Página:40 anos no interior do Brasil.pdf/96

Wikisource, a biblioteca livre
9


Quadros de uma revolução


“Levem esse cachorro pras estacas!”.

Mãos ágeis agarraram o infeliz espião federalista[1]. que havia se infiltrado sorrateiramente no terreno inimigo. Quatro estacas foram postas no chão, ao sol escaldante, o prisioneiro foi amarrado com tiras de couro cru nos pulsos e tornozelos e ficou com os braços e as pernas estendidos, tanto que seu corpo ficou suspenso alguns centímetros do chão, fazendo com que sua cabeça logo caísse pra trás, enquanto as correias cortavam a pele, sem piedade.

“Quanto tempo esse cara deve ficar pendurado?”

“Deixe-o aí até amanhã cedo, então espero que já esteja morto!”.

As estacas foram a pior tortura empregada nas fronteiras castelhanas durante as guerras revolucionárias e foram adotadas pelos brasileiros.

Anoiteceu. A sentinela andava para lá e para cá e o prisioneiro gemia. Por fim o posto se tornou monótono. Ele verificou novamente as amarras, e como tudo estava em ordem foi para sua tenda. Por que deveria ficar vigiando, se aquele homem não poderia fugir. O vento noturno passava pelo infeliz, as estrelas estavam brilhando como se não soubessem nada a respeito da fera mais cruel, o homem. O prisioneiro perdeu a consciência. E quando acordou depois de algum tempo, se deu conta da horrível situação em que se encontrava. Então agitou violentamente seu corpo jovem e — graças a Deus! — conseguiu puxar seu braço mais para perto, a estaca


  1. O episódio narrado neste capítulo refere-se à Revolução Federalista, revolta ocorrida entre 1893 e 1895 no sul do país. Embora tendo origem no Rio Grande do Sul, estendeu-se para Santa Catarina e Paraná e ficou conhecida pela violência extrema, ao utilizar práticas como a degola dos inimigos. Até onde sabermos Helling não vivenciou diretamente esse acontecimento histórico. (NdH)