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A ESTRELLA DO SUL

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cepção de Cypriano, que embrulhado na manta scismava contemplando as estrellas. Não havia lua, mas scintillava no firmamento uma poeira de astros. A fogueira apagou-se sem o joven engenheiro dar por isso.

Estava pensando nos seus, que com certeza não se lembrariam áquella hora que elle estivesse mettido em similhante aventura em pleno deserto da Africa austral; pensava na encantadora Alice, que talvez estivesse tambem então contemplando as estrellas; pensava emfim em todos que lhe eram caros. E deixando-se levar n'aquelle suave scismar, poetisado pelo grande silencio da planicie, ia a adormecer quando foi despertado por um ruido de ferraduras, por uma agitação estranha que partia do lado onde estavam os bois de tiro para passar a noite. Levantou-se logo.

Cypriano julgou então distinguir na sombra uma forma mais baixa e menos volumosa do que os bois, a qual sem duvida era a causa d'aquella agitação.

Sem comprehender muito bem o que podesse ser, Cypriano agarrou n'um chicote que estava à mão, e dirigiu-se com toda a cautela para o logar indicado.

Não se enganára. Effectivamente entre os bois achava-se um animal inesperado, que lhes tinha vindo perturbar o somno.

Meio acordado, e sem mesmo reflectir no que ía fazer, Cypriano levantou o chicote e atirou á toa uma grande chicotada ao focinho do intruso.

A este ataque respondeu de repente um rugido espantoso!... Era um leão, que acabava de ser tratado como qualquer cãosito pelo joven engenheiro.

Este, mal teve tempo de empunhar um dos revolveres que trazia á cinta e de dar um salto brusco para o lado. O animal pulou para elle, não o alcançou, mas novamente se precipitou sobre o seu braço estendido.