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O Selvagem/II/III

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III

LINGUAS

Classificação das tribus pelas linguas. Classificação morphologica das linguas americanas no grupo das turanas. Classificação segundo a estructura interna das linguas em dous grupos. Grupos das Aryanas. Grupo das linguas Tupis e sua extenção. Indole das linguas deste grupo. Bibliographia do Tupi, e do Quichua.


Leibnitz, em uma carta ao padre Verjus, dizia: julgo que nada serve tanto para se poder bem julgar da afinidade dos povos como as linguas. O grande philosopho tinha razão.

Como veremos no capitulo seguinte as raças aborigenes do Brasil apresentam dous typos: um primitivo, e outros cruzados com raças brancas que deverão ter aportado á America muitos centos de annos antes da descoberta della por Christovão Colombo. Além de caracteres physicos que demonstram este cruzamento, ha um outro vestigio irrecusavel: é a presença de numerosas raizes sanscritas em certas linguas da America.

Como para a classificação das raças os vestigios deixados pelas linguas sejam documentos de incontestavel valor, antes de entrar naquella classificação, vamos estudar a das linguas americanas, assim como os factos que se prendem a taes linguas, e que elucidam mais de um ponto obscuro de ethnographia.

classificação morphologica

Sendo a linguistica uma sciencia muito recente, seja-me licito entrar rapidamente em algumas generalidades que concorrerão para tornar mais claro este assumpto de classificação,

O notavel professor inglez o Sr. Max Muller, seguindo as immortaes pegadas da Grammatica comparada de Bop, classificou todas as linguas humanas em tres grandes secções: linguas monosyllabicas, linguas de aglutinação, e linguas de flexão.

São monosyllabicas aquellas em que cada syllaba tem um significado.

São de aglutinação aquellas em que as raizes primitivas, as monosyllabicas, tem em grande parte perdido o seu significado quando isoladas, mas que adquirem um desde que entram em composição com outra raiz. É neste tronco que devem ser classificadas as nossas linguas americanas, e o seu typo é a lingua turana.

São linguas de flexão aquellas em que as raizes já totalmente se perderam, de modo que o pensamento nunca póde ser expresso senão por meio de nomes de maior ou menor numero de syllabas, mas que não são uma raiz. O sanscrito e o hebraico são typos nesta familia, á que pertencem tambem o portuguez e as linguas européas.

Esta classificação, denominada morphologica porque limita-se a fórma externa, a apparencia da lingua, se nos é licito expressarmo-nos assim, significa apenas maior ou menor grão de adiantamento de uma lingua; não indica de modo algum qualquer gráo de parentesco entre ellas.

Quando a anthropologia estiver mais adiantada, a linguistica, sua filha primogenita, ha de fixar regras de uma classificação mais profunda das linguas, e muito provavelmente esta classificação, partindo de caracteres mais intimos do que a sua fórma externa, ha de auxiliar a classificação das familias humanas e vice-versa: esta hade por sua vez auxiliar a das linguas.

A anthropologia já tem progredido hoje bastante para poder affirmar, que no mundo intellectual não existem factos isolados, assim como não os ha no mundo physico.

Assim como hoje se sabe que o crystal de qualquer mineral não podia ser formado na mesma época em que se geraram os vegetaes ou animaes nossos contemporaneos, assim tambem se hade saber que as linguas neste ou naquelle estado, as idéas religiosas e moraes ém maior ou menor gráo de perfeição, pertencem a periodos de desenvolvimento intellectual onde tudo se encadea, se harmonisa e é relativo, como o são os objectos e phenomenos physicos nos grandes periodos geologicos.

Se a classificação das linguas pela sua fórmá externa não indica gráo algum de parentesco com a familia em que ella é classificada, e indica pura e simplesmente o periodo de desenvolvimento em que se acha, o facto de classificar-se o tupí ou guaraní no grupo de linguas turanas, não quer dizer que elle tenha o menor gráo de parentesco com linguas asiaticas; indica apenas seu estado de desenvolvimento no periodo em que nós a encontramos.

dous grandes grupos nas linguas sul americanas

Supposto que as linguas americanas tenham todas chegado ao 2.º periodo de desenvolvimento — o de aglutinação, resta saber qual o gráo de parentesco que ellas têm ente si.

Os estudos comparados respeito ás linguas americanas estão apenas começando agora, e muitos annos decorrerão antes de esclarecer-se completamente este assumpto.

Empregando o methodo naturalista, que não deixa de fazer as grandes divisões pelo facto de não ter dados para fazer as pequenas, propomos que se adopte a seguinte classificação:

1.º grupo, linguas aryanas, ou aquellas que contendo centenares ou milhares de vocabulos sanscritos, indicam um cruzamento entre os indios da America e aquella grande famillia branca: o quichua', que era a lingua fallada pelos Yncas, seja ó ty po predominante d’esta grande divisão, na qual se virá agrupar mais tarde uma outra grande lingua, a saber: o quiché com seus dialectos o chaque-chiquel e o zutuil que, segundo o demonstra o padre Brasseur de Bourbourg, são parentas proximas de linguas europeas aryanas.

