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A ESTRELLA DO SUL

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mo o seu limpido olhar dava a conhecer um coração puro e uma consciencia justa.

Deve tambem dizer-se que este joven francez fallava inglez na perfeição, como se tivesse vivido muito tempo nos mais britannicos condados do Reino Unido.

Mister Watkins ouvia-o fumando n'um cachimbo comprido, sentado em uma poltrona de madeira, com a perna esquerda estendida sobre um banco de palha, e com o cotovello apoiado em uma mesa tosca, defronte de uma botija de gin e de um copo meio d'esse liquido alcoolico.

Este figurão estava vestido de calça branca, jaqueta de linho azul, camisa de flanella amarellada, sem colete nem gravata. Por debaixo do immenso chapéu de feltro, que parecia aparafusado á sua cabeça já bastante cheia de brancas, arredondava-se um carão vermelhusco e inchado, que alguem dizia injectado com gelea de groselha. Este rosto, tão pouco attrahente, semeado de raras barbicas côr de herva secca, era furado por dois olhinhos pardos, que não respiravam exactamente paciencia nem bondade.

Mas, para desculpa do senhor Watkins, deve dizer-se que o bom do homem soffria horrivelmente de gota, o que o obrigava a ter o pé esquerdo todo enfaixado;—e a gotta, na Africa meridional ou em qualquer outro paiz, nunca teve a ventura de suavisar o genio das pessoas a quem morde as articulações.

A scena passava-se no rez-do-chão da granja de mister Watkins, proximo do 29° grau de latitude ao sul do equador e do 22° grau de longitude a léste do meridiano de Paris, na fronteira occidental do Estado livre do Orange, ao norte da colonia britannica do Cabo, no centro da Africa Austral ou anglo-hollandeza. Este paiz, a que a margem direita do rio Orange serve de limite do lado dos confins meridionaes do grande deserto