O Subterrâneo do Morro do Castelo/Quarta-feira, 1 de junho de 1905

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Os Tesouros do Morro do Castelo[editar]

Na Câmara dos Deputados[editar]

No expediente da sessão de ontem, da Câmara dos Deputados, foi lido um requerimento do engenheiro Henrique G. Dab Verme, dirigido ao Congresso Nacional e concebido nos seguintes termos:

"O engenheiro Henrique G. Dab Verme requereu ao Congresso Nacional o favor de lhe permitir a exploração e desobstrução das galerias do Morro do Castelo para os fins indicados no seu requerimento de 16 de abril de 1903, sendo considerada justa a sua pretensão, sem ônus para a Nação, e por isso a comissão da fazenda e indústria da Câmara redigiu o projeto n.321, de 1904, cuja discussão ficou parada por ter-se encerrado o Congresso.
O suplicante, como é sabido, desde alguns anos se tem dedicado a estudos arqueológicos, e conhecendo por documentos antigos que possui, a existência de galerias subterrâneas no referido morro, pediu o favor da exploração para descobri-los ao público; sendo certo que ele conhece o lugar em que os jesuítas depositaram os seus valores, e dado o caso, fossem estes encontrados, de acordo com a lei vigente, em parte pertenceriam ao requerente.
Depois de muito tempo gasto e de sacrifícios feitos do maior valor, quando esperava o suplicante que as suas idéias e seus sacrifícios seriam recompensados, eis que o governo manda demolir o dito morro, e neste sentido se está procedendo a escavações, já se tendo achado duas galerias, aliás sem muita importância, por serem consideradas de defesa. Mas assim ir-se-á destruindo obras de arte de subido valor, além de ser inutilizado o melhor ponto estratégico da cidade, primitiva fundação de S. Sebastião, hoje do Rio de Janeiro, donde se poderia com pouca despesa reconstruir uma poderosa fortificação, sobre os alicerces da iniciada pelos jesuítas, que vem desde a base desse morro.
Se o governo pretende com o arrasamento descobrir o tesouro que se supõe existir, o meio empregado não é decerto o mais próprio, porque levará mais de três anos para esse arrasamento, e só no fim desse prazo e de haver despendido muito dinheiro talvez poderá ser encontrado o esconderijo que servia de depósito aos referidos valores. Entretanto o requerente com as plantas que possui poderá facilmente ir direto ao lugar e aí verificar a existência ou não do citado tesouro, sem aliás destruir as galerias e salões subterrâneos, que poderão ser expostos ao público e projetados, para assim se conservar a tradição da sua construção, forma, direção, monumentos, etc.
O suplicante já se entendeu com os srs. Ministro da Fazenda e da Viação, engenheiro-chefe da Avenida Central, e todos são de opinião que o Congresso Nacional pode conceder ao requerente a autorização solicitada, e até, se antes não houvessem sido descobertas todas as galerias, o suplicante iria mostrá-las.
Além das galerias subterrâneas do Morro do Castelo, o requerente conhece outras existentes nesta capital e fora dela, e por isso solicita do Congresso o favor de estender a concessão para os demais pontos que o suplicante indicar na ocasião de ser lavrado o respectivo contrato com o Ministério da Fazenda."