2.º grupo: linguas geraes nãs aryanas. N’este grupo se comprehende o tupí e o guaraní entre os quaes não ha maior differença do que a que existe entre o portuguez e o hespanhol; assim como comprehendem-se numerosos dialectos d’essas linguas, entre os quaes o dos indios Kiriris no qual possuimos um curioso cathecismo escripto em 1698, impresso em Lisboa, de que trato na noticia que dou no fim d’este capitulo, onde escrevo a bibliographia dous dos grupos de linguas americanas: supponho que o segundo dous dos comprehende tambem todas as linguas do Brazil.

linguas aryanas da america

Parece hoje fóra de duvida que o sanscrito forneceu cerca de duas mil raizes ao quichua.

Relações entre linguas americanas e esta grande lingua asiatica, de onde se originaram sete das grandes linguas actuaes da Europa, haviam sido presentidas de muito.

Os estudos serios de philologia comparada datam da publicação da grammatica de Bop.

Homens estudiosos não recuaram diante da aridez d’este estudo, e, com indizivel paciencia, escavaram essas minas pejadas de thesouros da antiguidade, e tem feito tantos progressos que talvez não esteja longe o dia em que, com o estudo de uma só grammatica e de um só systema de raizes, se consiga a chave para entender todas as linguas e dialectos de um grupo, fallados pela humanidade.

Com referencia a America, eis o que dizia em 1862 o padre Brasseur de Bourbourg:

«Plus d’un lecteur, en lisant le titre du vocabulaire, s’étonnera du travail comparatif qu’il renferme. En effet, qui se serait douté, il a quelques années, qui s’imaginerait même encore en ce moment, si ce livre n’en apportait les preuves les plus irréfragables, que les langues si longtemps ignorés de l’Amérique centrale offrissent des affinités si nombreuses e si remarquables avec les langues dites indogermaniques, mais surtout avec celles d’origine teutonique[1]?

Ao passo que esse vigoroso estudo era concluido a respeito das linguas da America central, um outro, não menos profundo, era proseguido com incansavel ardor pelo notavel argentino o Sr. Fidel Lopes.

Auxiliado pelo general Urquiza que collegiu documentos quichuas a peso de ouro, o Snr. Fidel Lopes começou seus estudos comparativos entre a lingua dos Yncas e a em que estão escriptos os Vedas, talvez o mais antigo monumento da sabedoria humana. Auxiliado depois por um distincto egyptologo, que propositalmente foi a Buenos-Ayres, elle publicou o anno atrazado em francez, a sua obra: Raças aryanas do Perú, onde apresenta centenares de raizes quichuas identicas a raizes sanscritas.

O quichua é das linguas americanas a que mais tem sido estudada, como o mostraremos pelo catalogo das obras que sobre ella se hão escripto na America e na Europa.

A conclusão do Sr. Fidel Lopes é a mesma do padre Brasseur de Bourbourg.

Quasi ao mesmo tempo um philologo peruano, o Doutor em leis José Fernandes Nodal, publicava em Cuzco (1872) os Elementos de grammatica quichua ou idioma de los Yncas, um volume em 4.º, com 440 paginas, facilitando assim a comparação d’essa curiosa lingua americana com o sanscrito.

Eu não conheço o sanscrito; o que tenho estudado do quichua me não habilita a julgar com tal segurança de sua grammatica de modo a podel-a comparar com a de qualquer das linguas aryanas que fallo. Mas, para ver identidade de raizes, basta saber ler, e depois de ter lido os trabalhos dos. Srs. Fidel Lopes, Brasseur de Bourbourg e Nodal, convenci-me de que as linguas de que tratam soffreram profundas modificações em seus vocabularios por vacabulos sanscritos. Uma raça aryana portanto esteve largamente em cruzamento com os indios ámericanos, e os Yncas ou seus progenitores eram filhos dos plateaux ou araxás da Asia Central.

Ignoro se existe no Brazil alguma lingua que possa com justa razão ser classificada como tendo affinidade com o sanscrito; se ha, o guaicurú deve ser uma d’ellas. Nossos conhecimentos estão porém muito atrazados para affirmal-o ou negal-o por emquanto.

A lingua mais geral na America meridional è o tupí ou guaraní. Consinta o leitor que por emquanto confundamos estes vocabulos, visto que dentro em pouco diremos em que consiste a differença.

A respeito da extensão d’esta lingua o benemerito jesuita hespanhol padre Antonio Rodrigues de Montoya nos diz no prefacio do seu Tesoro de la lengua guarani, Madrid, 1639: lengua tã universal que domina ambos mares; el del sur por todo el Brazil, y cinendo todo el Perú.

