Página:A Estrella do Sul.pdf/249

Wikisource, a biblioteca livre
A ESTRELLA DO SUL

243


E fallava com aquelle tom de voz secco, sobresaltado, proprio dos febricitantes, que não deixava duvida alguma a respeito do seu estado, — o que parece commoveu muito o abestruz.

— Cypriano!... Meu amigo!... Estás doente e sósinho n'este deserto! exclamou elle ajoelhando junto do engenheiro.

Ora isto era um phenomeno physiologico não menos anormal que o dom da palavra nos pernaltos, porque a genuflexão é um movimento de que a natureza ordinariamente os inhibe. Mas Cypriano, no meio da sua febre, persistia em não se admirar. Achou mesmo muito natural que o abestruz pegasse n'um frasco de couro, que trazia debaixo da aza esquerda, cheio de agua fresca cortada com cognac, e lhe pozesse o gargallo á bòca.

A unica cousa que começou a surprehendel-o foi quando o estranho animal se levantou para atirar ao chão uma especie de casca, coberta de pennas, que pareciam ser a sua plumagem natural, e em seguida um grande pescoço tendo na extremidade uma cabeça de ave. E então, despido d'aquelles adornos de emprestimo, o abestruz mostrou-se-lhe com as formas de um rapagão, forte, vigoroso, que era nem mais nem menos do que Pharamundo Barthés, grande caçador perante Deus e os homens.

— Olha, sou eu! exclamou Pharamundo. Então não me conheceste pela voz, quando te disse as primeiras palavras? Estás admirado da minha fatiota? É um ardil de guerra que eu aprendi com os cafres para me poder approximar dos abestruzes e poder mais facilmente atirar-lhes á azagaia!... Mas fallemos de ti, meu pobre amigo!... Porque é que estás aqui doente e abandonado? Foi pelo maior dos acasos que te descobri, por vir vadiar para esta banda, e ignorava mesmo que estivesses n'estas terras!