Os Melões

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(Rodolphe Bringer)

Quando se sai de Cliosclat pela estrada de Montelimar, a primeira casa que se encontra à mão direita é a de Anastácio Boudoufe.

Anastácio Boudofe, que fez uma linda fortuna em Lion, vive ali tranqüilamente com sua mulher, a qual tem cerca de vinte anos menos do que ele, e, formosa e coquete, vai demais a Monetlimar, onde há muitos tenentes de guarnição. Não sejamos, porém, alcoviteiros.

Não obstante haver na casa uma criada, Anastácio Boudofe, que tem a mão apertada, faz, ele próprio, as suas compras. E era para fazê-las que estava, naquele sábado na praça da localidade, com a sua cesta na mão, quando se pôs a contemplar, enamorado, os melões com que a Luísa tentava a gula da freguesia.

Anastácio Boudofe adora os melões. Vendo aqueles, de aspecto tentador, subiu-lhe água à boca, e:

— Estão maduros, estes melões?

— Um açúcar, sr. Anastácio!

— A como vende?

— Isso depende do tamanho.

Anastácio pôs-se a apalpar os melões, um a um, virando-os, revirando-os, num exame demorado e meticuloso. Enfim, parece decidir-se por um, lindo, verde, raiado de branco.

— Quanto é este?

— Um franco, meu caro senhor.

Anastácio repõe o melão no lugar, e recomeça a escolher.

— E este?

— Um franco e cinqüenta.

E Anastácio a pôr no lugar a mercadoria, par retomar outro melão, virá-lo, pesá-lo, sacudí-lo, até que, finalmente, deixando tudo, decide:

— Bom, fica para outra ocasião... Não me servem, não...

A essas palavras, a Luísa, que é a pior língua da região, põe as mãos nas cadeiras, num ar de desafio e de cólera:

— Ah, os meus melões não lhe servem, não? Pois, olhe, meu caro sr. Boudofe, deixe-me dizer-lhe uma coisa.

E decidida:

— Se o senhor tivesse apalpado e refletido tanto quando teve de escolher mulher, não era hoje o marido mais enganado de Montelimar!...