Na bibliotheca do Instituto Historico conserva-se um precioso manuscripto em inglez, 2 volumes em 4º., contendo grammatica e diccionario da lingua tupí, onde seu autor, o Sr. John, Luccock, diz que ella foi tambem fallada ao longo das costas orientaes da America do norte; aqui vão suas palavras: the language apears to have been spocken along the Western cost of Nort America[2]

Que o tupí ou guaraní foi, é, e será ainda por muitos annos a lingua mais geral da America do Sul, é questão que não pode ser seriamente contestada, desde que se admitta a quasi identidade das duas. Que ellas. são quasi identicas não ha a menor duvida para os que a tem ouvido fallar pelos naturaes.

Se assim é, como explicar o facto de ser o vocabulario da lingua brasiliana tão diverso do vocabulario de Montoya? Por exemplo: Quem lê os exemplos citados pelo padre Luiz Figueira e os entende, não entende senão com difficuldade os da arte da lingua guarani do padre Montoya. A quem estudar as linguas por monumentos escriptos isto succederá sempre, emquanto se não adoptar um alphabeto phonetico que expresse com propriedade sons que nós não possuimos em nossa lingua, e que força foi á aquelles grandes homens representar com as letras do nosso pobre alphabeto. Como as opiniões acerca da grande variedade de linguas americanas sejam exageradas, pela mesma razão porque se exageraram as differenças entre o tupi e o guarani, isto é, por causa da falta de um alphabeto, consinta-me que me detenha um pouco sobre isto, porque assim ficará esta questão esclarecida. O gammo das notas das linguas americanas è sem comparação alguma mais rico do que o das linguas aryanas, que são mais vulgares entre nós.

Os grammaticos jesuitas chegavam diante de um som que não tinha representante nas linguas que elles fallavam; era muito natural que o expressassem por uma letra de convenção; como não havia então os meios de communicação que temos hoje, porque o Brazil de 1873 está para o Brazil de 1600 fóra de toda comparação, era natural, dissemos, que essa convenção não passasse além de um circulo limitado.

A palavra agua por exemplo è gutural, em tupi e guarani.

Não ha som algum que possa representar no portuguez, latim ou hespanhol, linguas que eram as cenhecidas por aquelles padres, uma vogal gutural, porque essas linguas não possuem uma só. O que era natural que fizessem? Uns escreveram simplesmente um I italico com um trema; outros escreveram o mesmo I com um ponto em cima, outro em baixo; outros escreveram um y com um accento particular; outros escreveram yg. Portanto, da falta de uma letra que expressasse exactamente o som em questão, resultou que escreveram a mesma palavra por quatro fórmas distinctas, de modo que, quem lê é levado a pensar que havia quatro expressões para designar a palavra agua, quando os dialectos antigos e modernos não teem mais que um só vocabulo.

Esta confusão cresce quando a vogal gutural é seguida de vogal nasal aspirada; por exemplo: sem agua, que se diz: i̙i̙ma; ora, qual o meio de expressar isto com as letras do nosso alphabeto? Não ha: portanto uns escreveram iin, iji, outros igeima, de modo que nós, que lemos as letras com os sons que ellas representam, em vez do vocabulo tupí temos escripto diversos, dos quaes nenhum dá no som verdadeiro.

Um outro exemplo e com elle concluo.

Não temos sons nasaes no principio dos nomes, e por isso não temos meio algum de represental-os sem as convenções supracitados. A palavra, cousa, se diz em tupí m’bae que se pronuncia quasi como umbaé. Para expressar o som tupí com as letras de nosso alphabeto escreveriamos ou umbae, ou m’baé, ou imbae, ou embae, isto são 4 nomes distinctos, dos quaes um só é o tupí.

Á vista d’isto comprehende-se como, para quem lê a lingua antes de haver educado o ouvido pela falla, cada novo autor que lhe caia nas mãos figura uma nova lingua, ou pelo menos um dialecto diverso, sem haver tal diversidade sinão, na pobreza e falta do nosso alphabeto, que certamente não podia representar sons que não existem nas linguas para que elle foi feito.

Accrescente-se a isto, que os missionarios hespanhóes se serviam do alphabeto com os sons que elle tem em castelhano, diversos em muitos casos dos sons portuguezes; e comprehende-se com toda facilidade como o guaraní, que não é sinão o tupí do sul reduzido a lingua escripta, apresenta uma apparencia ás vezes tão diversa, que homens da força do benemerito Martius de saudosa memoria, com tanto merito real, e que aliás fallava o tupí, o julgava no entretanto distincto do guaraní, como se lê a pag. 100 do seu Glossaria linguarum braziliensium. Elle não conhecia o guaraní sinão por leitura, e leitura do padre Montoya, de todos o unico que escreveu com signaes especiaes, e que portanto escrevia muito diversamente de Martius que, tendo aprendido o tupí pelo padre Figueira, adoptou muito naturalmente o modo de escrever d’este grande e profundo grammatico.

