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VIAGENS MARAVILHOSAS

«São horas de arranjar o café!» disse elle comsigo.

E sem mais detença atirou a manta em que estava embrulhado, poz-se a pé, e começou a fazer os seus arranjos de vestuario e limpeza matutina, que nem no deserto nem na cidade esquecia.

«Mas onde estará o Pantalacci?» perguntou elle a si mesmo de repente.

Começava a romper a alvorada, e os objectos já iam sendo menos indistinctos em torno do acampamento.

«E os cavallos tambem aqui não estão! disse comsigo Li. Querem ver que aquelle rico camarada...»

E suspeitando o que acontecêra, correu ás estacas onde na vespera á noite tinha visto os cavallos presos, deu uma volta ao acampamento, e n'um relance convenceu-se de que tinham desapparecido tanto o napolitano como toda a bagagem d'elle.

O caso estava claro.

Um homem da raça branca não teria provavelmente resistido á necessidade muito natural de acordar Cypriano para lhe communicar immediatamente aquella noticia tão grave. Mas o china era homem de raça amarella e pensava que, quando se trata de annunciar uma desgraça, nunca deve haver pressa. Poz-se portanto a arranjar o café com todo o socego.

«Ainda aquelle traste nos fez muito favor em nos deixar ficar as provisões!» repetia elle comsigo.

Depois de ter passado o café, segundo as regras, por um sacco de linho que elle fabricára para esse fim, encheu duas chavenas feitas da casca de um ovo de abestruz, as quaes costumava trazer penduradas de um botão, e depois foi até junto de Cypriano, que continuava dormindo.

— Aqui está o café prompto, paesinho, disse-lhe elle com toda a cortezia tocando-lhe no hombro.