O Selvagem/Parte pratica/I
LIÇÃO PRIMEIRA

Esta lingua não tem artigo definido.[1]
Ter |
Rẹkọ́ |
Os prefixos pronominaes, que antecedem os verbos, fazem n’esta lingua o effeito das nossas terminações, e é por elles que se determinam as pessôas dos verbos, assim: eu tenho, tú, elle: arẹkó, rerẹkó, orẹkó. a — é o prefixo que indica a 1.ª pessôa; — re — o que indica a 2.ª e — o — o que indica a 3.ª Vide a regra 13 do § 2.º da 1.ª parte.
Minha espingarda. |
Ce mukáua. |
Em todas as phrases interrogativas vem uma destas particulas: será, tã, tahá, ou pá, cujo emprego o uso ensinará. É a unica distincção que ha entre as phrases interrogativas e as affirmativas a presença de uma dessas particulas, como já ficou visto nas orações precedentes, e sel-o-ha constantemente nas outras.
Essas particulas muitas vezes substituem o verbo da oração, como veremos praticamente.Que? |
Mahã́ tahá? |
Os pronomes pessoaes: eu xẹ ou ixẹ́, tu nẹ́ ou inẹ́, elle ahe, nós ianẹ́, vós penhẽ, elles aitá (aetá) nem sempre são expressos, excepto na 1ª pessoa, em que elle é quasi sempre expresso, se bem que contraia em si o prefixo pronominal dessa 1ª pessoa. Assim: Xá rekò é uma contracção de Xẹ a rekó.
Ás vezes, para darem mais expressão e energia á phrase, empregam o pronome duas vezes, uma sem, e outra com a contracção; assim: Ixé xa rekó; Inẹ́ rerekó, eu tenho, tu tens,
Tem você o pão? — Sim, senjor, eu tenho o pão. — Tem você o seu pão? — Tenho o meu pão. — Tem você o sal? — Eu tenho o sal. Tem você o meu sal? — Tenho o seu sal. — Tem você a batata? — Tenho a batata. — Tem você a sua batata? — Que batata tem você? — Tenho a sua batata. — Tem você o seu mel? — Tenho o meu mel. — Que mel tem você? — Tenho o seu mel. — Que farinha tem você? — Tenho a minha farinha. — Tem você a minha farinha? — Tenho a sua farinha. — Que pão tem você? — Tenho o meu pão. — Que sal tem você? — Tenho o meu sal.
Rẹrekó será miapé? — Çupí tenhẽ, xa rekó miapé.[2] — Rerekó será nẹ miapé? — Xa rekó cẹ miapé. — Nẹ rerekó será iuki̙ra? — Xa rekọ́ iuki̙ra. — Rerekó será cẹ iúki̙ra? — Xa rekó nẹ iuki̙ra. — Rerekó será iuti̙ca? — Xa rekó iuti̙ca. — Rerekó será nẹ iuti̙ca? — Mahã́ iúti̙ca tahã́ rerekó? — Xa rekó nẹ iúti̙ca. — Rerekó será nẹ íra? — Xa rekó cẹ íra. — Mahã́ íra tahá rẹrekọ́? — Xa rekó nẹ íra. — Mahã́ uhí tahà rerekó? — Xa rekó cẹ uhí. — Rerekó será ce uhí? — Xa rekó nẹ uhí. — Mahã́ miapé tahá rerekó? — Xa rekó cẹ miapé. — Mahã́ iuki̙ra tahá rerekó? — Xa rekó cẹ iuki̙ra, (jukíra).[3]
- ↑ Recommendamos muito ás pessoas que lerem este curso, de o não fazer sem primeiro estudar o modo de ler e pronunciar as palavras, do que tratamos na parte syntethica, § 1.º de n. 2 a n. 10, e recordamos que o r é sempre brando; que ã, ẽ, ĩ, õ, ũ, leem-se como an, en, in, on, un; que o s nunca tem som de z nem mesmo entre duas vogaes; que um ponto em baixo das vogaes a, e, o quer dizer que taes vogaes são fechadas; usamos do — ç — com sedilha antes de a o u, e tem o som de — s — pela razão que daremos no capitulo final em que tratamos da pronuncia — prosodia e ortographia. Raras vezes usamos do — s — porque a lingua em geral repelle o sibillo que lhe é proprio.
- ↑ Por falta de lettras do alphabeto phonetico deixaremos de empregar os signaes que indicam que a lettra é fechada em uma palavra desde que a tal palavra tenha sido anteriormente escripta muitas vezes com os taes signaes.
- ↑ Sempre que pusermos um nome tupí entre parenthesis, entenda-se ser uma variante de alguns diallecto geral a qual é necessario conhecer para queo vocabulo não fique ignorado pela pessoa que o ouvir.