Outro argumento da differença apparente das linguas tupí e guaraní, e estou quasi tentado a dizer de outras linguas americanas, resulta de circumstancias geographicas que serão bem comprehendidas á vista do seguinte exemplo:

No Paraguay se diz, gallinha: uruguaçu; no Pará dizem os tupís: çapucaia. Ora. é absolutamente impossivel encontrar identidade de raizes entre estas duas palavras: uru guaçu, e çapucaia; quem não conhecer a língua pensará mesmo que os vocabulos pertencem a dous idiomas distinctos; mas, desde que conhecer a significação das palavras, verá que uru guaçu quer dizer, perdiz grande; em verdade a gallinha se assembléa á perdiz; mas, não havendo perdizes no Pará porque não ha campos, o nome de uru era dado a outros individuos da familia que em nada se assemelham á gallinha, e portanto não era natural que elles se servissem do mesmo qualificativo; tomaram o canto do gallo para significar a nova fórma, e assim empregaram a expressão: çapucaia que quer dizer: o que grita, tanto em tupí como em guaraní.

Estes argumentos são clarissimos, mas só podem ser bem avaliados pelas pessoas que entenderem a lingua, e isto infelizmente não é vulgar entre nós, o que é de lamentar-se porque, além de ser quasi a lingua vernacula, é ella o grande vehiculo para levar civilisação e religião a, pelo menos, 1:000: 000 de nossos compatriotas que erram ainda selvagens pelo meio de nossos sertões, á espera de que lhes vamos levar a civilisação e o trabalho.

Por esse motivo a estes argumentos eu accrescentarei um de natureza historica, e é o testemunho do Dr. D. Lourenço Furtado de Mendonça, prelado da diocèse do Rio de Janeiro o qual, na approvação que deu a Arte do padre Montoya, diz em 7 de Março de 1630 o seguinte: y oxalá los prelados que allà en el Brasil tenemos nuestras Diocesis tan vezinas al dicho Paraguay, y Rio de la Plata, vieramos en ellas este espiritu, este zelo, e estos frutos, pues confiesso que andãdo yo visitãdo, me ayudé de uno destos iudios traìdos del dicho Paraguay para que en el Ingenio adonde estava quedasse con cargo de doctrinar à los otros del dicho Ingenio. Mas os indios do Rio de Janeiro e S. Paulo fallavam o tupi, logo o tupi é nem mais nem menos o mesmo guarani, com algumas differenças[3].

Indole das linguas do grupo tupí

Um facto que não deixa de ser singular e caracteristico n’este grupo de linguas, é que as suas fórmas grammaticaes são quasi todas ao inverso das nossas.

Passo a exemplificar isto, porque póde esta observação levar a comparações de não pequeno interesse.

Todas as linguas conhecidas, e que têm sido objecto de estudos, têm uma unica forma para exprimir as pessoas do verbo, e essa forma é a das terminações; nas indo-latinas é assim: laud-o, laud-as, laud-at, laul-amus, laud-alis, laud-ant; expressa as pessoas pelo mesmo mechanismo porque o portuguez o faz: louv-o, louv-as, louv-a, louv-amos, louv-aes, louv-am. Entre o portuguez e o latim a raiz mudou, mas o mechanismo é o mesmo.

O nosso tupi veiu fazer brecha n’essa regra dos philologos, apresentando-lhes um mechanismo tão ou mais simples, porém inverso, e por tanto distincto.

Todo mechanismo que serve para conjugar os verbos, quando é posposto á raiz nas linguas aryanas, é anteposto no tupi; e o que é anteposto nas linguas aryanas, é posposto no tupí.

Logo: em quanto as linguas classificadas significam as pessoas dos verbos por uma posposição, conservando a raiz em 1º lugar, o tupi põe a raiz para o fim, e começa por aquillo que entre nós é terminação. A vista d’esta regra, em vez de uma conjugação difficil e obstrusa, o mechanismo dos verbos fica tão claro como em portuguez; aquillo que os antigos grammaticos chamaram artigo, não é senão a mesma terminação, com a só differença de, em vez de ser posposta, é anteposta, exemplo:

Portuguez. Tupí.
Verbo matar, ajucá.
Raiz. Terminação. Terminação. Raiz.
mat — o a — juca
mát — as re — juca
mat — a o — juca.

Quando queremos passivar um verbo, em os tempos em que o podemos fazer sem auxiliares, o conseguimos pelo mesmo systema de posposição; elles o conseguem por uma anteposição, e com um mechanísmo muito mais simples.

