha bugia da rraposa.




Pom o poeta este emxemplo, pello quall nos dá amostramento que nom deuemos sseer avaros ao nosso proximo, porque o auaro nom faz bem a ssy nem a outrem. Ho auaremto ssempre /[Fl. 31-r.] cree que as cousas pequenas ssejam grandes. Ho auaro he seruo dos jdolos ·s·[5] dos dinheiros[6]: que quem serue aos dinheiros[7] serue aos jdolos. Ho auarento faz tesouro, e nom ssabe pera quem o guarda, e morre e viue mizquynho.

Notas

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  1. bugia está em entre-linhas.
  2. No ms. my (falta o til)
  3. No ms. my (falta o til)
  4. Sic.
  5. =scilicet. (tradução do latim: isto é)
  6. No ms. drrºs com rr (por jr?).
  7. No ms. drrºs com rr (por jr?).