Ao vel-as a bella se torna vermelha...
Mirou-as...surriu-se... faz tanto calor!
As tranças do louro cabello desprende,
Que vem nos seus hombros cair-lhe em desdem,
Dos hombros ao colo, do colo... defende
De vistas prefanas bellezas que tem.
Surriu-se: e o branco pesinho
Mui de leve
Mete n'agua, que retrata
Na veia pura, de prata,
Uma perna côr de neve.
Hesita... tenta de novo; ―
Mais se atreve...
A perna entrou na corrente...
Logo a veia transparente
Mostra outra parte de neve.
Sente a bella uma frescura,
E mui breve
Pára, vendo a sua imagem,
Depois n'agua, com coragem
Mete o corpo côr de neve.
Na tona d'agua limpida fluctúa
A trança do cabello,
E vê-se atravez d'elle, à bella núa,
O'corpo branco e bello.
E quanto se não vê, presente-o a idea...
Deseja-se... embriaga...
Ai! quem me dera ser a pura veia
Que esse todo lhe affaga!..
De novo se eleva, sacode essa trança
Que perlas formosas arroja de si,
Ergueu-se das aguas... já fora, descança...
Já nada se occulta... caminha e surri...
Na margem n'um leito de relva macia
A'sombra do olmeiro seu corpo tombou...
Nas faces tem lume... vai calmo este dia!
E o seio da bella mais forte pulsou.
Dos languidos olhos traduz-se um dezejo...
Olhou... viu-se bella... que immenso vulcão!
Tem calma no peito... tem ancia d'um beijo...
Aperta uma sombra... fallece... illusão...
A. Correa.
Como a aurora vem formosa,
Com seus dedos côr de rosa
Desbrochar o manto ao dia
De luz banhar as campinas,
Esmaltadas de boninas;
Vem dar a tudo alegria
Já o sol apresurado,
Vem no seu carro doirado
Animar a natureza!
Faz abrir a linda rosa
Que a mira orgulhosa
Da sua rara belleza!....
Hoje o sol é mais brilhante,
O prado mais verdejante;
Tudo tem nova alegria!
Secaram sustidos prantos,
Hoje só se entoam cantos,
P'ra festejar este dia.
Eu fui colher brancas rosas,
E outras flôrinhas mimosas
Que te queria offertar;
Eis que vejo junto a mim,
Um formoso cherobim,
Em lyra d'oiro tocar!