A indole do tupí é tão inflexível n’este particular que, as mesmas preposições copulativas, são arremessadas para o fim da oração e pospostas aos proprios nomes que copulam! Permitam-me mais um exemplo para tornar patente esta singular e caracteristica lei: «eu vim com um bom cão, se diz em guaraní: che aju petein jogua catuété dive, o que, aopé da letra, díz: eu vim um cão bom com. Não ha em uma só lingua classificada transposição d’esta ordem, e isto indica uma elaboração linguistica inteiramente nova, e que caracterisará dentro em pouco um genero tambem novo.

Para formarmos os casos, nossas particulas, quando necessarias, precedem o nome: entre elles é posposta.

Entrego esses factos ao estudo e reflexão dos linguistas, persuadido de que ha ahi a primeira revelação de uma grande lei philologica, que muito ha de esclarecer o problema, até hoje tão obscuro, da diversidade das linguas.

trabalhos sobre a lingua tupí ou guarani

Parece-me que a palavra Tupi quer dizer: pequeno raio, ou filho do raio, de Tupá — raio, e — i diminutivo. A palavra Guarani parece corruptella da palavra guarini que significa guerra.

Os padres jesuitas hespanhóes e portuguezes foram os unicos que na antiguidade estudaram as linguas selvagens, As linguas selvagens hoje são o mais valioso documento para resolverem-se dous problemas importantes da sciencia, a saber: os grãos de parentesco da grande familia americana, e as leis a que o entendimento humano está sujeito no desenvolvimento da poderosa faculdade de compor linguas. Descoberta essa lei, será possivel uma grammatica que sirva de chave para entenderem-se todas as linguas de uma mesma familia, o que será cousa mais importante para o progresso da humanidade, do que a descoberta do vapor ou das leis da electricidade.

Se o tupi é uma lingua primitiva, como tudo induz a crer, sua antiguidade em relação ao sanscrito e ao hebraico, é tal que, a vista d’ella, essas linguas ficam sendo quasi contemporaneas.

E um dos mais importantes legados que o homem prehistorico deixou ás gerações actuaes. Os homens estudiosos têm n’ella mina riquissima de investigações uteis e proveitosas, que não devem abandonar ás gerações futuras, por que essas virão em tempo em que talvez já tenham desapparecido os elementos indispensaveis para o seu estudo.

Com estas reflexões não quero por fórma alguma inculcar que tenho conhecimentos extensos da lingua; eu a fallo tanto quanto é necessario para me fazer entender pelos indigenas; mas ainda não conclui meus. estudos que aliás eu tenho dirigido no sentido pratico.

Pena é que sejam hoje tão raros os livros sobre as linguas indigenas, e tão raros que eu senti difficuldade até para organísar um catalogo d’elles; e como isso será justamente a primeira difficuldade com que terá de arcar aquelle que se empenhar n’esta ardua, mas gloriosa senda, eu concluirei este capitulo com a relação d’esses escriptos, alguns que conheco só por noticia, outros que possuo ou que tenho visto.

O mais antigo e, a todos os respeitos, precioso monumento que possuimos em portuguez, é a Grammatica do jesuita padre José de Anchieta, o mais notavel dos antigos catechistas. D’esta obra, que esteve quasi perdida para as letras, os mais minuciosos catalogos só mencionam a existencia de doís exemplares, um existente na bibliotheca do Vaticano, e um pertencente ao Sr. conselheiro Macedo, ex-bibliothecario da Torre do Tombo. Na America só existe um exemplar, e esse pertence a S. M. o Imperador. Este exemplar, que é um primor d’arte de calligraphia, consta-me que S. M. o houve na Allemanha, e é copia fac-simile do da bibliotheca do Vaticano. Eu o vi em uma das sessões do Instituto, o anno passado. Pelo que pude julgar com exame rapido que fiz d’essa obra, pareceu-me um trabalho grammatical do mais subido valor. Desde que S. M. possue um exemplar, a bibliotheca do Instituto não ficará sem uma copia.

Em seguida a esta obra, as mais preciosas são incontestavelmente as do padre Antonio Rodrigues Montoya, jesuita hespanhol, filho de Lima, e que floreceu no primeiro meado do seculo XVII. Escreveu elle:

Arte e vocabulario de la lengua guarani, Madrid, 1640. Esta cbra é hoje rarissima; existe na Europa, que me conste, um unico exemplar na bibliotheca publica de Londres. Na America sei da existencia d’um pertencente a S. Magestade, um que foi do Dr. Martius, pertencente á bibliotheca do Instituto, doado por S. M.; um que me pertence e que foi tomado em uma carreta em Cerro Corá por um official do nosso exercito. Este livro é precioso pela multidão de textos que encerra com o modest titulo de vocabulario.

