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Robert Helling | 135

submisso ao Pope e ao Czar, simpáticos à revolução, mas nunca por muito tempo. Eu considerava o regime soviético como uma planta estrangeira que seria varrida, se o sopro abafado do cotidiano dos russos soprasse continuamente sobre ela. Quanto me enganei! Ano após ano, ela segue e a bandeira vermelha ainda flutua.

Expus meus pensamentos a um amigo, médico russo, e perguntei a ele se poderia dar uma explicação para isso. Ele sorriu - era o mesmo sorriso apático-amigável, típico aos russos - e me perguntou se eu nunca tinha pensado a respeito do fracasso da contra revolução do general Denikoff, que recuou quarenta verstas[1] próximo a Moscou.[2] Não tinha conhecimento que os sovietes repartiram todas as terras de grandes proprietários entre os pequenos lavradores? Respondi afirmativamente.

“Então, o que mais o senhor quer?”, disse ele cansado. “Pois então o senhor não vê que unicamente essa divisão de terras segura os sovietes? Leia Tolstoi, ele tinha uma ideia dessa sede de terra do povo russo! Denikoff precisou retroceder quando estava a quarenta verstas de Moscou, porque ele queria restituir aos velhos senhores a posse de suas terras. No dia seguinte, metade de seu pessoal o abandonou. O mais óbvio não se vê e um europeu ocidental nunca irá compreender a alma do povo russo!”

 

  1. Medida arcaica empregada na Rússia, equivale a 1,067 km. (NdT)
  2. A grafia Denikoff deve-se a um equívoco de Helling. Trata-se de Anton Ivanovitch Denikin, um das generais que, após a Revolução Russa de 1917, comandou as forças contrarrevolucionárias. Vide BRINCLEY, George. The Volunteer Army and the Allied Intervention in South Russia, 1917-1921: A Study in the Politics and Diplomacy of the Russian Civil War. Notre Dame: University of Notre Dame, 1966. (NdH)