Página:40 anos no interior do Brasil.pdf/39

Wikisource, a biblioteca livre

Robert Helling | 39

na lavanderia de minha mãe. Estiquei-me no catre; era noite e sonhei. Um animal gigante lutava comigo, ele me puxava para baixo d'água, presas pontiagudas agarravam meu rosto, uma garra prendia-se em minha boca. Acordei com um grito, cuspi algo, depois agarrei, aí ele fugiu, eu o segurei. Meu irmão despertou com o meu grito, assustado acendeu a luz, eu cuspi continuamente e sem dizer nada segurei para ele algo rastejante, que minha mão continuava segurando e ele exclamou: “Uma baratta!” “Anda capturando baratas de noite?” Eu joguei a coisa fora; era um monstro de no mínimo quatro centímetros, um elefante comparado às nossas baratas conterrâneas e este bicho monstruoso havia entrado na minha boca enquanto eu dormia. Sabe Deus o que procurava lá!

Na manhã seguinte, ansiosamente prosseguimos viagem. Nós havíamos alugado uma grande carroça com um certo senhor Blum e colocamos em cima toda a nossa bagagem que era de certa monta. Tal carroça era atrelada com oito cavalos, mas segundo nossos conceitos alemães eram apenas pequenos cavalinhos, por mais que o cocheiro os elogiasse como grandes. Nosso companheiro de viagem, o senhor Blum, tinha consigo sua esposa e dois belos pastores alemães e já havia estado no Brasil. Conhecia tudo por lá e se tomava por conhecedor. A viagem continuava em frente por 40 km em uma estrada plana, então no segundo dia começou a subida da serra. As curvas serpenteavam por mata em cima de mata e um olho de pintor não se fartaria de ver todos os maravilhosos tons de verde desta magnífica vegetação. As palmeiras entremeadas pareciam-se com nobres donzelas entre o povo vulgar, grandes árvores com flores vermelho-púrpuras do tamanho de uma mão, flores brancas das trepadeiras, flores amarelo-vivas do Ipê contrastavam com o mar verde. No segundo dia nós acampamos pelo meio-dia em uma fonte e o cocheiro lentamente desatrelou seus oito cavalos, todos guarnecidos com guizos, e os deixou correr pela mata; a conversa naturalmente girou em torno de cavalos e cães, no que Blum elogiava ambos os cachorros. Finalmente o cocheiro disse que achava que Blum só se gabava, ele deveria dizer aos seus cachorros para ir no mato e buscar os cavalos.