O 2.º é o Tesoro de la lengua guarani do mesmo autor; é a obra mais completa, e o mais profundo estudo sobre a lingua; é um monumento que ha de passar ás mais remotas éras, si não perder-se agora; só com seu auxilio seria possivel restaurar a lingua, se ella se perdesse. Existe um exemplar na bibliotheca de Londres, um na de Santa Genoveva em Paris.

Na America sei da existencia de quatro; um pertencente a S. M. o Imparador, um ao Dr. Baptista Caetano, que com tanto esmero se ha dedicado ao estudo da lingua; um pertencente ao general D. Bartholomeu Mitre, um que pertenceu ao general Urquíza, e que penso pertencer hoje ao Sr. Fidel Lopes, de BuenosAyres. D’esta obra só tenho noticia d’uma edíção; da Arte e vocabulario tenho noticia de duas: a que citei acima, e uma outra feita em Santa Maria Maior, impressa ao que parece com typos de madeira; esta segunda edição traz acrescentamentos debaixo do titulo de escolios, escriptos pelo padre Paulo Restivo, da companhia de Jesus, 1724. Não creio que exista um só exemplar na Europa, por que alguns bibliographos até põe em duvida que ella tenha sido impressa, e todos a citam com referencia. Existem na America, que eu saiba, dois exemplares, um pertencente a S. M. o Impérador, e outro qu pertencia á familia do marechal Lopes, e que me foi dado.[4]

A outra obra do padre Montoya é o: Catecismo de la doutrina christã. Ha duas edições, uma de Madrid que deve ser do mesmo anno de 1640, e uma de Santa Maria Maior, augmentada pelo mesmo jesuita, o padre Paulo Restivo, ja citado. Só tenho noticia d’um exemplar existente d’essa obra, e esse pertence a S. Magestade o Imperador; ainda o não vi.

A 4.ª obra do padre Montoya é: Sermones de las dominicas del ano e fiestas de los indios. Ignoro se esta obra foi impressa, e menos ainda se subsiste hoje algum exemplar d’esse precioso livro. Os bibliographos o notam apenas pela referencia que d’elles faz o citado padre no proemio do seu Tesoro.

Ás obras d’este, seguem-se as dos outros missionarios portuguezes.

Não sei que exista um só exemplar das grammaticas de Manoel da Veiga, e Manoel de Moraes, que só conheço pelas referencias que d’ellas faz o Sr. França em sua Chrestomathia da lingua brasilica, citando João de Laet, notas á dissertação de Hugo Grotio, intitulada: De origine gentium americanarum.

A bibliotheca fluminense, e creio que a do Rio de Janeiro, possue um exemplar do cathecismo grande dos Jesuitas, pelo qual elles ensinavam a doutrina christã a nossos selvagens. Essa obra tem por titulo: Catecismo Brasilico da Doutrina Christa; com o ceremonial dos Sacramentos e mais actos parochiaes. Composto por padres doutos da companhia de Jesus, aperfeiçoado e dado á luz pelo padre Antonio de Araujo, da mesma companhia, emendado n’esta segunda impressão pelo padre Bartholomeu de Leam, da mesma companhia. Lisboa, 1686. Off. de Miguel Deslandes.»

Grammatica da lingua geral dos indios do Brazil, composta pelo padre Luiz Figueira, reimpressa na Bahia em 1851, aos esforços do Sr. João Joaquim da Silva Guimaraes. No meu pensar, o padre Figueira não conheceu tão profundamente a lingua quanto o padre Montoya; comtudo, na grammatica propriamente dita, isto é na philosophia da lingua, me parece que elle é superior ao dito padre Montoya, A edição de Lisboa, que já não é vulgar, foi seguida d’um vocabulario com o titulo de: Diccionario Brasiliano.[5] Outras obras ha antigas, que ou não tiveram a celebridade e reputação d’estas, ou nunca foram impressas, e conservam-se nas bibliothecas de França, Inglaterra e Allemanha, até que, ha pouco tempo, a curiosidade dos sabios singularmente despertada por esta lingua que lhes vai ministrar, talvez, um ponto de comparação que lhes faltava para fixarem regras importantissimas de philologia, as está desenterrando do pó de quasi dous seculos para trazel-as á luz da publicidade.

Além d’estes trabalhos, que se referem ao tupí ou guarani, existe um mui curioso e importante sobre um grande dialecto da lingua, que era fallada antigamente em grande extensão do Brazil: referimo-nos á lingua kiriri; tem por titulo: Catechismo da doutrina Christã na lingua brasilica da nação Kiriri, composto pelo padre Luiz Vincencio Mumiani. da companhia de Jesus, missionario da provincia do Brazil. Lisboa, 1698, na officina de Miguel Deslandes. — Os bibliographos dão esta obra como perdida. Felizmente para nós existe aqui no Rio de Janeiro um exemplar pertencente ao Sr. F. A. Martins, digno conservador da bibliotheca d’este Institnto.

