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106 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário
 

propus que se devia cavalgar, mas que deveríamos deixar o dinheiro lá na estação. Pois lá havia um cofre forte e pessoas que pudessem o vigiar, mas lá no mato nós estávamos entregues tanto ao Dr. Salana como ao seu pessoal; mesmo que nós pudéssemos voltar, estes nunca permitiriam que o dinheiro nos acompanhasse. Os americanos - quando falo de americanos, refiro-me aos norte-americanos - riam e troçavam de nosso medo, diante do que repliquei que medo e extrema imprudência são duas coisas bem diferentes, e, além disso, eu realmente queria que cavalgássemos até Salana, só o dinheiro deveria ficar; de resto eles poderiam fazer o que bem entendessem, já que eu estava ali só por diversão mesmo. Depois disso os americanos se desculparam, mas realmente não havia sinal de perigo e eles já tinham vivido com o Dr. Salana e seu pessoal e por isso deviam saber mais do que nós. Dr. Alaro hesitou no que ele devia fazer, mas os americanos sabiam como o convencer e ficou decidido cavalgar pelo mato com o dinheiro. Todo o conselho não havia durado um quarto de hora e logo depois do café da manhã partimos. Na frente iam os dois americanos sobre cavalos muito bons, depois vinha o Dr. Alaro, atrás dele um criado cuja mula levava ambos os cofres cheios de dinheiro sobre a albarda no cabresto, a seguir o tesoureiro, depois eu, o engenheiro do governo e os outros. Nós tínhamos mulas de carga para cavalgar, que sobre caminhos ruins são mais seguras do que cavalos. A trilha sobre a qual nós cavalgávamos levava morro acima sobre o divisor de águas do "Rio Timó" ao "Rio do Pixe",[1] morro abaixo a uma magnífica floresta de araucárias, uma vez que as copas dessas árvores só se expandem bem no alto se podia acreditar que se estava transplantado numa maravilhosa catedral, na qual uma segunda vegetação mais baixa e brenhas se estendiam até meia altura. As araucárias são as únicas coníferas conhecidas por estas paragens, mas que diferença entre elas e os nossos pinheiros e abetos! Até a altura de mais ou menos quinze, metros as araucárias jovens mantêm a forma de nosso abeto, mas então se estendem e a cada ano perdem mais ramos inferiores

 

  1. Refere-se aos Rio Timbó e Rio do Peixe (território catarinense). (NdH)