Possue mais a bibliotheca d’este Instituto uma verdadeira preciosidade em guarani, de que não ha menção em catalogo algum, mas que está infelizmente tão estragada pelas traças que ficará perdida se não cuidarmos de sua reimpressão, ou pelo menos de tirar uma cópia; tem por titulo: Sermones e exemplos em lingua guarani, por Nicolas Japuguay — En el pueblo de S. Francisco em 1727. Como o nome indica, este missionario devia ser algum mestiço que, com o leite materno, bebeu os primeiros rudimentos da grande lingua sul-americana; esta obra foi doada ao Instituto pelo socio o Sr. conego Gay.

Possue tambem o Instituto um grande manuscripto em dous volumes, contendo: Grammatica e Diccionario da lingua tupi, escriptos uma e outra cousa em inglez; foi obtido em Vienna d’Austria e remettido a esta associação pelo benemerito poeta e litterato o nosso finado consocio o Sr. Antonio Gonçalves Dias. O manuscripto tem por titulo: A Diccionary of the Tupy language as spocken by the aboriginis, collected by John Luccock, Rio de Janeiro, 1818.

Não tive ainda sufficiente tempo para poder julgar se é uma obra original ou uma simples traducção de alguma outra, o que aliás não é cousa facil, porque, como o leitor terá visto por esta noticia, é difficilima a acquisição d’estes livros, e por tanto difficil a comparação, que não póde ser feita sem possuir um texto diante do outro

Possue mais o Instituto: Compendio da doutrina christã na lingua portugueza e brasilica composto pelo padre João Filippe Betendorf, reimpresso em 1800 por frej José Mariano da Conceição Velloso.

Entre obras contemporaneas possuimos: Diccionario da lingua tupy, por A. G. Dias, Leipzig — F. A. Brockhaus, 1858.

Crestomathia da lingua brasilica, pelo Dr. Ernesto Ferreira França, Leipzig — F. A. Brockhaus, 1859.

Glossaria Linguarum brasiliensium, do Dr. Carlos Frederico Philippe de Martius — Erlangen, Junge und Sohn, 1863.

Vocabulario da lingua indigena geral para uso do Seminario Episcopal do Pará, pelo padre M. J. S. Pará, 1853.

Grammaticu da lingua indigena geral para uso do Seminario Episcopal do Pará, pelo coronel Faria, professor que foi d’essa cadeira, Maranhão, 1870.

trabalhos sobre a lingua quichua

O tupi é uma lingua que não soffreu mescla com o sanscrito. Para se ter um ponto de comparação com linguas que foram alteradas por aquelle grande idioma asiatico, é necessario ter livros quichuas, que é das linguas americanas a que foi mais alterada pelo sanscrito, e tambem a que tem sido objecto de mais conscienciosos estudos.

N’ella porém, como no tupi, a grande parte dos homens de lettras ignora até o nome dos livros que se ha escripto a seu respeito, livros hoje raros, mas que se encontram nas grandes bibliothecas da França, Inglaterra e Allemanha.

Em nossas bibliothecas encontra-se a Arte e vocabulario do Dr. Tschudi, que aliás dá bom elemento de estudo para conhecimento da lingua.

Ultimamente (1872) publicou o Dr. José Fernandes Nodal, em Cuzco, no Perú, Grammatica quichua, ó idioma de los Yncas, e está imprimindo na mesma cidade o seu — Gran Diccionario Castellano Quichua — y vice-versa. O Sr. Fidel Lopes, de Buenos-Ayres, publicou em Pariz, o anno atrazado, a obra que citei atraz: Races Aryennes du Perú, que é uma curiosa e profunda comparação entre o quichua e o sanscrito. Infelizmente no Brasil nada havemos feito recentemente sobre as nossas linguas.

Com as obras acima citadas, o homem estudioso tem os elementos necessarios para conhecer esta importante lingua.

No entretanto, como é summamente raro um catalogo dos escriptos antigos sobre o quichua, aqui vai a relação dos mais notaveis, que extracto da obra do Dr. Carlos Nodal:

Grammatica da lingua geral dos indios do Perú, pelo dominicano frei Domingos S. Thomaz. Lexicon da mesma lingua, (em hespanhol). Valladolid, 1560.

Arte Quichua, pelo jesuita padre Diogo Torres Rubio, com cathecismo christão, seguida de um vocabulario da lingua Chinchaisuyo, pelo jesuita Juan de Figueredo, (em hespanhol). Lima, 1700. Esta mesma obra, melhorada, foi reimpressa em Lima em 1754.

Vocabulario da lingua geral do Perú, pelo padre frei Juan Martinez. Lima, 1609.

Grammatica da lingua geral do Perú, pelo padre frei Diogo Gonsalez de Holguin. Cidade de los Reys, 1608. Este jesuita escreveu tambem um vocabulario que foi reimpresso em 1842.

Arte da lingua Quichua, pelo Dr. Alonzo de Huerta. Cidade de los Reys, 1616.

Grammatica da lingua indica, por Diego de Olmos. Lima, 1644.

Arte da lingua dos Yncas, pelo bacharel D. Estevam dos Santos Melgar. Lima, 1691.

Arte da lingua geral dos indios do Perú, por Juan Roxa Maxia y Ocon. Lima, 1648.

Arte e vocabulario da lingua Quichua, manuscripto na bibliotheca de Berlin, pelo barão de Humboldt.

Elementos para uma Grammatica e Diccionario Quichua, por R. Clemente Markham.. Londres, 1864.

collecção de instrumentos e artefactos

Depois de fallar d’aquillo que colligimos das linguas não deixaria de ser omissão não dizer o que temos colhido de outras manifestações da actividade dos nossos selvagens.

Possuimos no Museu Nacional uma riquissima e polita preciosa collecção de instrumentos de pedra lascada, machados, dardos, facas, mós, e pilões ou induá, alguns dos quaes de trabalho e lavor tão perfeito que excitam a admiração.

Ao Sr. conselheiro Lopes Netto deve aquelle estabelecimento uma preciosa collecção de antigos vasos,assim como uma facha de ouro que no Perú distinguia os membros da familia real, dos Incas, e idolos de ouro e prata hoje rarissimos. Este illustre brasileiro cuja estada na Bolivia nos foi tão util pelo tratado de limites que consolidou a paz d’aquella republica com o nosso paiz, não se esqueceu de dotar o nosso estabelecimento de archeologia com o que de mais precioso alli encontrou.

Á elle devemos tambem um exemplar da pedra das Amazonas, verdadeira raridade que falta á maior parte das collecções de antiguidades americanas.

Em artefactos de argilla plastica possuimos tambem uma collecção curiosa de antigas urnas funerarias, a maior parte provenientes de Marajó devidas ás investigações do nosso illustre compatriota o Sr. Domingos Soares Ferreira Penna.

Em roupas e artefactos de penna, armas de madeira ou ossos, collares de fructas, sementes, ossos, a collecção do Museu é esplendida, e devemol-a a S. M. o Imperador.

A secção propriamente anthropologica, essa é pauperrima. Apenas quatro craneos, e dous esqueletos e tudo quanto possuimos para estudar as proporções é caracteres do homem americano. Possuimos maior numero de mumias do Egypto! É natural porém que as collecções d’esta ordem se enriqueçam agora, com o crescente interesse que vão tomando estas sciencias.


  1. Grammaire de la langue quiché mise en pararelle avec ces deux dialectes chaque chiquel et zutuil, comprenante les sources principales du quiché comparées aux langues germaniques. Par. 1862
  2. Este precioso manuscripto foi doado ao Instituto pelo benemerito consocio o finado Sr. Gonçalves Dias.
  3. Entre as differenças uma ha curiosa, e é a tendencia que manifesta o guarani em abandonar as raizes primitivas dos vocabulos aglutinados, e isto demonstra que o guarani é posterior ao tupi; exemplo: cicurijú, é o nome da nossa grande serpente amphibia, em tupi; os guaranis dizem curyjú; Cahapora, é o nome de um genio de sua mythologia de que fallaremos adiante, em tupí; os guaranis dizem: Pora Curupira. Matim taperé ou Saci Cereré é o nome de outro genio em tupi; os guaranis dizem: Céréré; onça, jaguara em tupi os guaranis dizem jagua. Estes exemplos, que eu poderia alongar a um grande numero de vocabulos, indicam que é a mesma lingua em dois periodos: o tupi em um periodo mais primitivo, quasi monosyllabico, conservando com escrupulo as raizes com que formou a aglutinação; o guarani em um periodo mais desenvolvido, aquelle em que a raiz monosyllabica perde a significação para abandonal-a ao vocabulo aglutinado. Portanto o tupi é anterior e por isso denominamos o grupo com o seu nome.
  4. Aos amigos da linguistica americana damos a fausta nova de que o incansavel Snr. Barão de Porto seguro esta fasendo reemprimir em Vienna d’Austria o vocabolario e Thesouro do padre Montoya.
  5. Este padre Luiz Figueira é um d’esses vultos angelicos, que illuminam as primeiras paginas da historia dos jesuitas, em nossa terra; já velho e cançado, não cessava de viajar pelos sertões do Brasil para catechisar e doutrinar os pobres brazis, como com sincera ternura os denominava no prologo da sua grammatica. Gozou da gloria do martyrio; foi morto e devorado pelos indigenas da ilha de Marajó, no Pará.
    Vide: A. Henriques Leal, Apontamentos para a historia dos jesuitas no Brasil.